sábado, 15 de outubro de 2011

Os EUA continuam sem rival (II)


A religião cívica, expressão que vem de Rousseau, não é centrada na alma individual, mas na corporação cívica chamada nação, uma espécie de patriotismo religioso, que tem calendário próprio de rituais e marcadores específicos para as datas memoráveis dos Estados Unidos (duas delas as da Independência, 17 de setembro de 1787, e do Dia de Ação de Graças, comemorado na quinta-feira da quarta semana de novembro).

Importantes para a democracia são os movimentos religiosos de várias correntes protestantes de ação e assistência social e o associativismo praticado por clubes de serviço (que tanto impressionou Antonio Gramsci) promotores de valores e princípios republicanos tais como liberdade, igualdade, fraternidade, democracia e justiça social e de outras práticas idealizadas pelos “founding fathers”, os 74 subscritores da Convenção de Filadélfia em 1787.

Joseph  Nye aponta o desgaste que os Estados Unidos vem sofrendo pelo uso, nos últimos anos, do “hard power”, o poder bruto, a ação militar, para garantir que a globalização seja “americanocêntrica”. O país, segundo esse autor, tem usado pouco seu poder de atração cultural e ideológica (“soft power”).

Em decorrência dos empreendimentos militares, seus elevados custos, perdas de vidas, os Estados Unidos correm o risco de enfraquecimento da religião cívica, risco esse agravado pelo baixo crescimento econômico (PIB de 14,6 trilhões de dólares), balança comercial desfavorável, endividamento externo (13,45 trilhões de dólares) e interno (12,9 trilhões de dólares) em larga escala e tendência à desvalorização do dólar.

Li recentemente que elevado número de negros está deixando de votar e permitindo que o espaço eleitoral maior seja ocupado por brancos, que assim elegem seus representantes de forma majoritária e estabelecem a agenda política. Sendo o voto facultativo, os negros estão se omitindo politicamente, e isso não é bom para a democracia. A eleição de Barack Obama pode ser interpretada como uma tentativa do “establishment” para estimular o eleitorado negro.

Immanuel Wallerstein, investigador da Universidade de Yale, afirma que, durante 200 anos, os Estados Unidos conquistaram considerável quantidade de crédito ideológico, que estão gastando depressa.

Sim, por conta de decisões esdrúxulas em sua política externa, os Estados Unidos vêm sofrendo desgastes. O antiamericanismo tem crescido no mundo inteiro (em detrimento do “soft Power”, e a população, já começa a se impacientar e cobrar mais eficiência nas políticas públicas sociais.  

A secretária de Estado Hilary Clinton começa a falar em reajustar o enfoque da política externa estadunidense para a economia, a exemplo do que fazem alguns países emergentes, numa clara demonstração de que Washington não pode ignorar olimpicamente que a situação econômica dos Estados Unidos compromete seu crédito de liderança.

Nenhum desses problemas mencionados afeta o peso específico dos Estados Unidos. No próximo artigo, mostrarei o tabuleiro político internacional, que ainda apresenta a hegemonia dos Estados Unidos, inconteste, para esse século, mesmo com possíveis adaptações, a médio e longo prazos, no sistema cratológico (unipolar,bipolar,tripolar,multipolar,etc.).

Surgiu no mercado um tipo de brinquedo genial, o neocube, contendo 216 esferas de neodímio (uma liga metálica) magnetizadas, que permite ao manipulador dar as formas que desejar ao objeto, como num passe de mágica. Mas, uma coisa permanece imutável: a força magnética como base do funcionamento desse brinquedo. A certa temperatura (80 graus) ou diante de algum tipo de impacto forte, as esferas se desgarram.

Comparo esse neocube ao sistema de poder mundial, que sempre muda de forma, mas sem perder seu ponto central de estabilidade, no caso atual, os Estados Unidos, que é a principal fonte geradora do magnetismo que une as esferas (250 países), o capitalismo interdependente.




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