Oscar
Niemeyer, o arquiteto que o Brasil e o mundo inteiro reverenciam, falecido no último
dia 5, no Rio de Janeiro, dizia que arquitetura é invenção; pois ele inventou a si mesmo, como cidadão, profissional e político filiado ao
Partido Comunista Brasileiro, desde que conheceu seu expoente no Brasil, Luis
Carlos Prestes, em 1945.
Como
cidadão, seguia os princípios de seu avô Ribeiro de Almeida, que fora ministro
do Supremo Tribunal Federal e homem com vida pautada na lisura e simplicidade; como
profissional, revolucionou a arquitetura com obras admiráveis espalhadas pelo
Brasil e vários países; e, como político militante, proclamava que “as idéias
marxistas continuam perfeitas; os homens é que poderiam ser mais fraternos.”
Sem exagero, pode ser considerado o maior ícone comunista do século.
Torna-se
evidente que a obra genial de Oscar Niemeyer projetou seu nome, mas o imenso
destaque dado ao seu falecimento – cerca de 1.500 notícias publicadas no mundo inteiro,
em menos de 24 horas , segundo registros de alguns sites e jornais– se deve à sua condição de comunista
convicto. Não me recordo de um brasileiro morto com tanta publicidade.
É
como se a imprensa mundial, a esquerda internacional e os demais órgãos adeptos
do Marxismo- Leninismo estivessem preparados para o anúncio da morte de Niemeyer,
não desde a sua internação hospitalar, mas, há décadas, à espera da seiva de
realimentação das esquerdas. Niemeyer torna-se uma raríssima oportunidade de exercício
do internacionalismo pelo movimento comunista ortodoxo, estiolado por diversas correntes
adeptas do socialismo nacionalista, dentre as quais se destaca a Social
Democracia da Escola Austríaca liderada por Bruno Kreisky. No Brasil, ela é representada pelo PSDB,enquanto os comunistas se encontram na legenda do Partido Popular Socialista -PPS-, de Roberto Freyre.
A longevidade, a lucidez e a convicção comunista
ortodoxa de Niemeyer criaram o clima de apoteose mundial ao ilustre arquiteto
brasileiro, no instante em que se proclama o fim das ideologias e as esquerdas
se encontram à deriva, derrotadas pelo capitalismo liberal, desde a queda do
Muro de Berlim, em novembro de 1989.
Vejo
Niemeyer como arquiteto de si mesmo, porque ele soube conciliar seus
empreendimentos profissionais com o capital mantendo a sinuosidade de sua
ideologia do trabalho, típica das curvas de suas arrojadas obras. A estátua de Juscelino
Kubitscheck, no seu Memorial em Brasília, empunhando uma foice estilizada, é
uma boa síntese dessa dissimulação.
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