quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Classe média continua como pedra angular da governabilidade no Brasil


É uma constatação da Politologia (ou Ciência Política) que a classe média, em qualquer país  de modelo capitalista, é a pedra angular da governabilidade, bastando aos donos do poder saberem conquistar e manterem seu apoio. É essa classe que decide as eleições e estimula a competição entre os principais partidos políticos.

Trocando ideias com alguns colegas jornalistas e cientistas políticos, solicitei-lhes que resumissem a equação do poder atual no Brasil, da coalizão de governo liderada pelo Partido dos Trabalhadores –PT- e Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB-, e eles assim resumiram: O governo tira com impostos escorchantes da classe média, deixa os empresários à vontade para ampliarem seus lucros e dá assistência aos pobres.

Ponderei, inutilmente, que nem todos os empresários estão com a vida fácil. O setor industrial, principalmente, tem sofrido muitos revezes, por conta  de transformações na composição do seu perfil(internacionalização), da maior presença de importados e  do crescimento dos demais setores, ficando bem atrás dos agronegócios e do setor de serviços. A sua participação na geração de empregos caiu, de 21,1%, em 2002, para 11,2%, em 2011, enquanto, no mesmo período, a participação dos serviços subiu de 37,5% para 50,2%, segundo pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Quanto ao número de tributos, abrangendo impostos, taxas, contribuições, empréstimos compulsórios e royalties, totalizando cerca de 85 modalidades, o Brasil é um dos campeões mundiais, embora as estatísticas sejam variáveis em face da regulamentação e extinção de alguns, em níveis federal, estadual e municipal. A desoneração da folha de pagamento de vários setores industriais ocorreria sem pressões do capital internacional investido nas indústrias? Penso que não, e certamente provocará mais aumento nos impostos, ficando a conta para a classe média brasileira.

Mas, que classe média brasileira é esta, que tem sustentado eleitoralmente o Governo, apesar de tão sacrificada? Segundo dados oficiais da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, são 104 milhões de brasileiros -53% da população -, que movimentam um trilhão de reais por ano. Têm uma renda per capita que varia entre 291 reais a 1019 reais – renda superior a de 54% da população mundial. De 2003 a 2011, foram 40 milhões de pessoas incorporadas à tal classe média, em níveis A,B e C.

Em 2002, o Brasil tinha 115,2 milhões de eleitores, e hoje tem cerca de 135,8 milhões ( um acréscimo de 20,6 milhões),  em grande parte integrantes da nova classe média e número suficiente para dar sustentação à reeleição de Dilma, com apoio do ex-presidente Lula.

Nesta sociologia do voto, é um equívoco afirmar que a sustentação do Partido dos Trabalhadores vem dos pobres. Ela vem, de fato, dos beneficiados pelos projetos assistencialistas do governo, mas, que não se consideram mais pobres e assumem o comportamento de classe média, com suas ideias, necessidades, reivindicações e seus interesses, etc.

O historiador norte-americano Francis Fukuyama, comentando os protestos de junho no Brasil, identificou essa nova classe média, acreditando que ela se forma desvencilhada do Estado, base para a corrupção e o clientelismo.

Creio que ele estava jogando para a plateia (PT) com tal afirmação, porque o Estado brasileiro continua sendo o grande maestro e alvo de quase todos os jovens que sonham em ter emprego, estabilidade e bom salário. O Estado antecede à Sociedade no Brasil, desde a sua formação, conforme acentuava Afonso Arinos, e não há possibilidade de que ele (o Estado) venha a deixar de ser o protagonista em todas as esferas ou expressões do poder nacional, por mais globalizadas que sejam as nações.

Resumindo: No Brasil, manda quem tem a caneta e o Diário Oficial, com poder de nomear ou demitir, prender ou soltar, conforme a sabedoria política herdada de Portugal, desde os tempos coloniais. É assim que, mesmo espoliada, a classe média brasileira jamais deixará de apoiar o governo que saiba seduzi-la.

 

 

 

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