É
um grande desafio comentar sobre a atual política brasileira.
O
sistema político brasileiro sofre desfigurações na sua forma e essência, as
quais prenunciam o advento de rupturas político-institucionais e tempestades ameaçadoras
para os campos político, econômico, psicossocial e militar.
Não
estou apostando no catastrofismo; não sou pescador do caos e das águas turvas,
e nem apelo para a escatologia. O Brasil vem mudando para pior, em todos os
seus fundamentos do poder, desde que se instalou o governo de coalizão do
Partido dos Trabalhadores e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro -
PMDB-, já no primeiro governo Lula, em 2003.
Lula
representando um partido de massa, o PT, e tendo por vice José Alencar,
empresário pertencente a um partido de quadros, o PMDB, tradicionalmente ligado
às empreiteiras e ao setor secundário da economia. Um partido profissional que manobra os cordéis conforme sopram os ventos, e que tem por mérito fazer essa manobra e se manter no poder desde os tempos de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
Os
setores primário (agrícola) e terciário (serviços) ficaram representados por
uma salada partidária e ideológica congregando esquerda, centro e direita,
oportuna e fisiologicamente apoiando ou fazendo oposição ao governo, ao sabor
dos interesses fisiológicos que tomaram conta do sistema representativo
brasileiro.
O
processo do “Mensalão” provocou a decantação dos interesses representados pela
coalizão e colocou o PT sob suspeita de grande parcela do eleitorado
brasileiro, mas o processo de corrupção na Petrobrás e no BNDES constituíram a
pá-de-cal sobre a credibilidade de todos os partidos – os de apoio ao governo e
os de oposição. Sabe-se que o meio político é extremamente permeável à informação de qualquer benefício concedido a quem quer que seja sob qualquer justificativa.
As
apurações em curso da “Operação Lavajato” mostram que não há inocentes na
atual política brasileira e que todos os espertos se locupletaram, membros da coalizão e membros de
partidos de oposição, de modo que sobrou pouca gente com moral para atirar
pedras e reclamar que se restaure a moralidade geral.
Tamanha
locupletação coloca em cheque o sistema político brasileiro:A forma de estado (federativa), a forma de governo
(república), o sistema de governo (presidencialismo), o regime de governo
(democracia?), o sistema representativo (sistema bicameral), o sistema
eleitoral (voto proporcional para mandatos legislativos e majoritário para o Senado
e cargos executivos) e o sistema partidário (pluripartidarismo).
Não
se admite, nos meios parlamentar e judiciário, a necessária e ampla reforma do
sistema político, como se bastassem sucessivas e pontuais modificações na legislação
eleitoral e partidária, hoje transformadas numa colcha de retalhos, num
verdadeiro “Frankenstein”. Obviamente, forças internas herodianas,
acumpliciadas com interesses de centros de poder mundial, não querem o Brasil
concorrendo com tradicionais potências européias. Algo que já vem do Brasil
colonial... Um sistema político quasímodo e capenga é a garantia de que o País não se corrigirá, tal como a sombra de uma vara torta.
Retratos
do Brasil de hoje, contidos no processo legislativo, são as corrupções políticas, os gargalos econômicos e
financeiros, as insatisfações populares, a violência nas cidades e nos campos,
a falência da segurança pública e da normatização, dos transportes urbanos, da educação em geral e dos hospitais, a
baixa produção científica e tecnológica, a perda de recursos naturais do solo e
subsolo, a agressão irreversível ao meio-ambiente e a instalação de um clima de
guerra declarada de todos contra todos, ao estilo hobbesiano.
O
mundo em geral sofre o impacto da globalização, das rupturas culturais e
políticas e – por que não admiti-lo? – do choque de civilizações previsto por
Samuel Huntington, mas o Brasil reproduz com rapidez os males da atualidade e
com lentidão, quando não se omite, os progressos. Trata-se de predestinação
para o Brasil caminhar como caranguejo ou as elites têm consciência de que se
faz necessária a urgente adoção de uma agenda positiva capaz de replantar a esperança de mudanças na nova geração de brasileiros? O desafio não é somente ético e moral, mas, sim, existencial.
Não
adianta, como solução, o PSDB e outros partidos insatisfeitos montarem uma
agenda para que se alcance o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff. Quem
substituiria Dilma? Quem, no Brasil atual, dispõe de legitimidade (voto) e
respaldo das Forças Armadas para assumir o governo e garantir que se restaure a
moralidade? Essa figura poderosa inexiste neste momento ou, na melhor das
hipóteses, se mantem encoberta...Até que apareça, o País e o Povo ficarão em fase de retrogradação.
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