Adriano Benayon *
Desta vez,
abordemos trágicos aniversários no âmbito mundial, começando por agosto de
1979, quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal Reserve dos EUA
– FED, a instituição privada dos bancos da oligarquia, que exerce o poder, como
banco central.
2. Logo em
outubro, a taxa de juros (prime rate) nos EUA foi dobrada para acima de 20%
aa. Assim, acelerou-se a crise da dívida latino-americana, eclodida em 1982,
levando o Brasil, até hoje, a pagar juros e amortizações, em montantes
insuportáveis. Ademais, a dívida serviu de pretexto para privatizar de graça
inestimáveis patrimônios das estatais e do Estado.
3. A recessão nos
EUA fez o rendimento familiar médio de 1981 a 1983 ser o mais baixo dos anos 60
até o presente.
4. Vendo-se
desimpedida com a dissolução da União Soviética, a oligarquia anglo-americana -
cujas agressões militares não cessam - empreendeu, desde agosto de 1990,
com aliados e satélites da OTAN, a devastação do Iraque” a bombas de urânio.
5. Para a queda da
União Soviética muito contribuiu a Al Qaeda, organização terrorista islâmica
patrocinada pelos EUA através do serviço secreto paquistanês.
6. Em 11 de
setembro de 2001, atribuíram à Al Qaeda ter destruído as Torres Gêmeas em
Nova York, na realidade implodidas por serviços do governo estadunidense, a fim
de, entre outros objetivos, justificar nova sequência de intervenções armadas
no Oriente Médio, visando controlar mais petróleo e assegurar a sobrevida do
dólar como divisa internacional.
7. De fato, o
inflacionado dólar depende de serem liquidadas nessa moeda as importações de
petróleo, a principal mercadoria do comércio mundial. Mas qual é a relação da
escalada militar com a depressão que assola EUA, Europa, Japão e outros?
8. O eminente Paul
C. Roberts, no artigo “Revolução vinda de cima”, de 12.09.2012, mostra que os
povos foram reduzidos à servidão e resume: “a maioria dos americanos não
pode pagar por guerras de muitos trilhões de dólares durante 11 anos, cobrir
trilhões de dólares de apostas de cassino, praticadas em Wall Street, ter
seus empregos de classe média exportados pelas transnacionais (corporations), e
ainda esperar renda mais alta.”
9. A depressão
econômica é a única coisa que poderia ter resultado da concentração de renda,
fomentada pelos governos, ao permitirem tudo aos banqueiros, financeirizando a
economia e facilitando a movimentação dos capitais inclusive para os paraísos
fiscais, além de reduzir os impostos das transnacionais e dos super-ricos.
10. Daí outro aniversário
(setembro de 2008), o da falência do banco de investimento Lehman Brothers,
marco do colapso financeiro em curso.
11. O notável economista
Michael Hudson (entrevista a K. Fitzgerald, em 17.09.2012) aponta: “O que se
tem na Europa e em outros países neoliberais é loucura, encolhimento econômico,
emigração, vida mais curta, taxas decrescentes de formação de famílias, taxas
crescentes de doenças e de suicídios. Esse é o plano neoliberal de Chicago
chamado ‘mercados livres’ ”.
12. A análise de
Hudson ajuda a verificar que, estando a grande maioria dos cidadãos em declínio
econômico e endividada, os trilhões de dólares que o FED injeta nos bancos de
nada servem para dinamizar a economia, pois a procura dos consumidores é
decrescente e falta demanda para investimentos produtivos.
13. Como lembra
Hudson, criar crédito implica criar dívidas, e as dívidas são o problema: “Criando
ainda mais dívidas não se resolve o problema da deflação decorrente das
dívidas, nem a bolha da economia.”Mais: “Os bancos não dão empréstimos
para construir fábricas e empregar gente, mas sim a piratas corporativos para
comprar empresas, demitir trabalhadores, contratar não-sindicalizados e no
exterior, e fazer encolher a economia.”
14. Os banqueiros e
seus grandes clientes aplicam os trilhões de capital, recebido do FED a juros
quase zero, em títulos do Tesouro dos EUA, ganhando juros, e no exterior, por
exemplo, Brasil, a juros de dois dígitos, e na Europa endividada, a taxas
crescentes.
15. Eis, nas
palavras de Hudson, a atitude dos banqueiros:“Quando os países ficam
quebrados pelo encolhimento de suas economias, nós lhe dizemos: ‘privatizem
suas propriedades, seu subsolo, os recursos naturais, privatizem seus sistemas
telefônicos etc.; vendam-nos tudo, para que criemos monopólios e peguemos o
dinheiro para nós mesmos.’ ...Por isso não queremos que vocês façam o que fazem
os países civilizados: criar seu próprio dinheiro e administrar déficits
governamentais.”
16. Vê-se, pois,
que o desastre promovido, de há muito, no Brasil ganha corpo nos EUA,
especialmente em Estados, cidades e condados, bem como na maioria dos países
europeus.
17. A maioria dos
economistas julga que haverá queda significativa também na China. Entretanto,
os dirigentes chineses estão reorientando a economia para o mercado interno e
elevarão ainda mais os padrões de vida locais, pondo-se a salvo dos efeitos da
crise mundial.
18. Procedem assim,
porque não são controlados por banqueiros privados nem pela oligarquia
ocidental. Por isso, trabalham na estrutura econômica. Não são crentes
das políticas macroeconômicas keynesianas.
19. Essas panaceias
do Ocidente são impotentes para debelar a depressão, porque o sistema de poder
quer reforçar a tendência estrutural de maior concentração, o mesmo fator que
determinou a intratável questão das dívidas.
20. Nos EUA,
premidos pela profundidade da depressão, o FED, mais uma vez (setembro de
2012), recorre à expansão monetária. Vai resgatar de títulos do Tesouro e
títulos hipotecários, estes no montante de US$ 40 bilhões por mês (Que
mensalão!).
21. Assim, sobem as
cotações das ações na Bolsa de Nova York e alimenta-se a procura especulativa
por commodities, mas tudo isso está fadado a ruir abruptamente, logo que a
depressão não possa ser mais camuflada.
Efeitos para o
Brasil
22. O modelo
dependente, através do qual as transnacionais se apoderaram da economia, causou
deterioração estrutural. De sobra, deixa o país endividado (a dívida interna,
em boa parte, está nas mãos de estrangeiros) e no limiar da crise nas contas
externas.
23. Essa se
aproxima com o esmorecer da procura mundial e da valorização dos minérios,
processados ou não, o que eleva o insustentável déficit nas transações
correntes com o exterior.
24. A crise no
Brasil tende a inverter o fluxo de investimentos estrangeiros, os quais têm
equilibrado o balanço de pagamentos, de modo nada salutar. Fator adicional de
desequilíbrio é o aumento das taxas de juros das dívidas interna e externa,
cujos montantes somam cerca de US$ 2 trilhões.
25. A atual
política de investimentos, através de parcerias público-privadas e de
financiamentos do BNDEs está criando elefantes brancos, cuja produção, uma vez
concretizada, tende a causar prejuízos ao erário público, porquanto encontrará
estagnados o mercado interno e a procura externa.
26. Não há,
portanto, saída viável para o Brasil sem confrontação com as entidades
predadoras conhecidas como “comunidade financeira internacional”, não só
envolvendo auditoria da dívida e a supressão da indevida, mas também
intervenção estatal na estrutura produtiva para acabar com a concentração em
mãos de carteis transnacionais.
27. Esse
indispensável curso de ação, embora doloroso nos estágios iniciais, resultaria
em ganhos inestimáveis, inclusive porque não haveria maneira de levá-lo adiante
sem gerar tecnologia nacional para produzir os bens de capitais e os insumos
necessários ao reerguimento da economia.
28. De fato, mesmo
excluindo retaliações dos países imperiais, o Brasil estará, de qualquer modo,
impossibilitado de importar esses bens, em face do que apontei nos parágrafos
22 a 24.
*
- Adriano Benayon é doutor em economia e autor de Globalização versus
Desenvolvimento.
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