Manuel
Cambeses Júnior
(Cel Av Conferencista
especial da Escola Superior de Guerra, membro emérito do Instituto de Geografia
e História Militar do Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre
do Brasil e Conselheiro do Instituto Histórico Cultural da Aeronáutica. mcambeses@yahoo.com.br). Artigo
publicado na Revista Aeronáutica,nº 279
Há
algum tempo, a imprensa tem dado destaque a algumas revelações verdadeiramente
escandalosas sobre o envolvimento de políticos, empresários e autoridades
governamentais em atos desairosos e denunciado o enriquecimento ilícito de maus
patriotas no exercício da função pública.
Se
adicionarmos a estes lamentáveis casos as denúncias e investigações que envolvem,
em diferentes oportunidades, funcionários do setor administrativo, inclusive
colaboradores diretos da Presidência da República, chega-se à conclusão de que a
maré de anomalias, torpezas e suspeitas está profundamente enraizada nos três poderes
do Estado.
Constatamos,
com imensa tristeza, no atual cenário político nacional, inumeráveis e
lamentáveis fatos que vêm sistematicamente ocorrendo, envolvendo autoridades públicas
– especialmente ministros de Estado e funcionários do primeiro escalão governamental
– que o nosso país se encontra em avançado processo de putrefação moral.
E
se esse processo deletério não for estancado, a curto prazo, a projeção que podemos
fazer para o futuro é dramática. Portanto, algo deve ser feito para estancar, de
imediato, com todos esses desatinos.
Os
fatos, ao longo dos últimos anos, mostram que os detentores do poder urdiram um
plano diabólico para, paulatinamente, desmontar o poder de reação da sociedade
brasileira e manterem o perverso e abominável status quo.
Mas,
bem sabemos, tal processo deletério não muda – apenas – com promessas, com
palavras ou com intenções. Só ações efetivas, tomadas por pessoas de têmpera
forte e com qualidades de liderança, poderão transformar as esperanças em
decisões e, conseqüentemente, em ações.
Ações que irão debelar essa pletora inominável
de desvios de conduta de mentes doentias e mentirosas que, os fatos, sempre
eles, mostram, comprovam, e vêm dominando, nestes últimos anos, o nosso país,
em todos os seus quadrantes.
Portanto,
só com ações efetivas poderá ser saneada a contaminação que tomou conta do
Brasil. Um país onde muitas prefeituras contam com prefeitos e vereadores corruptos
e corruptores. O mesmo acontece com governadores, deputados distritais, estaduais,
federais, senadores e até mesmo os que deveriam zelar pela manutenção e a aplicação
da lei: os juízes.
E
esse quadro devastador se estende, segundo os fatos tão alardeados, até aos pontos
mais elevados da estrutura de poder nacional. Um absurdo inominável! Urge, pois,
que medidas efetivas e saneadoras sejam tomadas para resgatar a saúde moral de
nosso país. Para que sejamos, um dia, de fato, uma Nação.
E,
afinal, qual será o futuro se esse processo continuar? Se todas as aves de rapina
continuam livres e a esbulhar o país? Com tantos privilégios e com essa brutal excrescência
denominada “foro privilegiado”, um malévolo dispositivo criado nos estertores
do mandato de FHC?
Esse
mesmo senhor que começou o processo de enfraquecimento de nossas FFAA e da
pusilânime tentativa de reduzir a importância da Escola Superior de Guerra no
seio da sociedade brasileira. Que também assinou, aceitou e se submeteu às
decisões dos países hegemônicos que hoje se encontram com um pé firmemente fincado
em nosso solo pátrio? Leia-se: Raposa Serra do Sol…
Assim,
o que está em jogo é o futuro de todos nós. E, em especial, de nossos filhos e
nossos descendentes. E, por último, mas não menos importante, o que podem os
cordeiros contra os lobos? Nada! Cordeiros sem proteção são e serão, por certo,
presa fácil nas mãos predadoras de todos esses que aí estão a esbulhar,
livremente, o patrimônio brasileiro. Patrimônio que foi criado e acumulado com
o trabalho, a luta, o denodo, o vigor, o sofrimento e o sangue de nossos pais e
nossos ascendentes.
Uma
história de lutas que agora assistimos, impotentes, se perder nas mãos insidiosas
e espúrias de todos esses lobos que saqueiam o país e nos tratam, a todos, como
marionetes. E, tragicamente, além de roubarem o próprio país eles não pensam
duas vezes em se submeter e entregar as riquezas de nosso solo, aos algozes de
sempre e que têm seus atos de dominação tão bem registrados e consubstanciados
na História Mundial.
É
muito difícil para a opinião pública assimilar o caudal de informações
deprimentes que golpeiam, diariamente, a sensibilidade dos cidadãos, sem que
seja experimentado um profundo desalento moral e observado, com um fundo de incredulidade,
o funcionamento das instituições sobre as quais repousa a ordem republicana.
Ante
esta dura realidade é imprescindível criar-se, o quanto antes, as condições que
permitam reconstruir o prestígio da Organização Estatal, hoje fortemente
afetado pela sordidez desses maus brasileiros.
Uma
sociedade que não confia em suas instituições dificilmente poderá caminhar com
passo firme na direção de metas perduráveis de progresso, justiça e bem-estar.
A honorabilidade dos homens públicos, qualquer que seja o nível e a natureza de
sua função, é um oxigênio insubstituível para o desenvolvimento da capacidade
criativa do corpo social, que dificilmente mobilizará, com profundidade, suas
energias espirituais e materiais, se considerar que o fruto de seu esforço será
aproveitado, desavergonhadamente, pela voracidade, ambição, vileza e falta de escrúpulos
de uns poucos.
À
imprensa lhe corresponde uma missão fundamental nessa empreitada de
reconstrução nacional. Na maioria das vezes tem sido a mídia o instrumento de denúncia
de manejos ilícitos por quem exerce o poder (seja de quem tenha chegado à
função pública pelo voto popular ou de quem desempenha cargo de confiança em
virtude de nomeação).
É
alarmante imaginar quantos focos de corrupção teriam permanecido ocultos se os
profissionais de imprensa não lhes houvessem focado a luz. Daí ressalta-se o valor
estratégico da liberdade de expressão como pilar da ordem constitucional.
Frente à onda de seguidos fatos e focos de
corrupção que ameaçam erodir os alicerces do Estado, toda a sociedade brasileira
deve pôr-se de pé, para exigir que os atos ilícitos identificados e denunciados
pela imprensa – desde que devidamente comprovados – sejam punidos
exemplarmente, e que os controles do sistema democrático funcionem com eficácia
e em plenitude, na salvaguarda da transparência moral, que é a virtude suprema da República.
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