Adriano Benayon *
É hora de abrir o olho. Estamos, no Brasil e no
Mundo, em situação especialmente perigosa, de que há copiosas manifestações,
cujas causas são sistematicamente ocultadas, pois, os que estão por
trás delas querem operar despercebidos.
2. As potências hegemônicas, suas associadas e
satélites seguem em depressão econômica, com aspectos mais perversos que os
da iniciada em 1930 e que só terminou, em 1943, nos EUA - com a
mobilização de dezenas de milhões de combatentes na Segunda Guerra Mundial,
mais os vultosos investimentos para produzir armas. Na Europa e na Ásia, a
depressão foi substituída pela devastação.
3. A terrível Guerra de 1939 a 1945 não foi
desencadeada para acabar com a depressão, pois sempre os móveis são obter mais
poder, arruinar potências vistas como rivais e desviar o foco dos reais
problemas sociais e econômicos.
4. Agora, desde a contra-revolução liberal dos anos
80, a financeirização e a concentração do poder econômico e da renda deram
grandes saltos, enquanto decai o patrimônio e a renda real, no caso da grande
maioria dos que trabalham e no da crescente massa dos desempregados.
5. Essa iniquidade jamais poderia ser tolerada sob
sistemas democráticos. Assim, quase nada resta do pouco de democracia, antes
presente nos sistemas políticos representativos, hoje mera embalagem, com
rótulo falso, de um sistema tirânico, que investe massivamente em
contracultura, desinformação e alienação, há mais de século.
6. Assim, institucionalizou-se a
mentira, e a verdade é reprimida através de instrumentos totalitários,
radicalizados desde os ataques 11.09.2001.
7. O terrorismo de Estado dirige-se contra os
cidadãos e é usado para marquetar, como justas, agressões militares
genocidas contra países alvos da geopolítica da oligarquia angloamericana: Afeganistão,
Iraque, Somália e Líbia.
8. Além disso, EUA, Reino Unido, Israel e satélites
têm intervindo em numerosos países com golpes e pretensas revoluções suscitadas
por serviços secretos, mercenários e organizações terroristas. Síria e Ucrânia
são alvos preferenciais dessas agressões, sem falar nas permanentes pressões e
falsas acusações contra o Irã.
9. O prelúdio da Segunda Guerra Mundial, nos anos
30, também apresentou invasões e conflitos localizados, e a ascensão de regimes
fascistas (Itália, Alemanha e Japão), além de na Espanha, após sangrenta guerra
civil, de 1936 a 1939, com participação de forças militares estrangeiras.
10. No presente, a depressão econômica prossegue,
bem como suas trágicas consequências sociais. A oligarquia financeira está cada
vez mais concentrada e tem cada vez mais poder sobre os governos – à exceção
dos demonizados, por não se submeterem - pela mídia e pelas demais
instituições formadoras de opinião.
11. A oligarquia não deseja acabar com a depressão
- tarefa fácil, se fosse decidida – e visa concentrar mais poder e tornar
irreversível o controle totalitário sobre o Planeta, seus recursos e
habitantes. Isso envolve desumanizar os seres humanos, inclusive acabando
com as sociedades nacionais.
12. As soluções para recuperar a economia podem ser
entendidas por qualquer pessoa sensata, não bitolada por lugares comuns
disseminados pelos economistas mais renomados (justamente por agradarem a
oligarquia).
13. A depressão dos anos 30, explodiu com
violência, notadamente na Alemanha, exaurida pelas reparações da 1ª Guerra
Mundial. Ali o desemprego atingiu 6 milhões em março de 1932.
14. Economistas competentes, como Lautenbach, alto
funcionário do ministério da economia, mostraram o caminho correto, apoiado
pela federação das indústrias, semelhante ao plano de Woytinski, sustentado por
sindicatos de trabalhadores.
15. Em 1931, Lautenbach apresentou o
memorandum “Possibilidades para reviver a atividade econômica, através do
investimento e da expansão do crédito”. Afirmou:
“O curso para superar a emergência econômica e
financeira não é limitar a atividade econômica, mas aumentá-la, porque o
mercado não mais funciona nas condições de depressão e crise monetária
mundial.”
“Neste momento, temos situação paradoxal, na
qual, apesar dos cortes extraordinários na produção, a procura ainda está
defasada em relação à oferta. Assim, temos excedentes crônicos da produção, com
os quais não sabemos lidar. Encontrar algum modo de transformar esses
excedentes em valor real é o problema real e o mais urgente da política
econômica.”
“Excedentes de bens físicos, capacidade
não-utilizada dos equipamentos produtivos e força de trabalho não-aproveitada
podem ser aplicados para satisfazer uma nova necessidade, a qual, do
ponto de vista econômico, representa investimento de capital. Podemos conceber
tarefas como obras públicas, ou obras realizadas com apoio público - que para a
economia significariam aumento da riqueza nacional - e que teriam de ser
feitas de qualquer modo, quando se voltasse a ter condições normais (construção
de estradas, expansão do sistema ferroviário, melhoramentos na infra-estrutura,
etc.)”
“Com tal política de crédito e investimentos, será
remediado o desequilíbrio entre a oferta e a procura no mercado interno, e toda
a produção terá ganhado direção e objetivo. Se, todavia, deixarmos de instituir
tal política, estaremos encaminhados para inevitável e continuado colapso e
para a completa destruição da economia nacional, levando-nos a uma situação que
nos forçará, para evitar uma catástrofe, a assumir dívidas de curto prazo
meramente para fins de consumo; enquanto que hoje, está ainda em nosso poder
obter esse crédito para fins produtivos e, assim, recolocar em equilíbrio tanto
a economia como as finanças públicas.”
16. Woytinski recomendou explorar oportunidades de
complementar as iniciativas das empresas privadas com a criação de empregos, através
de investimentos públicos. Propôs, ainda, a liberação de fundos, via políticas
de expansão monetária para a reconstrução da Europa.
17. Em janeiro de 1932 foi apresentado o plano de
criação de empregos WTB (Woytinski, Tarnow e Baade) para criar 1 milhão de
novos empregos, com investimentos financiados por créditos de longo
prazo, a juros baixos, pela Reichskredit AG, descontáveis no Reichsbank.
18. A Confederação Geral dos Trabalhadores Alemães
aprovou esse plano, recusado, entretanto, conforme o parecer dos “peritos
economistas” Hilferding, Naphtali e Bauer, pelo Partido Social-Democrata..
19. Schäffer, secretário de Estado do
ministério das Finanças, apoiou o plano de Lautenbach. Moção similar
partiu de Wagemann, chefe do Escritório Nacional de Estatísticas,
que, em janeiro de 1932, publicou seu plano, que incluía emitir 3 bilhões
de reichsmarks para criar empregos.
20. Nada disso foi adiante, pois não interessava à
oligarquia angloamericana. Esta armava a subida de Hitler ao poder, mesmo tendo
os nazistas perdido 2 milhões de votos nas eleições de 6.11.1932.
21. Após essas eleições, o presidente, marechal
Hindenburg, nomeou chanceler o chefe do Estado-Maior, general von Schleicher,
que propunha pôr em execução as políticas recomendadas por Lautenbach,
Woytinski e Schäffer, e apoiadas por entidades de classe patronais e dos
trabalhadores.
22. A oligarquia financeira tratou de evitar que
von Schleicher sequer as iniciasse, minando-lhe a sustentação política,
enquanto conspirava na chantagem junto ao marechal-presidente para nomear
Hitler, consumada em 30.01.1933.
23. O objetivo era a Segunda Guerra Mundial, pois
Hitler anunciara no “Mein Kampf” seu desígnio de atacar a União Soviética.
Finalidade: empregos e recuperação econômica só mediante a mobilização para a
guerra, que destruiria mutuamente Alemanha e Rússia.
24. Hoje, o Estado é enfraquecido como agente de
desenvolvimento econômico e social. Ele serve, nos países-sede da
oligarquia, para erguer enormes arsenais de armas destrutivas e hipertrofiar
órgãos de repressão, serviços secretos e meios tecnológicos de
desinformar.
25. Nos países periféricos, como o Brasil, o
Estado, empobrecido pelo serviço da dívida e pelas privatizações, funciona para
arrecadar recursos para a dívida e subsidiar empresas transnacionais.
26. Com a política econômica dominada pela
oligarquia financeira, a concentração não cessa de crescer. No
trabalho The Network of Global Corporate Control, publicado em 2011, os matemáticos suíços, Vitali, Glattfelder e Battiston, demonstraram a
interligação das corporações econômicas e financeiras por laços diretos e
indiretos de propriedade.
27. Com dados sobre 43.000 transnacionais (ETNs),
chegaram a 1.300 maiores companhias com fortes elos entre si, núcleo refinado
para um de só 737 companhias, que controlam 80% das 43.000. Mais
elaboração permitiu chegar a 147, detentoras da propriedade quase total sobre
si mesmas, mais 40% das 43.000.
28. As 147 são basicamente
controladas por somente 50, das quais 48 são financeiras. Apenas duas
envolvem-se diretamente com a economia real (Walmart e China Petrochemical
Group).
29. Susan George, do Transnational Institute,
Amsterdam, conclui: “Nossos problemas originam-se do 0,1%, na verdade do
0,001%.” Mas essa fração não retrata a dimensão infinitesimal, em relação à
população da Terra, da minoria que concentra o poder econômico, financeiro e
político.
30. De fato, existe hierarquia entre os donos das
companhias mais poderosas, e, entre esses, muito poucos exercem comando sobre
bancos centrais, instituições financeiras multilaterais e mercados financeiros.
31. George aponta as interligações entre a finança
e as corporações de petróleo e gás, e seus vínculos com a indústria
automotiva, gastadora de combustíveis fósseis.
32. O poder dos concentradores financeiros
manifesta-se, inclusive, pelo fato de o 1% do topo pagar percentual
de tributos inferior ao de qualquer época desde os anos 20, apesar da enorme
elevação de seus ganhos e de seu patrimônio nos últimos 35 anos.
33. Mais: dezenas de trilhões de dólares/euros das
emissões dos bancos centrais e das receitas tributárias foram usados para
salvar da bancarrota instituições financeiras cujos controladores e executivos
haviam lucrado dezenas de trilhões com jogadas financeiras, em operações
alavancadas, sobre tudo com o quatrilhão de derivativos criados a impulsos de
chips, antes do colapso de 2007/2008.
34. Pior: o dinheiro posto nos bancos é
aplicado em novas especulações, criando novas bolhas, prestes a estourar. A
conta fica para os cidadãos dos países endividados, inclusive dos EUA, e maior
para os dos menos privilegiados que não podem emitir dólares.
35. No Brasil, recordista mundial de juros altos,
só dois bancos, Itaú e Bradesco registraram R$ 28 bilhões de lucros em 2013.
* - Adriano Benayon é doutor em
economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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