O noticiário no Brasil afirma que Fernando Lugo foi vítima de
um golpe de estado parlamentar, com máscara constitucional, no Paraguai, e que
seu substituto, Federico Franco, carece de legitimidade, em razão de que não
deve participar da próxima reunião do Mercosul, na Argentina, dia 29.
Com 76 votos a favor e um contra na Câmara dos Deputados e 39 votos a
favor no Senado, dois contra e duas abstenções, Fernando Lugo teve seu impedimento
declarado sob acusação de ter agido de forma condescendente contra agitadores
socialistas infiltrados nas Forças Armadas e subversivos do Exército do Povo
Paraguaio, organização responsável por seqüestros e assassinatos.
Dois fatores de análise na situação política atual do
Paraguai devem ser considerados: A legitimidade e o consentimento popular e a
governabilidade do novo governo.
Em primeiro lugar, a larga margem de votos para a
destituição de Lugo e a ausência de uma efetiva resistência popular ao fato
indicam que o presidente Federico Franco tem legitimidade e consentimento
popular. Esses dois fatores somados podem garantir governabilidade, e é isto
que Fernando Lugo, criando um governo paralelo, com apoio de outros governantes
da América do Sul, como ocorreu em Honduras, pretende impedir.
Quanto à associação do impedimento de Lugo aos problemas com
os “brasiguaios” produtores de milho e soja no Paraguai, que registraram
invasões a suas propriedades durante o governo deposto e que agora manifestam
seu apoio a Federico Franco, seria prematuro afirmar que participaram da
conspiração. Vários desses brasileiros, empresários lá radicados e grandes
proprietários de terras, já têm herdeiros naturalizados ou nascidos no Paraguai.
Com sua liderança sobre os demais países da América do Sul e
seus empreendimentos conjuntos com o vizinho país, entre os quais a usina
hidrelétrica de Itaipu, afora as razões geopolíticas, o Brasil deve agir dentro
do tradicional pragmatismo diplomático, pois não lhe interessa criar um foco de
problemas perturbadores às relações bilaterais.
Os Estados Unidos e a Alemanha apóiam o novo governo não
apenas com base nos seus interesses políticos e econômicos, alguns contrários
aos do Brasil, do MERCOSUL e da UNASUL, mas também na idéia de que a
estabilidade democrática paraguaia foi assegurada com a destituição de Lugo.
Estaria o Brasil disposto a dar murro em ponta de faca? A nova situação
política no Paraguai parece-me de um fato consumado.
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