Como
bem sinaliza meu amigo, jornalista Carlos Chagas, em recente artigo, a
Presidenta Dilma Roussef deve enfrentar, de agora em diante, o recrudescimento
do movimento grevista no Brasil, processo já deflagrado pela greve nas
universidades.
O
combustível para essas greves seria a perda de poder aquisitivo da classe média
trabalhadora, nesta inclusos o funcionalismo público, com salários defasados, os
empregados do setor privado e profissionais liberais.
Esse
ressurgimento das greves, segundo Chagas, seria parte de uma estratégia mais
ampla dos petistas e sindicalistas para monitorar o Governo Dilma e impedir que
ele ganhe maior autonomia em relação ao PT e à linha do ex-presidente Lula, que
governou sem ser molestado pelas bases sindicalistas.
Se, por
um lado, há potencial ameaça da ação paralisante do grevismo ao Governo Dilma, considero,
em contrapartida, que há um aspecto instigante nesse cenário que se descortina:
A real capacidade do sindicalismo brasileiro,engessado há anos, de retomar seu
papel de protagonista de ações de mobilização da classe trabalhadora, como
ocorria durante o final do regime militar e durante os governos Collor e
Sarney.
O
sindicalismo se encontra em crise em vários países da Europa Ocidental, nos
Estados Unidos e no Japão, com a perda de filiados, poder reivindicativo e
influência política, o mesmo ocorrendo no Brasil, México, Argentina, Chile, Bolívia,
Venezuela, Peru e outros países latino-americanos.
Na
Europa Oriental, por conta da liberdade de organização social, e na China, em
fase de crescimento industrial, o sindicalismo é um movimento florescente, e
nos países escandinavos ele cresceu, de forma ímpar, por conta das políticas sociais
(na Suécia, praticamente todos os trabalhadores estão sindicalizados).
Algumas
causas citadas por estudiosos desse movimento cambiante do sindicalismo são o
desemprego, o encolhimento das empresas, a terceirização, o avanço tecnológico,
a privatização, a desindustrialização, a globalização, a presença da mulher no
mercado de trabalho e a descentralização das negociações.
A
perda de filiados é um fato relevante no quadro internacional, nas economias
capitalistas, pois os sindicatos, no sistema descentralizado de negociações,
saem perdendo, aceitando aumentos salariais abaixo da inflação e da
produtividade.
No
Brasil, contudo, o número de trabalhadores filiados vem crescendo, segundo
dados apurados pelo Ministério do Trabalho. A causa é a elevação do número de
trabalhadores com carteira assinada. O Brasil tem 12 centrais sindicais e 9.801
sindicatos, dos quais 2.665 independentes, e tais organizações totalizam 6,8 milhões
de filiados. No total, são 44 milhões de trabalhadores com carteira assinada.
As
maiores organizações sindicais, reconhecidas pelo Governo, são a Central Única
dos Trabalhadores - CUT-(2,4 milhões de filiados), a Força Sindical (982 mil
filiados), União Geral dos Trabalhadores –UGT- (700 mil filiados), Central dos
Trabalhadores do Brasil –CTB- (575 mil filiados), Nova Central Sindical dos Trabalhadores
- NCST-(cerca de 380 mil filiados) e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil
- CGTB-(cerca de 340 mil filiados).
As
seis centrais recebem juntas, anualmente, cerca de 100 milhões de reais de repasse,
pelo Governo Federal, do imposto arrecadado anualmente dos 44 milhões de
trabalhadores com carteira assinada, correspondente ao valor da remuneração por
um dia de trabalho, conforme determina a Constituição. O montante é repartido
de acordo com a representatividade de cada organização.
Durante
o seu governo, o Presidente Lula dispensou as organizações sindicais da prestação
de contas do emprego do imposto sindical, mas o Tribunal de Contas da União tem
realizado investigações sigilosas a respeito da destinação dos recursos.
Com
tanto dinheiro e poder, os sindicatos brasileiros podem realmente criar
problemas para a Presidenta Dilma, mas o governo também pode criar problemas
para o sindicalismo.
No
mundo e, particularmente, no Brasil, as condições atuais de atuação do
sindicalismo continuam distantes das previsões de Georges Sorel sobre a força
política universal dos sindicatos ou a possibilidade de greve geral proletária,
idéias conhecidas como “o mito soreliano”.
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