Proposta de aprovação de um déficit
fiscal de 170,5 bilhões de reais para 2016, flexibilização das regras de
exploração do petróleo do pré-sal, captação de 100 bilhões de reais junto ao Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –BNDES- e utilização do Fundo Soberano
(poupança do Pré-Sal para a educação), no valor atual de dois bilhões de
dólares, além de contenção de gastos do governo
em diversos setores, são algumas medidas anunciadas hoje pelo vice-presidente
em exercício, Michel Temer, que irão testar a sua força no Congresso Nacional.
Pode-se afirmar que hoje começa o governo Temer.
Deve ter sido difícil para um
político com a cancha de Michel Temer ficar como vice-presidente de Dilma
Rousseff, uma amadora e neófita em política. O tecelão de Tietê foi presidente
da Câmara dos Deputados com pleno domínio da Casa, e depois foi alçado à
presidência do PMDB, onde estabeleceu raízes federais, estaduais e municipais.
Hoje, ao anunciar medidas econômicas, ele, mais uma vez, mostrou seu
profissionalismo.
Temer disse ontem que está
acostumado a tratar com bandidos, desde seu tempo de Secretário de Segurança
Pública, e criticou aqueles que pensam que conseguem fazer tortura psicológica
chamando-o de golpista, quando todas as instituições provam o contrário
funcionando normalmente. Entende que é hora de lutar pelo Brasil.
Mas, desconfio que, ao discursar
para sua equipe e líderes partidários, pedindo empenho na aprovação
das medidas anunciadas para recuperar a economia, ele estava menos preocupado consigo
mesmo do que com outros ministros assustados com a gritaria da oposição e o
clima passional do Congresso.
Um deles, sem dúvida seu
principal avalista econômico, é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que,
ao acompanhar Temer ao gabinete do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, não escondeu das
câmeras de televisão e fotográficas certo desconforto ao ser taxado de
golpista. Meirelles ainda é um adventista na política partidária, embora experiente
nos labirintos do mercado financeiro internacional. Só faltou Temer dizer-lhe: “Vai
se acostumando”.
Temer acenou com um modelo
semiparlamentarista de governo, embora seja assumidamente um parlamentarista, e
fez um gesto ousado de diálogo com o ex-presidente Lula, ultimamente com problemas de
saúde e acossado pelas investigações da “Operação Lava Jato” contra sua pessoa
e as de seus familiares. Temer já teve bons momentos de diálogo com Lula, como políticos de São Paulo, é não é de faltar com seus companheiros nos momentos mais difíceis.
O parlamentarismo é um sistema terapêutico
de governo, útil para amenizar grandes crises políticas, e Lula sabe que não é
de boa política bater de frente com Temer para salvar Dilma, que não reúne
condições para voltar ao governo. Isto é pragmatismo e gesto útil, ainda mais em ano de eleições legislativas.
Jucá vai continuar atuando no
Senado Federal em favor da aprovação das medidas do governo que ele ajudou a
conceber no breve período em que exerceu, com seu talento inquestionável, o
ministério do Planejamento, ajudando na definição do déficit fiscal de 170
bilhões de reais. Sua conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro,
custou-lhe o cargo formal, mas revela uma importância angular da figura de Michel
Temer, que, além de exercer agora a presidência interina por força
constitucional (como afirmou), empenha-se em levantar a economia do Brasil.
Temer manterá Jucá na linha de
frente do Congresso trabalhando pelo seu governo, ainda que sem cargo formal, mas
delegar-lhe-á poderes especiais para negociações com a base parlamentar que o
genial senador de Roraima - nascido em Pernambuco e cria político de Marco
Maciel - conhece muito bem. Temer cumpre a sua parte, respeita os preceitos morais
e éticos, mas tem o pragmatismo dos verdadeiros estadistas. Precisa do talento de Jucá e não esconde isto.
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