terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Roberto Campos e a "astúcia da razão"

Recebo, como muitos internautas, emails contendo graves denúncias sobre a “subjugação nacional” e o “entreguismo” das riquezas brasileiras do solo e subsolo e da plataforma marítima, onde se encontram os preciosos lençóis petrolíferos.

Um desses emails diz respeito à venda ao consórcio chinês, formado pelo Taiyuan Iron and Steel Group, conglomerado financeiro do Citic Group, por 1,95 bilhão de dólares, de 15% da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração - CBMM-, com sede em Araxá (MG). Isso significa ceder 15% da produção de nióbio do País, que atualmente fornecia quase 100% da oferta mundial desse metal, empregado em indústrias de automação, nuclear e de defesa.

As atuais potências dominantes da economia e da política internacionais, de forma insidiosa ou ostensiva, com mais eficiência do que os europeus na África e no Oriente Médio, vão estabelecendo novo regime colonialista no Brasil e outros vizinhos sul-americanos, adquirindo vastas porções de terras em várias regiões e ações de empresas nacionais estratégicas que exploram o solo, o subsolo e a plataforma marítima.

O colonialismo moderno tem como primeiros protagonistas o Reino Unido, a Alemanha, a França, a Bélgica, a Itália, Portugal e Espanha, todos com doutrinas estabelecidas para a partilha das Américas, da África, da Ásia e da Oceania. Depois da segunda guerra mundial, a Rússia, os Estados Unidos e a China se incorporaram com mais vigor ao clube dos mandatários “globais”.

O artifício da “globalização” é o neo-colonialismo, mais sutil e mais eficiente, dividindo o mundo em globalizadores (os que detêm maior poder econômico, tecnológico e militar) e globalizados, substituindo a priorização da política da força pela força da política econômica, financeira e comercial, os Estados Unidos liderando e os outros dois com pretensões de usurpar essa liderança mundial.

No caso do Brasil, colonizado por Portugal, teve o escravismo como um dos mecanismos de “subjugação nacional”. Seu processo de industrialização, para substituição das importações, a partir do Governo Vargas, e a internacionalização posterior da economia ocorreram em completa dependência do capital estrangeiro majoritário, dependência essa que se aprofunda cada vez mais.

Pode haver “razões de Estado” por trás da venda do nióbio ao conglomerado chinês, assim como vem ocorrendo com o fatiamento do “pré-sal”. A Presidente Dilma fez carreira na área energética, e seu conhecimento nesse setor foi seu passaporte para o cargo que ocupa hoje. O Brasil depende visceralmente do comércio com a China para manter sua economia atual (vide artigo do professor Adriano Benayon abaixo).

A “teoria da dependência”, tão decantada pelos sociais-democratas, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, constitui-se verdadeiramente numa “subjugação” sublimada, pois o pressuposto de que entre dominador e dominado existe uma dependência mútua é muito conveniente para a psiquiatria, não para a política.

O petróleo continua sendo a matéria-prima sensível e a tecnologia nuclear a arma letal – dois argumentos para o próximo grande embate mundial, que, se vier a ocorrer, poderá acarretar verdadeira catástrofe para a humanidade, em termos ambientais e de perdas de vida.

Se vivo estivesse, Roberto Campos bradaria que os “tupiniquins” querem manter intactas suas riquezas em detrimento do desenvolvimento e da modernização. Cada país oferece o que tem na banca de negociações. Era a visão de um liberal radical e coerente. Ele tinha as suas razões... Mas, kantiana, indago: ”Onde está a astúcia da razão do Brasil atual?” Falta-nos um Roberto Campos para responder.





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