Adriano Benayon *
O jornal Valor publicou, em setembro, artigos de dez “renomados”
economistas sobre a “crise” mundial e seus desdobramentos. Na realidade,
trata-se de depressão econômica, caracterizada por queda, desde 2008, de
emprego, produção, consumo e investimentos, em quase todos os
países“desenvolvidos”.
2. Pior que esconder a depressão nas estatísticas oficiais é não
apontar-lhe a causa essencial: a concentração dos meios de produção e
das finanças sob o comando de um grupo de pessoas contáveis nos dedos,
coadjuvadas por executivos cujo total não passa de 0,001% da população (mil
vezes menos que o falado 1%).
3. A concentração determina as causas imediatas do colapso e da
depressão:
a) desregulamentação (falta de controles públicos e supressão dos que
havia) dos mercados financeiros, deixados ao bel prazer dos alavancadores dos
títulos podres, como derivativos de 600 trilhões de dólares (nessa moeda e em
euros);
b) os bancos e financeiras, manipuladores e aproveitadores da criação de
títulos, não arcarem com os ônus dos estragos que produziram, postos nos ombros
dos Estados, que viraram devedores de créditos de que não se beneficiaram.
4. Ainda mais importante que entender as causas é atentar para o fato de
a depressão continuar, porque isso interessa à oligarquia financeira, detentora
do real governo nas “democracias” ocidentais.
5. De fato, a depressão serve para tornar ainda maior a concentração
do capital, e mais absoluto o poder oligárquico. Serve como? Enfraquecendo
ainda mais os Estados nacionais, dos quais a oligarquia se havia apoderado.
6. Com o Estado subordinado aos oligarcas, quem irá conter os abusos
tirânicos e quem propiciará algum espaço à verdadeira economia de mercado,
capaz de viabilizar o desenvolvimento tecnológico através da competição e da
demanda em economias livres da concentração?
7. Depois do colapso financeiro originado nos derivativos, em vez de se
liquidarem os bancos metidos neles - como de direito, se as sociedades tivessem
governos a seu serviço - os colossais prejuízos decorrentes da especulação
foram transferidos para os Estados, que passaram a ser os grandes endividados.
8. A partir das dívidas públicas assim engendradas, as políticas sob o
comando dos bancos levam à falsa austeridade e às privatizações favorecedoras
dos carteis dos oligarcas. Através delas desaparecem não só estatais, mas
também grande massa de empresas médias e pequenas.
9. No setor“privado” reinam os grandes bancos e os carteis
transnacionais, cada vez mais abrangentes. Fecham-se as portas do capitalismo a
ingressantes da classe média alta. A oligarquia consolida seu status de
tirania.
10. Diferentemente do que muitos dizem, a crise econômica atual não
provém somente do liberalismo, mas, sim, de o mundo estar dirigido e
regulado pelos concentradores. Só os oligarcas ficam livres da
regulamentação.
11. A depressão nos EUA, Europa e Japão leva à queda das exportações da
China, a qual pretende acelerar a expansão do mercado interno e reduzir o ritmo
de crescimento dos investimentos em favor da elevação do consumo.
12. Assim, a função de locomotiva do dinamismo mundial, desempenhada
ultimamente pela China, não deverá prosseguir na mesma intensidade, prevendo-se
queda nas importações de minérios e, portanto, das exportações do Brasil e da
Austrália.
13. Em conclusão, nada se vê no horizonte, capaz de interromper o
presente círculo vicioso, na maioria dos países, de deterioração das condições
sociais e da infra-estrutura econômica.
14. EUA e Europa prosseguem emitindo moeda para comprar títulos podres,
o que reduz quedas no valor dos ativos financeiros e das commodities. Mas isso
só adia nova recaída, enquanto avilta, ainda mais, o dólar e o euro, moedas que
não mais deveriam ser aceitas como divisas internacionais.
15. Muitos recordam que a grande depressão mundial dos anos 30 somente
acabou devido ao choque de procura da Segunda Guerra Mundial, a partir de
1942/43.
16. Mas então, só nos EUA, foram mobilizadas 14 milhões de pessoas, e
agora, os conflitos armados não mais geram mais tantos empregos, nem mesmo nas
indústrias de armamentos e nas básicas. Só matam aos milhões, com armas
intensivas de tecnologia.
17. As agressões a diversos países desde 2001, as quais contribuíram
para elevadíssimos déficits orçamentários, visam elevar os lucros da indústria
bélica, um dos grandes feudos da oligarquia, ademais dos objetivos imperiais.
18. A guerra em grande escala seria muito mais dispendiosa e tornou-se
menos provável, porque surge uma superpotência, a China, além de ocorrer alguma
recuperação do poder bélico da Rússia, ex-superpotência que propiciou o
equilíbrio desaparecido no final dos anos 80.
19. Por fim, não há necessidade de novas guerras monstruosas, além de
inúteis para sair da “crise”. A saída não é difícil, se se puser cobro à
tirania política da oligarquia financeira.
20. Bastaria os Estados assumirem o controle de seus Tesouros e dos
bancos centrais, extinguirem o grosso das dívidas que inviabilizam a
sanidade das economias e promoverem investimentos produtivos estatais e
privados no âmbito de uma economia descartelizada.
21. Fora disso, i.e., sem transformação das relações de poder, o
cenário é mais depressão, e a dificuldade para essa transformação
decorre da deterioração, em todos os aspectos, da vida dos povos subjugados
pelo império.
22. Com efeito, a tirania conta, para afastar a revolução, com os frutos
de investimentos, desde há um século, nas indústrias da comunicação social e do
entretenimento e nos sistemas de “educação”, para destruir valores e culturas e
embotar o discernimento, tudo isso potencializado por mais tecnologia.
23. A destruição das Torres Gêmeas em Nova York e o ataque ao Pentágono,
realizados pelo Estado policial, há onze anos, são exemplos notáveis da
produção de terror para justificar agressões imperiais e reforçar leis
repressoras totalitárias.
24. É em cima dessas realidades, desconhecidas da maioria, que se monta
nos EUA o mega-espetáculo das eleições presidenciais.
25. A eleição para presidente da maior superpotência mundial deveria ser
evento de capital importância, merecedor da cobertura que tem, se houvesse real
opção para os eleitores.
26. Trata-se, porém, de algo irrelevante, já que, como de hábito, os
candidatos dos dois partidos estão igualmente vinculados à oligarquia
concentradora, sediada em Wall Street, Londres e outras praças-chave da finança
mundial.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do
livro "Globalização versus Desenvolvimento"
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