quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Niemeyer, o arquiteto de si mesmo


 

Oscar Niemeyer, o arquiteto que o Brasil e o mundo inteiro reverenciam, falecido no último dia 5, no Rio de Janeiro, dizia que arquitetura é invenção; pois ele inventou a si mesmo, como  cidadão, profissional e político filiado ao Partido Comunista Brasileiro, desde que conheceu seu expoente no Brasil, Luis Carlos Prestes, em 1945.

Como cidadão, seguia os princípios de seu avô Ribeiro de Almeida, que fora ministro do Supremo Tribunal Federal e homem com vida pautada na lisura e simplicidade; como profissional, revolucionou a arquitetura com obras admiráveis espalhadas pelo Brasil e vários países; e, como político militante, proclamava que “as idéias marxistas continuam perfeitas; os homens é que poderiam ser mais fraternos.” Sem exagero, pode ser considerado o maior ícone comunista do século.

Torna-se evidente que a obra genial de Oscar Niemeyer projetou seu nome, mas o imenso destaque dado ao seu falecimento – cerca de 1.500 notícias publicadas no mundo inteiro, em menos de 24 horas , segundo registros de alguns sites  e jornais– se deve à sua condição de comunista convicto. Não me recordo de um brasileiro morto com tanta publicidade.

É como se a imprensa mundial, a esquerda internacional e os demais órgãos adeptos do Marxismo- Leninismo estivessem preparados para o anúncio da morte de Niemeyer, não desde a sua internação hospitalar, mas, há décadas, à espera da seiva de realimentação das esquerdas. Niemeyer torna-se uma raríssima oportunidade de exercício do internacionalismo pelo movimento comunista ortodoxo, estiolado por diversas correntes adeptas do socialismo nacionalista, dentre as quais se destaca a Social Democracia da Escola Austríaca liderada por  Bruno Kreisky. No Brasil, ela é representada pelo PSDB,enquanto os comunistas se encontram na legenda do Partido Popular Socialista -PPS-, de Roberto Freyre.

 A longevidade, a lucidez e a convicção comunista ortodoxa de Niemeyer criaram o clima de apoteose mundial ao ilustre arquiteto brasileiro, no instante em que se proclama o fim das ideologias e as esquerdas se encontram à deriva, derrotadas pelo capitalismo liberal, desde a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989.

Vejo Niemeyer como arquiteto de si mesmo, porque ele soube conciliar seus empreendimentos profissionais com o capital mantendo a sinuosidade de sua ideologia do trabalho, típica das curvas de suas arrojadas obras. A estátua de Juscelino Kubitscheck, no seu Memorial em Brasília, empunhando uma foice estilizada, é uma boa síntese dessa dissimulação.

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