quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Positivismo rege poder no Brasil

            O gradualismo revolucionário para a conquista do poder pelos socialistas, tendo como epicentro os segmentos culturais da sociedade civil cooptados pelo intelectualismo orgânico, conforme doutrina formulada por Antonio Gramsci, é o tema dessa análise, a partir da conclusão de vários críticos liberais de que o referido processo está em pleno curso, e com inequívoca eficácia, no Brasil e em outros países latino-americanos.
            Já escrevi sobre o processo de desmarxização em curso, no mundo inteiro, a partir da desintegração da república socialista soviética e a queda do Muro de Berlim, e o conseqüente impulso às idéias de Gramsci, que já vinham minando o Marxismo-Leninismo desde algumas décadas.
            O Brasil atual é um laboratório das idéias de Gramsci, afirmam críticos como Olavo de Carvalho, Sérgio Augusto de Avelar Coutinho, Anatoli Oliynik, etc., e, sob os governos do PSDB e do PT, as esquerdas conseguiram se estruturar para ficarem décadas no poder e até consumar, no momento oportuno, a implantação do socialismo utópico ou comunismo. Tenho minhas dúvidas sobre tal processo.
            Gramsci influenciou pelos seus discípulos a chegada ao poder das esquerdas no Brasil, com os governos do sociólogo Fernando Henrique Cardoso ( mais da linha de Eduard Bernstein) Lula, Dilma, etc. Essa é a interpretação geral do milagre que é atribuído a Gramsci, mas, na realidade, o santo se chama Augusto Comte, o pai da  sociologia,que defendia a renovação das instituições e que teria influenciado o filósofo italiano a pregar a mudança dos pensamentos e dos costumes(gramscianismo).
            Em primeiro lugar, não duvido de que há um núcleo de discípulos do novo profeta italiano, centrado no Foro de São Paulo, articulando e trabalhando a consolidação do poder pelas esquerdas na América Latina, com razoável competência, mas recorro há uma máxima de Marshall Mc Luhan, o grande comunicador canadense visionário da “aldeia global”, segundo a qual toda iniciativa de transformação que se defronta com a cultura de uma sociedade se torna vã.
                         Se não se defronta, não é proposta de revolução, mas, sim, de reforma ou só inovação. E, sob esse enfoque, certo estava mesmo Lenin, que pregava, como via principal da revolução, a conquista do poder pela violência, em parte ao estilo da Revolução Francesa, mas essa provou que o terror não é tão eficaz para a manutenção do poder.
             A própria revolução bolchevista, de caráter urbano, e a revolução chinesa, sob o comando de Mao-tsé-Tung, partida da zona rural, ambas centradas na conquista do aparelho estatal, conforme a doutrina marxista-leninista, não lograram implantar o comunismo, e atualmente essas sociedades se abrem para o capitalismo.
            Hoje, não há forma e sistema de governo que prescinda da participação popular, nem na Alemanha ou no Japão, cujas instituições políticas modernas evoluíram de forma vertical, conforme relata Barrrington Moore, em sua obra “Origens da Ditadura e da Democracia.” Esses dois países fizeram grandes esforços políticos para se atualizar ao mínimo necessário da denominada democracia participativa.
            O Estado republicano-parlamentarista alemão e o Estado monárquico- parlamentarista japonês permanecem fortes, mas os órgãos de representação política se tornaram mais participantes.  A condição geopolítica desses dois países (a Alemanha com várias fronteiras e o Japão perto da China) recomenda a sintonização com o povo, lição aprendida durante a Segunda Guerra Mundial.
            O processo de globalização exige o mínimo de democracia, e com democracia qualquer tipo de revolução se torna mais complexa, seja qual for o processo doutrinário, porque a cultura política não é permissiva, mas, sim, idiossincrática em sua essência, mantendo-se indene às influências exógenas desencadeadas pela revolução dos meios de comunicação, em especial a comunicação virtual pela internet. É a esse quadro que procuram se adaptar os países da “primavera árabe”.
            As ideologias experimentam, de fato, grandes transformações, como reconhecem até mesmo membros da esquerda brasileira, entre os quais Roberto Freire, presidente do PPS, ex-Partido Comunista Brasileiro. Em recente entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura de São Paulo, Freire foi categórico: “Admito que fracassamos.” Falsa autocrítica ou realismo político?
            Se os meios de comunicação e os formadores de opinião que por eles se expressam, os “intelectuais orgânicos” de Gramsci, têm influência limitada sobre a cultura, onde é que se situa então a mola-mestra de conquista e manutenção do poder com a democracia mínima exigida pela globalização? Na prática política.
            E qual é a estratégia a ser empregada nessa prática? A identificação do senso-comum, por meio de pesquisas empíricas relacionadas ao comportamento eleitoral, à avaliação de políticas públicas e do jogo parlamentar nas casas legislativas. Os centros de ciência política e as universidades têm comprovado, usando a teoria dos jogos, a extraordinária aplicação dessas pesquisas, cujos resultados convergem para o pensamento único.
            Michel Zaidan Filho, professor pernambucano, em seu artigo “Democracia Deliberativa”, observa, sobre o que considera essa nova modalidade de positivismo (eis aí mais uma constatação que vejo da atualidade de Augusto Comte):
            “A ampla aceitação dessa teoria nos departamentos das ciências sociais e aplicadas e a enorme influência dessa nova modalidade de positivismo veio neutralizar a presença do marxismo, do estruturalismo francês ou da Escola de Frankfurt no meio acadêmico, criando uma espécie de “pensamento único”, extremamente útil, aliás, para políticos gerentes, políticos reguladores ou simplesmente salesmen — como chama ironicamente a revista inglesa The Economist essa safra de estadistas da “reforma do Estado”.
            Nessa modalidade de prática política, a democracia é cenário indispensável, mas a cultura política fica em segundo plano, e, sem mudança cultural, a influência dos “intelectuais orgânicos” torna-se limitada aos campos teórico, filosófico e doutrinário, perdendo muito nos campos ideológico e científico. Eis porque tenho minhas dúvidas sobre o propalado êxito do gramscianismo, embora modestamente respeite as opiniões contrárias.
            Em resumo, considero Augusto Comte o filósofo mais influente da atualidade política no Brasil e demais países da esquerda latina, e seu positivismo a blindagem, o antídoto natural infalível contra o veneno suave e mortal de Gramsci.


           
           

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