A aliança entre o Partido Progressista, de Paulo Maluf, e o
Partido dos Trabalhadores, de Lula, em favor da candidatura de Fernando Haddad
à prefeitura de São Paulo, é um típico caso de pragmatismo político ou de
aplicação da ética de resultados.
O ex-prefeito e deputado federal, prócer do PP, ainda é um
fenômeno de votos na capital e em muitas cidades do interior paulista, onde
construiu uma reputação de político ao estilo de Adhemar de Barros: “Rouba, mas
faz.”
Não é de se admirar essa aliança, selada com fotografias na
casa de Maluf, onde aparece de mãos dadas com Haddad e Lula, para desconforto
da ex-prefeita Luiz Erundina, que saiu do PT, depois de administrar São Paulo,
exatamente por discordâncias à época com o comando do partido e acabou
aceitando o cargo de ministra da Administração do governo do presidente Itamar
Franco.
O candidato Haddad garante que conseguirá “consolar” Luíza Erundina (PSB), mas os eleitores petistas, convertidos ao pragmatismo pelo
ex-presidente Lula, terão que engolir a seco esse conluio, para muitos
promíscuo, que, certamente, pode significar a oportunidade de alavancar a
candidatura do ex-ministro da Educação, que, nas pesquisas de opinião, se encontra
bem abaixo do tucano José Serra (30%) e de Victor Russomano (PRB), que tem 21%.
Com seus 8%, Haddad estaria fora do segundo turno.
No quadro da “geléia geral” em que se transformou o espectro
ideológico dos partidos brasileiros, o
Presidente Lula e seu antigo adversário Paulo Maluf parecem estar à vontade
para conectar os pólos da esquerda e da direita no jogo de “cerca Lourenço” da
disputa à prefeitura mais rica da América Latina.
Esquerda, hoje, para os ideólogos brasileiros, na prática, é
poder, e na ideologia em si é mera referência, enquanto direita é estrutura
menor, embora arraigada à tradição política oligarca. Basta que se examine o
quadro nacional, onde líderes de um e outro lado convergem para interesses
comuns e a colocam a oposição como prática circunstancial ao sabor dos
fisiologismos regionais.
Sem dúvida, a pedra noventa dessa eleição em São Paulo será
o candidato Victor Russomano, que desfralda a bandeira de defesa dos consumidores,
conforme indicam as pesquisas atuais, mas Paulo Maluf garante que Haddad irá
para segundo turno, desprezando a enorme diferença que existe entre Haddad e o
segundo colocado.
Que razões teriam determinado apoio tão ostensivo de Maluf
ao candidato petista, a ponto de irritar Luiza Erundina? Não se sabe se Maluf
deve favores a Lula, pois o ex-prefeito foi preso durante o governo Lula,
quando o Supremo Tribunal Federal julgou a prisão ilegal.
De qualquer forma, essa aliança define claramente a ética de
resultados da política brasileira atual, onde o eleitor vai se acostumando a
ver elefantes voando e bananeiras produzindo cachos de abacaxis.Mas, fica uma pergunta: Será que esta aliança se limita às eleições de São Paulo ou se estende às manobras na CPI do Cachoeira e ao julgamento do "Mensalão"?
Nenhum comentário:
Postar um comentário