Aylê-Salassié
F. Quintão
Se cada cidadão repassar esta mensagem para vinte pessoas, em três
dias a maioria dos
brasileiros tomará conhecimento do seu conteúdo.
Representado por 80 milhões de
brasileiros conectados em rede, o
Parlamento Digital, reúne-se neste próximo domingo (16) nas ruas das grandes cidades e no amplo
espaço virtual brasileiro, com a
finalidade de reivindicar rumos novos para o País. Aparentemente, há uma grande
desilusão com a política, com os políticos e com o próprio governo analógico.
Será, por isso, uma manifestação das minorias silenciadas pelos excessos
retóricos hegemônicos.
Atuando autônomo e
independentemente, o Parlamento Digital, cuja estrutura se faz presente nas
redes sociais - Linkeden, Twitter, Facebook,
App.net, Identi.ca etc.- configura um poder inusitado do cidadão, com
potencial para cobrar a solução de
problemas que o aflige no cotidiano. Nos
Estados Unidos e na Europa, em 2013, o fechamento da Wall Street, a discussão
da Constituição na Islândia e até a Primavera Árabe , no norte da África
mudaram os rumos de políticas, governos e governantes.
À semelhança daqueles
movimentos, no Brasil, em junho/julho do mesmo ano, mais de 10 milhões de
pessoas saíram às ruas movidas eletronicamente, pelos celulares, para expressar
sua indignação com os rumos dados para as políticas públicas. Ao abrigo das
redes sociais, milhares de opiniões solitárias, inibidas no contexto político,
explodiram do seu silêncio , e fizeram opiniões pessoais ganhar adesões e
inspirar tomadas de posição coletivas para contestar a conjuntura .
A preocupação com a reunião do
Parlamento Digital no domingo, 16, está fazendo emergir uma pauta preventiva
dentro do Governo, que , até agora, parecia anestesiado pelas condições
políticas e econômicas adversas ,criadas por eles mesmo, contaminando toda a
sociedade. Aqui e ali, cresce nos
últimos dias o número de analistas e avaliações sobre as tendências das
manifestações, que deverão ir às ruas reivindicar , denunciar ou condenar os programas e iniciativas políticas e
partidárias.
É difícil localizar os agentes
dessa grande trama social, porque esses
cidadãos estão incrustadas em empresas, em governos, partidos, grupos sociais,
tribos, clubes e até em escolas de nível médio. Pior é que dificilmente
abandonarão suas posições individuais, atraídos pela possibilidade de
coletivizá-las. Os políticos tentam atrair a atenção dos manifestantes para o
processo legislativo formal, e assim imobilizar ações sociais emergentes.
Contudo, sabe-se que 50% dos internautas
são hoje pessoas politizadas. As tecnologias ampliaram o poder de cada
indivíduo, permitindo gerar correntes
intermináveis de solidariedade.
As ruas sabem que qualquer sugestão
legislativa da sociedade civil para ter encaminhamento no Congresso precisa de
1,3 milhão de assinaturas, e só tramitam
via parlamentares. O projeto Ficha Limpa foi contornado, esvaziado e praticamente ignorado na
sociedade política.O Congresso tornou-se o “não-lugar” da representação dos
brasileiros. Daí , essa reunião
inspirada nas frustrações de cada sujeito ignorado por eles.
Os cidadãos estão procurando no
mundo digital a recuperação do Poder que a natureza lhes outorgou, e os políticos usurparam. Laços
eletrônicos interativos vão se
estabelecendo. Com ações mobilizadoras,
em tempo real e no espaço virtual, abre-se a possibilidade de serem provocadas enormes rupturas
nos modelos institucionais, sem a interferência de ideologias ou
partidos.Age-se anônima, espontânea e independentemente .
A
explosão do indivíduo parece acionada por
uma espécie de libido social. Desperta os cidadãos da letargia do seu silêncio, para decidir , em
espiral, por conta própria, situações que afetam o seu cotidiano. As redes
aglutinam pessoas em torno de aparentes micro-causas, demonstrando uma enorme
eficiência. Para os políticos tradicionais, parece aterrorizante esse mundo da
Midiosfera (Morin, 2005), que desvenda e
emula corações e mentes.
O nome Parlamento Digital
(Quintão,2005)nada tem a ver com o do Parlamento convencional. Começa por
sugerir distâncias cada vez maiores entre a sociedade civil não organizada e a
sociedade política e mesmo os sindicatos. Mas, não é uma questão apenas de
mudança de palco, “mas de afeto, de contaminação, de potência coletiva”
(Pelbart,2013). Há um destravamento da imaginação política. O locus das
forças rupturais desloca-se dos espaços
analógicos e institucionais para os imaginários e digitais em rede, descolando
da prática política tradicional. São milhões de anônimos transitando
inconformados pelas redes. Os atuais políticos não parecem compreender, e
sequer têm resposta para as demandas sociais represadas .
Forças armadas digitais, governos
digitais, eleições digitais, livros
digitais, ciências digitais, comércio digital, igreja digital, jornais e tvs digitais. Ora, porque não
Parlamento Digital ? Trata-se de um organismo vivo sem forma, viralmente
convergente, democrático, movido digitalmente, e com capacidade de mobilização
capaz de alterar o status institucional
de um País.
Nenhum comentário:
Postar um comentário