O
quadro das eleições presidenciais de outubro próximo no Brasil ganha fato novo
portador de futuro - como se diz em planejamento político-estratégico – com a
pré-candidatura do deputado federal Ronaldo Caiado, do partido Democratas – DEM
-, do Estado de Goiás. O novo candidato tem reduzidas chances de ser eleito,
mas são profundas e múltiplas as implicações políticas de sua candidatura, que,
em primeira análise, blinda o status quo neoliberal
vigente, fazendo parte de uma engenharia de poder sofisticada.
Ronaldo
Caiado, atual líder do DEM na Câmara dos Deputados, 66 anos, médico
ortopedista, lançou sua pré-candidatura à Presidência da República, em
solenidade na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará, com um
discurso que pode tirar muitos votos da Presidente Dilma Roussseff, que tentará
sua reeleição pela coligação Partido do Movimento Democrático Brasileiro- PMDB -
e Partido dos Trabalhadores - PT.
Mas,
o discurso de Caiado pode se classificar como de oposição endógena, porque
reforça as linhas mestras da doutrina liberal conservadora. Daí que a missão do
jovem candidato possa ser a de restaurar o Democratas – talvez mais à frente
com outro nome- como espinha dorsal do Liberalismo no Brasil, em face do
esgotamento da estratégia diversionista dos centros de poder neoliberais internacionais de utilizar as esquerdas
socialistas na defesa dos seus interesses, o que tem acontecido no Brasil nos
últimos anos, em especial nos Governos Fernando Henrique Cardoso (com breve
hiato no Governo Itamar Franco), Lula e Dilma Rousseff.
Essa
diversionista estratégia neoliberal corresponde aos truques dos comunistas ou
socialistas utópicos, entre os quais Stálin, que promoviam o Socialismo Fabiano,
reformador, para encobrir eventuais esgotamentos da linha radical, como tem
acontecido atualmente com o PT no Brasil, processo de esgotamento acelerado
pelo “Mensalão”.
O
efeito Caiado imediato visado, portanto, seria a revitalização do Democratas, o
partido programaticamente liberal, que foi engolido pelo arco das alianças
ideologicamente socialistas de esquerda e centro-esquerda, –PT,PSDB e PMDB em especial -, que capturaram
o poder implantando um modelo
essencialmente neoliberal e submisso aos
interesses do capital externo, com o desmonte de setores estratégicos do Estado
brasileiro.
Um
projeto com horizonte de 70 anos, que, a princípio, teve o próprio Democratas
como coadjuvante, quando, no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, a
vice-presidência da República foi exercida pelo então senador pernambucano
Marco Maciel.
Com
a eleição de Lula, Democratas juntou-se ao PSDB na oposição, mas, desde então,
foi perdendo espaço até ficar reduzido hoje a 26 deputados federais, quatro
senadores, 57 deputados estaduais, 227 prefeitos, entre os quais o prefeito de
Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, 3.271 vereadores e a governadora
Rosalba Ciarlini, do Estado do Rio Grande do Norte.
Mas,
outros eventos poderão ser gerados por esse fato portador de futuro, que é a
candidatura de Ronaldo Caiado: A capitalização da insatisfação de uma parte da
população conservadora com os rumos do País, diante das mudanças introduzidas
pelo PT, baseadas num assistencialismo eleitoreiro pouco distributivista, em
termos de justiça social; a aplicação de vultosos recursos financeiros na Copa
do Mundo e na ajuda a países vizinhos e Cuba, em detrimento de setores carentes
de investimentos do País; o crescimento da inflação e o crescente endividamento interno e externo do
País.
Em
termos de sociologia política brasileira, Ronaldo Caiado restabelece a dimensão
do poder real da família no estado, abrindo caminho para uma geração de jovens
empresários da família com aspirações de mando em Goiás, onde os governantes,
desde a mudança da capital de Goiás Velho para Goiânia, promovida por Pedro
Ludovico, têm tido outras famílias e grupos menos expressivos como tributários.
Os Caiado retomam sua força política disputando a Presidência da República, fato
inédito na história de Goiás, que sempre respeitou o pacto do poder excluindo
esse estado da disputa sucessória. Eis um viés rebelde do jovem político...
Nascido
em Anápolis, Ronaldo Caiado ingressou na política como líder da União Democrática
Ruralista UDR-, de 1986 a 1989; pertence a uma das mais tradicionais famílias
brasileiras e goianas, sendo filho do advogado Edenval Ramos Caiado e neto de
Antonio Ramos Caiado, o “Totó” Caiado, ex-deputado e senador, precursor político do
clã e opositor de Getúlio Vargas, que o derrotou, em 1930, apoiando seu
adversário Pedro Ludovico. Foram 30 anos de absoluto mando de “Totó Caiado”.
Na Assembleia Nacional Constituinte, Caiado,
pela UDR, interagia com grande desenvoltura com os parlamentares da bancada
ruralista no Congresso Nacional, tendo exercido influência na redação de vários
dispositivos constitucionais vigentes.
Como
deputado federal, foi autor de iniciativas para a educação e a saúde, entre as
quais a emenda que garantiu a divisão de royalties do petróleo entre os dois setores;
combate o excesso de carga tributária do Governo Dilma, em contraposição aos
gastos oficiais, que considera exorbitantes; propõe medidas para evitar a
proliferação de partidos e quer um novo
modelo de gestão que enfatize o direito à propriedade privada, o
fortalecimento das funções do Estado com
estímulo à iniciativa privada e regras claras sobre as licitações e
privatizações. Tem denunciado a dívida interna brasileira – acima de 300
bilhões de reais- e a gestão que considera deficitária de empresas estatais,
entre as quais a Petrobrás.
Há
outro componente na disposição de Ronaldo Caiado para essa disputa sucessória:
A mágoa de ter sido ludibriado por Marina Silva e Eduardo Campos, no momento em
que negociava apoio do DEM ao governador de Pernambuco e nome cotado para uma
chapa presidencial pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB-. Quem conhece
Ronaldo Caiado, sabe que ele não desistirá da vingança...
Concluindo:
Caiado não vem para fazer oposição, mas, sim, para garantir o modelo neoliberal
vigente, ocupando espaços estratégicos na representação político-partidária,
contra eventuais riscos reais de entropia no atual sistema
político-institucional. Os riscos de
surgimento do “Encoberto”...
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