sábado, 3 de setembro de 2011

A esfinge Golbery do Couto e Silva



Li que a câmara municipal da cidade gaúcha de Rio Grande prestou homenagem ao ilustre filho daquela cidade, o falecido general e ex-ministro Golbery do Couto e Silva, personalidade controvertida do regime militar instaurado em 1964, com o marechal Castello Branco, e encerrado em 1985, ao término do Governo do general João Figueiredo.
Mesmo sob protestos da oposição, o prefeito Fábio Branco (PMDB) inaugurou até projeto de monumento na praça central da cidade, destacando o centenário de nascimento e os relevantes serviços prestados ao município por Golbery.
Considerado um dos principais formuladores da Doutrina de Segurança Nacional, da Escola Superior de Guerra, e o criador do Serviço Nacional de Informações - SNI-, o general Golbery, autor de “Planejamento Estratégico”, sua obra mais conhecida, foi a eminência parda do regime e se transformou, naturalmente, em oráculo, ao menos para poucos jornalistas que tinham acesso ao seu gabinete.
Golbery foi um dos arquitetos da descompressão e da abertura política, que resultaram no fim do regime e na eleição do presidente Tancredo Neves e do vice José Sarney, instalando a “Nova República”.
Ajudou a implantar a idéia da anistia política, ajudando, inclusive, no retorno do cineasta Glauber Rocha ao Brasil, e proferiu algumas frases lapidares, tais como “segredo só guarda quem não sabe”, “criei um monstro” (sobre o SNI) e “ser feliz é compreender a dualidade dos momentos e a fascinante proximidade entre o riso e a lágrima.”
 Golbery morreu num sitio de sua propriedade (hoje em ruínas), em Luziânia (Goiás), cidade barroca perto de Brasília, aos 76 anos, curtindo a leitura como hobbie predileto, apesar de ter sofrido um problema de descolamento de retina quando ainda era ministro. Temendo a cegueira, confidenciava que a vida não lhe faria sentido sem a leitura. Sua biblioteca no sítio tinha 30 mil volumes, que hoje estão incorporados ao patrimônio da Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.
Há um relato interessante do jornalista Paulo José Cunha sobre a cobertura que fez para a televisão, do internamento do general Golbery no Hospital das Forças Armadas, para exame dos olhos. O clima era sempre aquele mesmo; com Golbery, só se trabalhava com “fiapos de informação”, porque ele cultuava o mistério, daí ter sido apelidado de “bruxo”, “alquimista”...
O mistério continua até hoje sobre a sua figura e alguns links  políticos a ela relacionados, dois dos quais a eleição de Tancredo Neves e a assunção de José Sarney. Ele era, sem dúvida, uma alma daquele tempo de regime militar, uma alma até hoje ainda não completamente decifrada, nem mesmo pelos seus poucos interlocutores pessoais, políticos, profissionais e familiares. Uma esfinge.

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