Inimigos da democracia fazem
piadas, nas redes sociais, com o incidente ocorrido com Vitaly Zhuravsky, um
ex-membro do partido do presidente deposto Viktor Yanukovich, da Ucrânia, lançado
por manifestantes dentro de uma caçamba de lixo. Sugerem que se faça o mesmo
com políticos brasileiros.
Se a Ucrânia vive momentos
dramáticos, pressionada pela Rússia, pela sua posição separatista, talvez essa
manifestação contra um representante popular seja produto de uma neurose
coletiva, de um povo que não encontra caminhos legais e legítimos para implementar
suas aspirações, seus interesses e soluções para suas necessidades.
O lançamento do parlamentar
dentro de uma caçamba de lixo viola os direitos humanos individuais e os
próprios direitos daqueles que depositaram sua confiança, através de seu voto,
na pessoa do seu representante político. Se há disposição de se livrarem do mau
representante, que o façam pela via normativa e constitucional do recall ou do voto destituinte,
mecanismos da democracia direta. Para isto, devem mudar suas leis.
A doença da politicofobia parece
que se alastra pelo mundo inteiro, colocando em risco as instituições democráticas e a própria liberdade. O sistema
representativo, instituição secular, vem sendo desqualificado em forma e
conteúdo abrindo espaço para os esquemas golpistas e autoritários.
Aqui mesmo no Brasil, nas
violentas manifestações de rua do ano passado, havia um clamor popular contra
os políticos e os partidos, uma espécie de pré-anarquia em prol da supressão do
sistema representativo, com atos de vandalismo contra o edifício do Congresso
Nacional.
O culto à politicofobia começa na
depreciação do sistema eleitoral e partidário, permitindo-se uma legislação
eleitoral complacente com esquemas de compra de votos pelo poder econômico e
com partidos sem ideário bem definido.
No campo discursivo, as campanhas
eleitorais desmontam a importância dos partidos e se concentram nas pessoas, “fulanizando”
os integrantes dos poderes Legislativo e Executivo, como se esses fossem meras
instituições de retórica política, e não elementos fundamentais do processo
legislativo, o qual consiste na produção de leis e se converte no principal equilibrador
político-institucional.
Recente exemplo do esvaziamento
da representação política é o da campanha presidencial, quando Marina Silva
parece demonstrar completa indiferença às forças partidárias, como se fosse
possível governar sem base de apoio no
Congresso Nacional, sem as força políticas legitimamente constituídas.
O Brasil tem péssima vocação para
imitar exemplos negativos que ocorrem no exterior, como é o caso dessa grotesca
atitude contra o representante ucraniano, um pai de família, cidadão em pleno gozo de seus
direitos e que foi eleito para desempenhar seu mandato. Se não vem sendo
competente, cabe aos seus eleitores negarem-lhe a reeleição. É uma questão de
educação política e cultura democrática.
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