A globalização, fenômeno que estudiosos classificam como posterior à multinacionalização e internacionalização, tem seus mitos que começam a desmoronar.
Houve previsões de que a nova economia mundial teria quatro características, duas delas que se confirmam: Dominação pelo sistema financeiro e investimento e progresso das tecnologias de comunicação e informação. As outras duas não se confirmam: Baixo custo dos transportes de pessoas e cargas e a emergência de três centros de capitalismo transnacionais: Estados Unidos, Japão e Europa.
Começando pelos transportes, segundo classificação feita pelo Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria do Brasil, o sistema de transporte apresenta as seguintes características, em termos de custos:
O transporte modal (rodoviário) geralmente apresenta baixo custo de implantação, elevado custo operacional e alto consumo de óleo diesel; o transporte ferroviário alto custo de implantação, baixo custo operacional e pequeno consumo de óleo diesel; o dutoviário (para gases, líquidos e sólidos granulares) apresenta elevado custo de implantação e baixo custo operacional; o transporte marítimo baixo custo de implantação e operacional; o hidroviário e aquaviário podem ter baixo custo de implantação e operacional, dependendo da via natural, mas podem ter elevado custo de implantação e operacional, em períodos de seco e baixo calado; o transporte aeroviário apresenta baixo custo de implantação e elevado custo operacional.
Assim é que o transporte intermodal, reunindo mais de uma modalidade, seja para mercadorias, ou seja para pessoas, tem seu custo variável conforme as condições estruturais e climáticas em cada país ou região,tornando-se difícil uma garantia de que os custos mundiais dos transportes na globalização se tornariam baixos.
O transporte de pessoas na Europa e nos Estados Unidos (que utilizam muito as ferrovias) é relativamente de custo baixo, mas tal não acontece nos países em desenvolvimento, principalmente nas modalidades rodoviária e aeroviária, como é o caso do Brasil, país de grande dimensão territorial, que optou pelas rodovias e aerovias, em detrimento das ferrovias.
Há uma campanha de intensificação do transporte aéreo, mas qualquer cidadão disposto a viajar de avião tem a sensação de que o custo ainda é elevado, principalmente do transporte aéreo regional, e as condições operacionais dos aeroportos ainda requerem muitos investimentos.
Quanto ao transporte rodoviário, fiscalizado pelo Conselho Nacional de Transportes Terrestres - CNTT-, apesar de fortemente subsidiado, o custo das passagens ainda é elevado, a manutenção e a segurança das rodovias precárias no interior, os pedágios em algumas rodovias são altos e o monopólio exercido por empresas no setor favorece o negligenciamento das condições operacionais.
O transporte intermodal no Brasil e outros países em desenvolvimento esbarra na precária adaptação dos portos e vias aquaviárias e lacustres, o que contribui para a elevação do denominado “custo Brasil” para os comércios interno e externo. Pelo menos é a radiografia que obtive visitando alguns portos brasileiros.
O segundo mito abalado, desde a crise de 2008, é o dos três grandes centros capitalistas. Os Estados Unidos enfrentam problemas com o dólar e pesada dívida externa e interna, além de outros graves problemas sociais internos (violência urbana, desemprego, custo de vida, etc.). A Europa idem, assistindo a insolvência das suas principais economias e da “zona do Euro”. O Japão enfrenta o problema da alta valorização do iene, o envelhecimento da população e altas taxas de suicídio e os cenários prospectivos para recuperação da crise nas suas exportações são confusos.
Não havia previsões para que a China se transformasse na segunda economia mundial e outros países membros dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ultrapassassem alguns países europeus como a França, Reino Unido e Alemanha, como novas potências econômicas, em função das suas riquezas naturais e produção de “commodities”, com destaque para os alimentos e petróleo.
Os três gigantes econômicos (EUA, Europa e Japão) agora dependem visceralmente do desempenho da China e procuram se adaptar à nova geografia do poder econômico, voltando-se para os detentores de matérias-primas de regiões como América do Sul e Ásia.
Os chineses enxergam na palavra “crise” o sinônimo de oportunidade, mas a crise de 2008, a “crise dos subprimes”, gerada pelo efeito dominó da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, dos Estados Unidos, longe de significar oportunidade, virou um pesadelo para os poderosos e uma incógnita para a tal globalização.
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