Paulo
Metri ( Conselheiro do Clube de Engenharia)
Ela
começou a ser aberta em 1995, no momento em que o presidente FHC forçou a
mudança do Artigo 177 da Constituição, o que significou, de fato, a extinção do
monopólio estatal do petróleo. Tratou-se de uma mudança constitucional com
redação dúbia, tanto que ganhou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin)
colocada pelo então governador Requião.
A
pergunta que as pessoas expostas à questão fazem é o por que de ser preciso
fazer uma mudança constitucional dúbia. A explicação é simples: para não se
chocar a opinião pública, pois, se a sociedade fosse consultada, certamente
iria negar a permissão para o término do monopólio estatal. Então, era preciso
dar a impressão de que o monopólio continuaria existindo, enquanto as empresas
petrolíferas estrangeiras entravam no país. Desta forma, foi preciso usar um
texto aparentemente lógico para se conseguir ludibriar. O ministro do Supremo
Eros Grau, ao proferir seu parecer sobre esta Adin, utilizou grande malabarismo
argumentativo.
No
entanto, apesar de a Adin ter sido negada pela composição de ministros do STF
da época, uma dúvida ainda persiste. Como pode um monopólio estar determinado
no Artigo 177, mesmo após a modificação, e existirem dezenas de empresas
atuando no setor no Brasil? Mas, enfrentando a realidade, temos que a Caixa de
Pandora foi aberta e os três governantes, que se sucederam desde então, já
entregaram mais de 900 áreas do território nacional. Em menos da metade destas
áreas, a Petrobras tem alguma participação. Em todas estas áreas, exceto uma, quem
descobre o petróleo tem a sua posse e só precisa pagar alguns tributos em
dinheiro.
Apesar
de correr o risco de cansar o leitor, analiso de maneira exaustiva a atuação
das empresas estrangeiras em comparação com a Petrobras, porque o tema é
relevante. Elas não compram plataformas no Brasil, quase não empregam
nacionais, não contratam engenharia no país, não encomendam desenvolvimentos
tecnológicos aqui, têm menos preocupação com relação à segurança das
instalações e dos que nelas trabalham. E, com relação à proteção ao meio
ambiente, podem produzir de forma predatória e não se dispõem a executar
políticas públicas. Enfim, só vêm para cá para levar, no tempo mais rápido
possível, o petróleo nacional e deixar aqui só os tributos que são exigidos.
Em
torno de 10% do petróleo brasileiro já auditado, cerca de 17 bilhões de barris,
não pertencem mais ao Brasil e, sim, a empresas estrangeiras, que irão levá-los
para o exterior, assim que forem retirados do subsolo. Nenhuma das empresas
estrangeiras quer abastecer o país, à medida que nenhuma delas constrói
refinaria aqui. Técnicos afirmam que a Petrobras já descobriu, no pré-sal, 60
bilhões de barris, que ainda não foram auditados. Contudo, ela não está sozinha
na maioria destes campos. Por exemplo, em Carioca, ela detém só 45% do campo e,
em Iara, só 65%. Estima-se que 40% das descobertas feitas pela Petrobras no
pré-sal, em torno de 24 bilhões de barris, também não pertencem mais ao Brasil.
No
entanto, a caixa de maldades de Pandora não tem só estas desgraças. Os
possíveis danos causados pelas empresas estrangeiras, que atuam no mundo todo,
são ainda maiores. Para tanto, basta ver o “curriculum vitae” destas empresas
no último século. Já mantiveram governos corruptos, depuseram outros que não
satisfizeram seus interesses, financiaram ditaduras opressoras de povos, foram
responsáveis por guerras civis dentro de países, como, na Nigéria, com um
milhão de mortos e, no Sudão, com um e meio milhão de mortos. Elas nunca
tiveram compromisso algum com as sociedades dos países onde atuaram, produziram
petróleo com pouca preocupação com a segurança, de forma a minimizar os custos,
porém causando, muitas vezes, catástrofes ambientais e sociais.
O
passado nada glorioso delas na Nigéria, no Gabão, no Sudão, na Líbia, no
Iraque, no Irã, na Arábia Saudita, no Cáucaso, na Ásia Central, na Venezuela e
em outros países e regiões, além da tentativa de se apropriar do petróleo
russo, é contado em detalhes, com depoimentos de conhecedores dos fatos, em
quatro vídeos da série intitulada: “O Segredo das Sete Irmãs – A Vergonhosa
História do Petróleo”. Eles podem ser encontrados em mais de um site na
internet, como, por exemplo, em: http://www.youtube.com/watch?v=jQYK3ttfVaw&list=PL65E3B3A3DC9AEBD0&index=1
Os
responsáveis pelos vídeos são Frédéric Tonolli e Arnaud Hamelin. Cada vídeo é
de aproximadamente 50 minutos, mas vale a pena assistir, até mesmo para se
conhecer a caixa de Pandora que foi aberta, aos poucos, no Brasil, desde 1995.
Hoje, já estão aqui todas as empresas citadas nos vídeos, como Chevron, Exxon,
Shell, BP, Total, as chinesas e outras.
Porém,
o tempo é outro e o Brasil está, hoje, em um estágio de desenvolvimento
político diferente da maioria destes países. Mas o método para obtenção de
petróleo e lucro destas empresas não mudou. Certamente, elas atuam em cartel e
com seus países de origem dando total apoio às suas pretensões, o que inclui as
mais baixas pressões. Não me espantaria ao ser informado que elas chegam a
“capturar” órgãos do Estado brasileiro.
No
entanto, grandes inocentes, existentes na imprensa de esquerda, acreditam na
concorrência perfeita entre estas empresas e nas boas intenções das mesmas,
como investir com máxima segurança para evitar acidentes e danos ambientais,
mesmo que isto diminua o lucro. Ou a boa intenção de retirar o petróleo de um
campo à taxa máxima de recuperação do petróleo, mesmo que esta taxa signifique
redução da lucratividade.
Blog
do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br/
ADENDO: POR ADRIANO BENAYON( Doutor em Economia e Professor da Universidade de Brasília)
"Caro
Paulo Metri,
Parabéns
por mais esta meritória contribuição sua ao esclarecimento de nossos
compatriotas sobre a vital e estratégica questão do petróleo.
Trata-se
de uma das principais áreas em que o Brasil está sendo lesado não só em termos
quantificáveis monetariamente e materialmente, mas também quanto à perda de sua
condição de nação autônoma.
Juntamente,
com seu fator desencadeador, a entrega graciosa e subsidiada do mercado
brasileiro às empresas transnacionais - iniciada a partir do golpe de agosto de
1954 e que desembocou, ademais, na dívida pública e seu espoliador serviço
(juros e amortizações) – a entrega do petróleo acarreta prejuízos colossais ao
País.
Em
resumo, três fontes de saqueio operando
simultaneamente:
1) a
extração, por quase nada, de recursos
minerais de valor incalculável;
2) os
preços de oligopólios/carteis, cujo lucro é objeto de transferência para o
exterior, sob 15 formas diferentes em contas do balanço de pagamentos [lucro
esse avolumado ainda mais pela continuidade dos subsídios governamentais nos
três níveis da Federação];
3) o
serviço da dívida, responsável em 2012 por
44% das despesas da União federal.
Essas
são algumas das seqüelas da desnacionalização, causa também da
desindustrialização e da primarização tanto na produção econômica como na
consciência de tanta gente submetida à enganação acadêmica, midiática, que
busca perenizar a reversão a algo pior que a condição colonial, apassivando e
intoxicando os brasileiros, não só com os químicos nos alimentos e nos
“remédios”, mas com a desinformação, a descaracterização cultural e a estupidez
ideológica.
É
interessante notar que, apenas um ano após a instituição do monopólio estatal
do petróleo (1953), a oligarquia financeira angloamericana conseguiu dar a
partida para a destruição dele, através do golpe de 1954, iniciando com a
Instrução 113 da SUMOC (janeiro de 1955),
a entrega da economia nacional às empresas transnacionais, incrivelmente
com a ajuda e os subsídios do governo brasileiro, que, assim, pagou para fazer
essa entrega.
Demorou
um tanto, mas o próprio monopólio estatal do petróleo soçobrou como
consequência natural do debilitamento do País ao longo dos 43 anos decorridos
de 1954 a 1977.
E hoje
não é só o monopólio do petróleo que está quebrado, mas também o próprio
Estado, o qual, nos últimos decênios, se
demitiu de todas as funções que deve ter um Estado minimamente interessado no
desenvolvimento nacional."
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