terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Dois anos de Governo Dilma Rousseff


Leio excelente coluna de Arnaldo Jabour para o jornal “O Estado de S.Paulo”, intitulada “Náusea”, e abro email que recebo contendo coluna escrita por Reinaldo Azevedo”, que aponta rombo de um bilhão de dólares na Petrobrás, por conta de péssimos negócios realizados na gestão  de Sérgio Gabrielli, em 2005,  ao mesmo tempo em que faço uma  avaliação  da política nacional e internacional em 2012, pensando no Brasil como sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
 O segundo ano do Governo Dilma Rousseff aponta um descompasso entre o seus índice de popularidade obtido em recente pesquisa -78%- e os resultados  de seu governo na economia –um Produto Interno Bruto de 1,5% e projeção de 4% para 2013 pelo Fundo Monetário Internacional.
Obviamente, a crise financeira ainda não chegou à maioria da população, embora no dia-a-dia, pelo menos em Brasília, sede do funcionalismo público federal, seja constatável, no comércio em geral, a falta de dinheiro e o endividamento da população. Shoppings repletos de gente estão vendendo quinquilharias a crédito. Se Brasília está assim, imagine-se o resto do País, às vésperas do “fim do mundo”...
A burocratização de órgãos públicos e privados cresce a galope e emperra a economia e os serviços nas grandes e pequenas cidades. É um aspecto cultural que merece ser observado com atenção, porque tem o poder de afetar a economia, a cidadania e a própria democracia, tanto quanto a corrupção na sociedade  e no Estado e a falta de transparência nas políticas públicas.
No campo político, o processo do “Mensalão” dominou o cenário e causou algum impacto nas eleições municipais, mas não impediu a consolidação da coalizão que governa o País. O ano se encerra, no entanto com dois fatos relevantes:

1)      O Partido dos Trabalhadores envelheceu precocemente no poder, por conta do “Mensalão” e da série de denúncias envolvendo sua maior figura, o ex-presidente Lula, sob cuja gestão ocorreram  a compra de votos parlamentares, o rombo de um bilhão na Petrobrás e as falcatruas da sua amante, Rosemary Noronha, demitida recentemente do escritório da Presidência da República em São Paulo, como resultado da “Operação Porto Seguro” da Polícia Federal;

2)       O Poder Judiciário se encontra em rota de colisão com o Poder Legislativo, por causa da “cassação”, pelo Supremo Tribunal Federal, dos mandatos de  três deputados condenados pelo “Mensalão”, e pela decisão do ministro Luiz Fux, da mesma Corte, de suspender a votação, no Congresso Nacional, da denominada ”Lei dos Royalties do Petróleo”. 

Por mais que se irrite com as denúncias já feitas e que virão ainda contra sua gestão, ferido na asa, o ex-presidente Lula perdeu suas condições para voltar à Presidência da República, se fosse essa de fato sua intenção. Além da perda de credibilidade, ressente-se da saúde  precária. O PT continuará acusando esses golpes...
A questão da “judicialização da política”, como querem alguns críticos do STF, esbarra na interpretação constitucional. O STF tem poder para dizer o que é ou não constitucional, e usou esse poder cassando os mandatos parlamentares e deixando à Câmara dos Deputados, também amparada na Constituição, apenas referendar a decisão judiciária. No caso da “Lei dos Royalties”, o presidente do Senado Federal, José Sarney, considera ingerência indébita do STF no Legislativo. Ocorrendo ou não a votação, a palavra final também ficará com o STF, e isso terá desdobramentos em 2013.
Outro fato que apresenta potencial de denúncias vem sendo noticiado pela Internet: Alexandre Neto, “hacker” de 19 anos, provou recentemente, durante debates promovidos pela Fundação Brizola sobre o processo eleitoral, no Rio de Janeiro, que as urnas eletrônicas são facilmente violáveis, e afirmou que conseguiu alterar dados e favorecer candidatos nas últimas eleições municipais. O Tribunal Superior Eleitoral nada diz, mas a democracia brasileira está ameaçada...
A morte do arquiteto Oscar Niemeyer também merece destaque. Surpreendentemente, admirador de Joseph Stalin, um dos maiores carniceiros da história, Niemeyer, como arquiteto de si mesmo, soube conciliar suas convicções ideológicas com seu gênio profissional e talento empresarial, permitindo ao comunismo internacional  a capitalização propagandística de sua imagem como ícone maior do movimento na atualidade.
Na política externa, o segundo ano do Governo Dilma tem sido marcado pela tentativa de se transformar o Brasil em maior protagonista na política mundial, em especial em  centros de poder e órgãos como a ONU,OEA,FMI,OMC, na crise econômica européia e nas negociações de paz no Oriente Médio; fortalecimento do Brasil  entre os BRICS; atração de investimentos , ampliação das exportações e aquisição de tecnologias.. Com a reeleição do Presidente Obama, Dilma mantem linha especial de entendimento com Washington, garantindo a liderança brasileira  na América do Sul, principalmente com a produção de petróleo, etanol , alimentos, automóveis e aeronaves
 No campo econômico, o pífio desempenho do Produto Interno Bruto –PIB- e a inflação ameaçam a meta oficial de crescimento da economia e o objetivo, anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de o Brasil chegar à posição de quinta economia mundial. O País corre o risco de perder a atual sexta posição.
 Há um verdadeiro banquete do setor financeiro, à frente o sistema bancário, com lucros abusivos e serviços cada vez menos satisfatórios para os clientes, tanto nos estabelecimentos públicos quanto nos privados. A bolha imobiliária continua sendo inflada a bel-prazer dos setores financeiro e da construção civil e os juros continuam escorchantes para empréstimos, crediários e financiamentos.
No campo psicossocial, destacam-se os altos índices de crimes ocorridos nas principais cidades brasileiras (a criminalidade em São Paulo é corriqueira, mas desta vez está sendo noticiada por razões políticas) e de mortes no trânsito, além da farra das empresas de telefonia e de transportes aéreo e rodoviário, que tratam os usuários e clientes sem preocupação com a eficiência e a qualidade no atendimento. As tarifas sobem sem explicações oficiais e os aeroportos e rodoviárias se transformaram em centros de tortura aos viajantes.
A hotelaria, seguindo a moda especulativa, não se limita à lei da oferta e demanda de quartos: Eleva as diárias ao sabor do noticiário econômico e das correntes turísticas. Falta uma política de fiscalização hoteleira.
 Hospitais e escolas continuam na sua lenta evolução, em termos de qualidade, e os ensinos superior e de pós-graduação, com a proliferação de faculdades particulares (a mercantilização excessiva do saber)  carecem de reestruturação tanto nos estabelecimentos públicos quanto privados.
 No campo militar, nada de excepcional, a não ser o agrado que o ministro da Defesa, Celso Amorim, conseguiu com reajustes à remuneração militar e verbas para renovação de equipamentos, mas o País continua com suas Forças Armadas necessitadas de investimentos à  altura do seu potencial  e da missão constitucional dos militares.
No campo científico-tecnológico, permanecem pesquisas importantes na área de produção de alimento, de energia (inclusive a nuclear) e de insumos industriais, entre os quais produtos minerais e farmacêuticos.
Concluindo, se o mundo sobreviver ao 21 de dezembro, os escatologistas terão munição suficiente para renovar suas  profecias para 2013 e anos subsequentes, porque os cenários nacional e internacional, como observa Jabour, são nauseabundos, neste mundo globalizado. Sartre reescreveria “Náusea” hoje com mais autoridade...

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