domingo, 12 de agosto de 2012

Crônica sobre o poder dos anatídeos


Muito se estuda o Poder, como fenômeno natural ou político, com suas leis fundamentais (sete para alguns, mais de 40 catalogadas por alguns autores), mas os critérios de pesquisa são múltiplos e as interpretações de resultados variam conforme os campos de sua incidência, conforme Norberto Bobbio.

Com mais frequência, se estudam as manifestações do poder na política nacional e internacional, sendo objeto da Cratologia, “a ciência que trata da cracia, do exercício do poder pela força”, uma definição dentre inúmeras formuladas, mas, que esbarra nos conceitos de Michel Foucault sobre os micropoderes que se distribuem capilarmente numa sociedade.

Tanto Bobbio quanto Foucault, os quais menciono aqui  como referências nesta crônica política, por razões didáticas, mas não por considerá-los como os maiores expoentes de uma galeria ampla de autores antigos, modernos e contemporâneos, abstem-se do enfoque  cosmológico e natural do  poder.

Considero razoável refletir sobre três naturezas de poder: Poder cosmológico, poder natural e poder naturo-artificial. Há uma relação hierárquica entre eles, mas as leis que os regem são diferentes.

O poder cosmológico maior é o das estrelas, sendo o sol uma delas e responsável pela vida na terra e pelos fenômenos climáticos; o poder natural é o do pato, marreco, mergulhão, ganso, cisne, etc. (da família dos Anatídeos), únicas aves que podem voar andar na terra e frequentar a água com competência; o poder naturo-artificial é o do homem, que é gerado pela racionalidade intrínseca à natureza humana. 

As leis que regem o sol são pouco conhecidas, por mais que a ciência tenha desenvolvido estudos a seu respeito e tente desvendar as origens da vida através das partículas elementares; as que regem as aves e os homens são relativamente mais conhecidas.

As aves em geral praticamente ignoram a lei da gravidade, depois que aprendem a voar, e a sua capacidade de equilíbrio nas situações mais desafiadoras no solo e nas alturas (penhascos, edifícios, árvores) é admirável. O pato e os seus familiares são dotados de características únicas.

O pato é o único animal que consegue dormir com uma metade do cérebro e manter a outra em alerta. O voo em V dos gansos é uma forma de inteligência natural aplicada a vários ramos do conhecimento humano. Em migração, tais aves podem voar muito alto, contrariando as anedotas que o comparam negativamente com a águia.

Em termos cratológicos, uma força armada ideal é aquela que combina atuação conjunta das forças terrestres, marítimas e aéreas, ou seja, uma força que reproduzisse o modelo de poder natural dos anatídeos.

Com sua capacidade intelectual, o homem consegue espelhar-se em alguns animais e compensar suas limitações físicas. Observando as aves, construiu o avião; observando os peixes, répteis, anfíbios e felinos, construiu navios, submarinos e veículos terrestres. Estudando o cosmos, chegou ao espaço sideral, tornando-se, neste aspecto, superior às aves.

Dentre as forças principais, magnética, nuclear e gravitacional, esta última é a menos conhecida, apesar dos estudos avançados de Newton e Einstein, mas os cientistas, com trabalhos centrados em laboratórios, dedicam pouca atenção à capacidade de flutuação das aves, dentre as quais se destacam os anatídeos.

Há muitas teorias sobre a lei da gravidade, estudos avançados na física, biologia, química, geografia, história, matemática e astronomia, mas é curioso como o homem negligencia a observação desse fenômeno que é o pato.

Por quais razões essa ave reúne características que lhe dão esse poder sobre o céu, a terra e a água? Como as aves voadoras, ou mesmo alguns insetos e animais alados, conseguem neutralizar a força da gravidade, e esta continua sendo misteriosa para a ciência? O voo do besouro, inseto pesado, desajeitado e dotado de asas pequenas, contraria leis da física...

Enquanto os astrofísicos focam seus telescópios poderosos no cosmos, poderiam, talvez, encontrar preciosas informações nos anatídeos sobre a força gravitacional, em vez de relegá-los a simples espécies da ornitologia e objetos de anedotário popular. Exótico e desajeitado em seu caminhar, o pato carrega mistérios que precisam ser desvendados.

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