Adriano Benayon*
I - Mundo
A “crise
global” vai completar seis anos em 2013, e não há sinal de que termine sequer
nos próximos anos. Mas o que é essa crise?
2. Um de
seus aspectos é o colapso financeiro,
iniciado nos EUA, em 2007, com o estouro da bolha dos derivativos, nos quais os
bancos empacotavam hipotecas e outros débitos de cidadãos guiados para o
consumismo, enquanto a renda deles decrescia, e a oligarquia acumulava lucros e
bônus de dimensão jamais vista.
3. O
outro aspecto é a depressão econômica,
cuja manifestação mais dolorosa é o crescimento do desemprego, de já centenas
de milhões de pessoas.
4. A
“crise” abrange principalmente os EUA, o Japão e a Europa, e grande número de
países da América Latina, Ásia, Oriente Médio e África, com alto grau de
dependência em relação àqueles centros.
5. Mas a
“crise” não é mundial. A China apresenta dinamismo considerável e está perto de
ter a maior economia do Mundo, se é que já não a tem. Assume papel de economia
central e atenua a queda da demanda e dos preços dos bens intensivos de
recursos naturais, provenientes de países como o Brasil.
6. Também
Taiwan, Coréia do Sul, Hong Kong e mais um ou outro tigre asiático prosseguem
desenvolvendo-se, e países maiores - como Índia, Rússia e Irã - também crescem.
7. Se a
China e esses países combinarem os respectivos mercados internos, as trocas
regionais e a intensificação do intercâmbio entre todos eles, é possível que
permaneçam fora da crise.
8. Seja
como for, é deliberada, e muito profunda, a“crise” nos domínios dos grupos
financeiros anglo-americanos, pois oferece aos concentradores do capital a
oportunidade de concentrá-lo mais ainda, fazendo liquidar, ou adquirindo,
empresas que sobreviveram e prosperaram quando a economia crescia.
9. Então
os concentradores obtiveram lucros gigantescos não só de suas empresas
“produtivas”, mas ainda mais das manipulações do mercado financeiro,
propiciadas pelas “autoridades reguladoras” ao permitir aos bancos criar
dinheiro do nada e inventar todo tipo de derivativos, ilimitadamente.
10. Essas
facilidades são a origem do próprio colapso financeiro, do qual os
manipuladores saíram ilesos, graças ao socorro dos governos, em montantes que
passam de US$ 30 trilhões.
11. Pois,
sendo ilimitada a possibilidade de concentrar capital, os que o concentram,
controlam por completo as instituições financeiras e também todas as políticas
do Estado.
12. Dizem
haver democracia, mas desta só há teatro. Seu espetáculo mais notório são as
eleições, nas quais os candidatos são como jóqueis cujas blusas têm cores
diferentes, mas todos pertencem à mesma escuderia.
13. No
setor “produtivo”, o segmento que prospera são as indústrias bélicas. Resumo:
tudo decai, exceto a finança, que não é produtiva, e as armas, que servem para
destruir. A oligarquia parece bem assessorada para seu objetivo: o poder
absoluto, a tirania inconteste. Como ensinou o arguto Maquiavel, o poder vem do
ouro e das armas.
14. Essas
armas são usadas em intervenções militares no exterior, que se multiplicaram a
partir de 1990, após o fim da União Soviética. Desde os auto-ataques de 2001
(implosão das Torres em Nova York e o míssil atirado em fachada do Pentágono),
as agressões externas tornaram-se mais frequentes e brutais (à exceção da
devastação do Iraque em 1991).
15. Os
EUA implantaram leis inconstitucionais, de repressão a nacionais e
estrangeiros, que podem ser presos e torturados, sem ordem judicial. Os
movimentos de resistência têm sido contidos por métodos violentos.
16. Na
Espanha, Grécia, Inglaterra etc. têm sido reprimidas com armas as manifestações
de protesto dos que trabalham e dos desempregados massacrados pelas políticas
de “austeridade”.
17. Fica
claro que a oligarquia não teme mudança de regime, ao contrário da atitude
tomada após a 2ª Guerra Mundial, quando não impediu ampliar as políticas de
bem-estar social, diante da proximidade do poder militar soviético e de
partidos comunistas dentro de casa.
II - Brasil
18. No
Brasil tanto a situação econômica como a política inspiram sérios cuidados. E
deveria preocupar-nos, ainda mais, isto: não se costuma perceber ou admitir que
a grave doença de ambas não pode ser debelada senão a partir da eliminação de
suas causas profundas e estruturais.
19. Leva
a muito pouco dar razão aos keynesianos que recomendam aumentar a bolha do
crédito, preferentemente aos“neoliberais”, que, de modo maligno, pregam parar
com as quedas na taxa de juros da SELIC, enquanto, incoerentemente, reclamam
crescimento da economia.
20.
Nenhuma das receitas para a política macroeconômica - de qualquer escola - pode
impedir a descida do Brasil para o abismo a que se encaminha. Quem quiser
sonhar com o afastamento desse desenlace, tem que– para começo de conversa -
exigir intensa cura estrutural, norteada pela reversão da desnacionalização e
da concentração financeira e econômica.
21. Do
lado político, a oligarquia financeira e midiática local - subordinada à
oligarquia financeira mundial – está promovendo a desestabilização dos atuais
ocupantes do Executivo federal, como bodes expiatórios “responsáveis” pelo
descalabro que se avizinha, com qualquer curso na política econômica.
22. Os
casos de corrupção têm dossiês prontos, à espera da hora propícia para virem à
tona. Seus personagens pertencem aos mais variados partidos, pois a corrupção é
intrínseca ao sistema concentrador. Ainda mais, nos países periféricos,
riquíssimos em recursos naturais, e com mercado de razoável dimensão, como o
Brasil, presa de colossal saqueio.
23. Tais
casos vêm a público, como o do mensalão, punido pelo STF - afora os demais que
estão vindo - sempre que o sistema de poder real decide afastar do poder
oficial um “governante” – não necessariamente resistente àquele sistema - cuja
queda lhe seja de interesse.
24. Serve
para desviar o foco das reais causas do desastre econômico e social, e também
para podar as asas de “governantes”que alcançaram ou almejam grande
popularidade, além de abrir as portas do“governo” para outros agentes não menos
corruptos e mais entreguistas. Carreiristas de qualquer partido, desde que
aprovados pela oligarquia mundial, podem desempenhar esse papel.
25. Fica
fácil concluir que a indispensável transformação da estrutura econômica só é
possível juntamente com a substituição das instituições políticas (e
vice-versa).
* - Adriano Benayon é doutor em
economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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