quarta-feira, 7 de maio de 2014

Os presidenciáveis do Brasil ou reforma versus revolução


Para leitores interessados em se informarem sobre a política no Brasil, em especial leitores dos países da Ásia, da África e do Oriente Médio, onde este blog é acessado, eis uma lista de nomes que representam a renovação de lideranças processada nessas duas últimas décadas e que estarão na liça das disputas presidenciais nos próximos dez anos:
Dilma Rousseff, atual presidente da República, economista; Michel Temer, atual vice-presidente da República, deputado federal e jurista; Fernando Collor de Mello, ex-presidente da República (1990-1992), senador e jornalista; Aécio Neves, senador, ex-presidente da Câmara dos Deputados, ex-governador do Estado de Minas Gerais e economista; Ronaldo Caiado, deputado federal, líder rural e médico; Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, ex-deputado federal e médico; Eduardo Campos, governador do Estado de Pernambuco e economista; Marina Silva, ex-senadora, ambientalista, pedagoga e historiadora; Henrique Eduardo Alves, atual presidente da Câmara dos Deputados, empresário e advogado; Renan Calheiros, atual presidente do Senado Federal e empresário; Aloísio Mercadante, senador, ministro-chefe do Gabinete Civil e economista; Tarso Genro, atual governador do Estado do Rio Grande do Sul, ex-ministro da Justiça, advogado e jornalista; e Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto, atual prefeito de Salvador, ex-deputado federal e advogado.
Os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e José Inácio Lula da Silva representam o trânsito de uma geração política do pós Segunda Guerra Mundial para o final da Guerra Fria (queda do Muro de Berlim), que, no Brasil, teve por marcos o regime militar instaurado em 1964 e a instauração da Nova República, em 1985. Lula ainda tem liderança e prestígio eleitoral, o que o torna uma figura de interseção entre os dois conjuntos temporais, pois começou sua carreira como líder sindicalista, combatendo o regime militar, e permanece como esteio principal do Partido dos Trabalhadores - PT-, que governa em coalisão com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-.
Mas, como se processou essa renovação dos quadros, num Brasil que é considerado domínio das oligarquias regionais e forças conservadoras liberais, apoiadas na Igreja, nas Forças Armadas e no capitalismo internacional?
Essa renovação se processou com base no surgimento de novas elites verticais( econômicas, intelectuais, burocráticas, carismáticas, etc..) e na reprodução das elites horizontais ou tradicionais; as verticais com líderes alçados dentre as forças populares, tais como Lula, Dilma, Michel Temer e Marina Silva; as horizontais pela transmissão hereditária do poder, tal como Fernando Collor (neto de Lindolfo Collor, ministro do Governo Vargas, e filho do senador Arnon de Mello); Aécio Neves, neto do ex-presidente Tancredo Neves e filho do ex-deputado Aécio Cunha; Ronaldo Caiado, neto de Antônio Ramos Caiado, o “Totó Caiado”, líder da mais tradicional família política do Estado de Goiás, e também sobrinho do ex-senador Emival Caiado; Geraldo Alckmin, sobrinho do ex-ministro José Geraldo Rodrigues de Alckmin, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal; Eduardo Campos, neto do ex-governador do Estado de Pernambuco, Miguel Arraes; Henrique Eduardo Alves, filho do ex-deputado, ex-ministro e ex-governador do Estado do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves; Renan Calheiros, filho do ex-deputado federal Olavo Calheiros Novaes, do Estado de Alagoas; Aloísio Mercadante, filho do ex-general-de-exército e ex-comandante da Escola Superior de Guerra, Oswaldo Moniz Oliva; e Tarso Genro, filho de Adelmo Simas Genro, ex-vereador e ex-vice-prefeito de Santa Maria e ex-presidente de honra do Partido Socialista Brasileiro, no Estado do Rio Grande do Sul; e Antônio Carlos  Peixoto de Magalhães Neto, neto do ex-governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, e primo do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Luiz Eduardo Magalhães.
Esses nomes de políticos da nova geração apresentam potencial de liderança e votos que os torna capazes de disputar, com primazia, os mais altos cargos da “classe dirigente” do Brasil,  pelo menos, nos próximos dez anos, mas há muitos outros políticos herdeiros do nome e da tradição familiares que ainda poderão despontar em primeiro plano, nos próximos anos, por conta da dinâmica política, social e econômica do mundo globalizado.
O Brasil republicano sempre reciclou o poder entre as suas elites com precisão, independentemente de haver ou não ruptura democrática provocada por golpes e revoluções e em sintonia com a influência de forças externas. As elites horizontais predominam  absolutas até a década dos 30,  quando começam a surgir as primeiras  verticais em decorrência do início do processo de industrialização do país, a formação do proletariado e  a importação de novas ideologias no bojo das imigrações europeias e asiáticas.
Mas, sempre se cultiva no Brasil o processo de reciclagem de forma lenta e gradual, entre os componentes das elites horizontais, e, no tocante às elites verticais, busca-se, preferencialmente, a composição com as suas bases sociais pela via da reforma política, promovendo o consenso, a conciliação, e reduzindo o dissenso e o conflito. Mesmo assim, a Revolução Constitucionalista de 32, a Intentona de 35, O Estado Novo de Vargas e a Revolução de 1964 refletem choques entre as elites horizontais e verticais, sinalizando que as camadas tectônicas do poder moderno de mando no Brasil ainda estão longe de sua estratificação estável e intensamente sujeitas a terremotos decorrentes dos embates entre as duas correntes.
As contradições desses embates são imensas. Tomemos por exemplo os ex-presidentes Fernando Collor e Lula da Silva.  Em disputa durante as eleições presidenciais, em 1989, Collor encarnava o representante da classe burguesa, e Lula o da classe trabalhadora. Collor venceu e, em 1992 ,foi defenestrado do governo sob forte influência do Partido dos Trabalhadores, de Lula. Ainda hoje prevalece essa impressão sobre os dois adversários políticos. Mas, o avô de Collor, ministro do Trabalho Lindolfo Collor, do Governo Vargas, foi o promotor do maior avanço da legislação trabalhista brasileira. A Lindolfo a classe proletária brasileira deve a sua redenção, e não ao Partido dos Trabalhadores... Então, por esse prisma, Fernando Collor seria, por herança familiar, mais credor da confiança da operária do que Lula, ainda mais quando se analisa o descontentamento atual de vários partidos de esquerda com o governo do PT.
Pode-se argumentar que o Trabalhismo de hoje reúne ingredientes políticos e sociais diferentes daqueles anos e que o movimento proletário, sob a ideologia comunista, se empenha mais à conquista do poder político do que à melhoria em si das condições sociais e econômicas do operariado. Questões como justiça social, direitos igualitários, igualdade de oportunidades, etc. são preocupações das duas correntes de elites, mas uma (a horizontal) quer reforma, e a outra revolução.

É por esse caminho, que reúne num embate as duas tendências ideológicas sedimentadas nas suas elites, que o Brasil seguirá nas suas escolhas, num processo dialético cuja resultante (síntese) terá que se ajustar a todo instante aos ventos do cenário político internacional.
 
 
 

 

 

 

 

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