Não acredito em novo “pangermanismo”, daquele tipo estimulado pelo movimento pré-romântico “Sturm und Drang”, com ênfase no “caráter nacional” alemão, no final do século XVIII, e que forneceu lenha ao Nazismo, embora alguns analistas vejam a situação atual da economia da Zona do Euro como propícia ao surgimento de um “quarto reich” sem que a chanceler Angela Merkel necessite de disparar um tiro – é o caso de Victor Davis Hanson, da Hoover Institution, Stanford University.
Alemanha mantém seu equilíbrio econômico-financeiro em parte com a ajuda dos países que atualmente enfrentam dificuldades e que se situam debaixo do seu guarda-chuva comercial (Grécia, Espanha, Portugal, Itália, França, etc.). Se eles falirem, a Alemanha terá sérios prejuízos com suas exportações dentro e fora do Euro.
Robert Heusinger, no site Press Europe, adverte:
“A revalorização do marco colocaria a moeda alemã 30% acima do euro. Esses 30% constituiriam uma enorme vantagem concorrencial para as indústrias francesas e italianas, bem como para as belgas, holandesas e eslovacas. Aproveitando um espetacular crescimento das suas exportações, os outros países europeus poderiam finalmente prosperar, sem a Alemanha. Mais pragmáticos que os alemães em matéria de reequilíbrio das finanças, os franceses, que acreditam, com razão, que mais vale investir no crescimento do que reduzir nas despesas, assegurariam à Europa vários anos de prosperidade.
O regresso do marco levantaria igualmente uma onda de pânico na banca e nos seguros. A diminuição de 30% do valor de todos os ativos europeus pode representar uma perda de cerca de 200 mil milhões de euros nesses sectores. Seria necessário organizar uma segunda vaga de salvação da banca, o que apenas agravaria a situação da dívida pública. Por quê 200 mil milhões de euros de perdas suplementares? Porque desde a introdução do euro, a Alemanha adquiriu quase 600 mil milhões de euros de ativos no estrangeiro (graças aos enormes excedentes das suas exportações).”
Evidente que a Alemanha, após as crises da primeira e segunda guerras, demonstrou sua capacidade incrível de recuperação econômica, a ponto de se transformar na 4ª potência econômica mundial, depois de Estados Unidos, China e Japão.
Mas o pangermanismo não inspirou essa reestruturação, mas, sim, o realismo de mercado, sustentado pela indústria metalúrgica e química, uma agricultura altamente mecanizada e moderno sistema de transportes, que lhe garantem alta competitividade entre os maiores exportadores mundiais, além de seu poder financeiro, tendo Frankfurt como principal centro da União Européia.
Assim como no passado, um novo pangermanismo alemão correria o risco de provocar nova tríplice entente, como aquela “entente cordiale”, formada em 1904/1907, pela Grã-Bretanha, França e Rússia (essa última ainda com seus interesses no paneslavismo), que contou mais tarde com a adesão de 24 nações, para opor-se ao expansionismo alemão.
A Alemanha investiu dois trilhões de dólares na reconstrução da Alemanha Oriental, arruinada pelo comunismo, e se mantém impávida economicamente graças a uma filosofia de austeridade econômica e muito trabalho e poupança. O pangermanismo implicaria sua militarização, o que polarizaria feroz oposição das demais potências e dos próprios parceiros da União Européia.
A Rússia, que teve na segunda guerra mundial 27 milhões de mortos, dos quais 18 milhões de civis, e 33 mil cidades e povoados completamente destruídos, jamais aceitará qualquer esboço de novo pangermanismo.
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