Leio excelente coluna de Arnaldo
Jabour para o jornal “O Estado de S.Paulo”, intitulada “Náusea”, e abro email
que recebo contendo coluna escrita por Reinaldo Azevedo”, que aponta rombo de um
bilhão de dólares na Petrobrás, por conta de péssimos negócios realizados na
gestão de Sérgio Gabrielli, em 2005, ao mesmo tempo em que faço uma avaliação
da política nacional e internacional em 2012, pensando no Brasil como
sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
O segundo ano do Governo Dilma Rousseff aponta
um descompasso entre o seus índice de popularidade obtido em recente pesquisa
-78%- e os resultados de seu governo na
economia –um Produto Interno Bruto de 1,5% e projeção de 4% para 2013 pelo
Fundo Monetário Internacional.
Obviamente, a crise financeira
ainda não chegou à maioria da população, embora no dia-a-dia, pelo menos em
Brasília, sede do funcionalismo público federal, seja constatável, no comércio
em geral, a falta de dinheiro e o endividamento da população. Shoppings
repletos de gente estão vendendo quinquilharias a crédito. Se Brasília está
assim, imagine-se o resto do País, às vésperas do “fim do mundo”...
A burocratização de órgãos
públicos e privados cresce a galope e emperra a economia e os serviços nas
grandes e pequenas cidades. É um aspecto cultural que merece ser observado com
atenção, porque tem o poder de afetar a economia, a cidadania e a própria
democracia, tanto quanto a corrupção na sociedade e no Estado e a falta de transparência nas
políticas públicas.
No campo político, o processo do “Mensalão”
dominou o cenário e causou algum impacto nas eleições municipais, mas não
impediu a consolidação da coalizão que governa o País. O ano se encerra, no
entanto com dois fatos relevantes:
1) O
Partido dos Trabalhadores envelheceu precocemente no poder, por conta do “Mensalão”
e da série de denúncias envolvendo sua maior figura, o ex-presidente Lula, sob
cuja gestão ocorreram a compra de votos
parlamentares, o rombo de um bilhão na Petrobrás e as falcatruas da sua amante,
Rosemary Noronha, demitida recentemente do escritório da Presidência da
República em São Paulo, como resultado da “Operação Porto Seguro” da Polícia
Federal;
2) O Poder Judiciário se encontra em rota de colisão
com o Poder Legislativo, por causa da “cassação”, pelo Supremo Tribunal
Federal, dos mandatos de três deputados
condenados pelo “Mensalão”, e pela decisão do ministro Luiz Fux, da mesma
Corte, de suspender a votação, no Congresso Nacional, da denominada ”Lei dos
Royalties do Petróleo”.
Por mais que se irrite com as
denúncias já feitas e que virão ainda contra sua gestão, ferido na asa, o ex-presidente
Lula perdeu suas condições para voltar à Presidência da República, se fosse
essa de fato sua intenção. Além da perda de credibilidade, ressente-se da
saúde precária. O PT continuará acusando
esses golpes...
A questão da “judicialização da
política”, como querem alguns críticos do STF, esbarra na interpretação constitucional.
O STF tem poder para dizer o que é ou não constitucional, e usou esse poder
cassando os mandatos parlamentares e deixando à Câmara dos Deputados, também
amparada na Constituição, apenas referendar a decisão judiciária. No caso da “Lei
dos Royalties”, o presidente do Senado Federal, José Sarney, considera
ingerência indébita do STF no Legislativo. Ocorrendo ou não a votação, a
palavra final também ficará com o STF, e isso terá desdobramentos em 2013.
Outro fato que apresenta
potencial de denúncias vem sendo noticiado pela Internet: Alexandre Neto, “hacker”
de 19 anos, provou recentemente, durante debates promovidos pela Fundação
Brizola sobre o processo eleitoral, no Rio de Janeiro, que as urnas eletrônicas
são facilmente violáveis, e afirmou que conseguiu alterar dados e favorecer
candidatos nas últimas eleições municipais. O Tribunal Superior Eleitoral nada
diz, mas a democracia brasileira está ameaçada...
A morte do arquiteto Oscar Niemeyer também merece destaque. Surpreendentemente, admirador de Joseph Stalin, um dos maiores carniceiros da história, Niemeyer, como arquiteto de si mesmo, soube conciliar suas convicções ideológicas com seu gênio profissional e talento empresarial, permitindo ao comunismo internacional a capitalização propagandística de sua imagem como ícone maior do movimento na atualidade.
Na política externa, o segundo
ano do Governo Dilma tem sido marcado pela tentativa de se transformar o Brasil
em maior protagonista na política mundial, em especial em centros de poder e órgãos como a
ONU,OEA,FMI,OMC, na crise econômica européia e nas negociações de paz no
Oriente Médio; fortalecimento do Brasil entre os BRICS; atração de investimentos ,
ampliação das exportações e aquisição de tecnologias.. Com a reeleição do Presidente
Obama, Dilma mantem linha especial de entendimento com Washington, garantindo a
liderança brasileira na América do Sul,
principalmente com a produção de petróleo, etanol , alimentos, automóveis e
aeronaves
No campo econômico, o pífio desempenho do
Produto Interno Bruto –PIB- e a inflação ameaçam a meta oficial de crescimento
da economia e o objetivo, anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de
o Brasil chegar à posição de quinta economia mundial. O País corre o risco de
perder a atual sexta posição.
Há um verdadeiro banquete do setor financeiro,
à frente o sistema bancário, com lucros abusivos e serviços cada vez menos
satisfatórios para os clientes, tanto nos estabelecimentos públicos quanto nos
privados. A bolha imobiliária continua sendo inflada a bel-prazer dos setores financeiro
e da construção civil e os juros continuam escorchantes para empréstimos, crediários
e financiamentos.
No campo psicossocial,
destacam-se os altos índices de crimes ocorridos nas principais cidades brasileiras
(a criminalidade em São Paulo é corriqueira, mas desta vez está sendo noticiada
por razões políticas) e de mortes no trânsito, além da farra das empresas de
telefonia e de transportes aéreo e rodoviário, que tratam os usuários e clientes
sem preocupação com a eficiência e a qualidade no atendimento. As tarifas sobem
sem explicações oficiais e os aeroportos e rodoviárias se transformaram em
centros de tortura aos viajantes.
A hotelaria, seguindo a moda
especulativa, não se limita à lei da oferta e demanda de quartos: Eleva as
diárias ao sabor do noticiário econômico e das correntes turísticas. Falta uma
política de fiscalização hoteleira.
Hospitais e escolas continuam na sua lenta
evolução, em termos de qualidade, e os ensinos superior e de pós-graduação, com
a proliferação de faculdades particulares (a mercantilização excessiva do
saber) carecem de reestruturação tanto
nos estabelecimentos públicos quanto privados.
No campo militar, nada de excepcional, a não
ser o agrado que o ministro da Defesa, Celso Amorim, conseguiu com reajustes à
remuneração militar e verbas para renovação de equipamentos, mas o País continua
com suas Forças Armadas necessitadas de investimentos à altura do seu potencial e da missão constitucional dos militares.
No campo científico-tecnológico,
permanecem pesquisas importantes na área de produção de alimento, de energia (inclusive
a nuclear) e de insumos industriais, entre os quais produtos minerais e
farmacêuticos.
Concluindo, se o mundo sobreviver
ao 21 de dezembro, os escatologistas terão munição suficiente para renovar suas
profecias para 2013 e anos subsequentes,
porque os cenários nacional e internacional, como observa Jabour, são
nauseabundos, neste mundo globalizado. Sartre reescreveria “Náusea” hoje com
mais autoridade...
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