A
engenharia da coalizão de governo atual no Brasil levará o PMDB, partido que é a espinha dorsal desse modelo, a presidir a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal,no próximo período legislativo, a se iniciar em janeiro
de 2013 e se encerrar em janeiro de 2015. Nesse momento,nove entre dez observadores do Congresso Nacional apostam nessa dobradinha,independentemente do resultado do segundo turno das eleições municipais.
O
clima parlamentart é favorável à Presidente Dilma Rousseff, pelo PT, e
ao seu vice Michel Temer, do PMDB, para manterem a mesma chapa e disputarem a
reeleição em 2014, e para que isso aconteça se
apoiarão numa sólida maioria parlamentar, garantida pela eleição do senador Renan Calheiros(PMDB-AL),à Presidência do
Senado, e do deputado Henrique Eduardo Alves(PMDB-RN),à Presidência da Câmara
dos Deputados.
Além
da Presidente Dilma, esse esquema contaria com a aprovação dos ex-presidentes
Lula, Fernando Collor e José Sarney (atual presidente do Congresso Nacional,
que já manifestou sua intenção de não disputar mais nenhuma eleição). Com
respaldo nas vitórias obtidas nesse primeiro turno, PMDB e PT fazem a base da
coalizão quase que sem oposição significativa, mas seria uma ilusão considerar
que há uma trégua em curso. Dentro dos dois partidos há vaidades e invejas em
fermentação.
É
a guerra intestina pelo poder, que tende a se ampliar nas próximas décadas,
como espécie de subproduto da coalizão, por mais funcional que esta seja, a ponto
de servir de inspiração para vários países, embora
criticada por figuras expoentes, entre as quais o presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, que admite coalizões temporárias,mas
não permanentes, por servirem,conforme acredita, de biombo para corrupções e
desvirtuamentos das ideologias republicana e democrática.
O
experiente e falecido senador Magalhães Pinto dizia que a política, à semelhança
das nuvens, muda de forma a todo instante, mas essa observação parece que não é
levada em consideração pelos estrategistas da coalizão, mesmo diante da grande
possibilidade de que o candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, ex-ministro
da Educação, lançado por Lula,vença o candidato do PSDB,José Serra, transformando-se
em figura presidenciável do PT, pela importância do orçamento paulista,maior
que o PIB de vários países: Cerca de 36 bilhões de reais.
Naturalmente,
há lideranças petistas de dentro e de fora de São Paulo que estão torcendo
silenciosamente para que Fernando Haddad perca a eleição, pois assim terão um
concorrente a menos ao Palácio do Planalto. Nem tanto por ambição pessoal, mas
pela oportunidade que recebeu de Lula , Haddad entrou no jogo pesado da
política apoiado,inclusive, pelo ex-prefeito Paulo Maluf,ainda um fenômeno
eleitoral na capital paulista.
O
cargo de prefeito de São Paulo, por força da tradição política brasileira,
projeta seu titular nacionalmente, e o mais recente exemplo é o do prefeito
atual, Gilberto Kassab, até então ilustre desconhecido, que teve uma pálida
administração, mas conseguiu a proeza de inventar o Partido Social Democrático -
PSD -, que, em menos de dois anos, se transformou na quarta força eleitoral do
País, conquistando, no primeiro turno dessas eleições municipais, 492 prefeitos
e 4.601 vereadores.
Uma
incógnita a ser considerada é a participação do PMDB do Rio de Janeiro nessa
coalizão, com a demonstração de força dada pelo governador Sérgio Cabral e pelo
prefeito Eduardo Paes,que se reelegeu em primeiro turno com votação esmagadora.
Embora necessitem do apoio do Palácio do Planalto para organizar os eventos da
Copa do Mundo e das Olimpíadas, são atores que pesam muito no jogo decisório,
confrontando-se com o poder paulista no controle da política nacional. Prova
disto é Paes afirmando que o apoio do PMDB a Haddad é natural, e o
vice-presidente Temer afirmando que não é natural. Uma casual troca de chumbo
ou prenúncio de futuros embates?
Presenciei, hoje,no Plenário do Senado Federal,sessão solene em homenagem ao falecido deputado Ulysses Guimarães,ícone do PMDB. Dois dos oradores foram o vice-presidente da República,Michel Temer, e o presidente do Senado Federal, José Sarney, que exaltaram o talento e a presença de Ulysses na articulação política e o legado que deixou à legenda. Sentados, lado a lado, à Mesa estavam o senador Renan Calheiros e o deputado Henrique Eduardo Alves. Enfim, uma demonstração do PMDB de que está unido na terra,sob as bençãos celestiais de Ulysses Guimarães...
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