· Manuel Cambeses Júnior*
O povo
brasileiro, ultimamente, de forma avassaladora, tem tomado conhecimento, cada
vez com maior assiduidade, de fatos e situações que, por sua sordidez,
confirmam a existência de destacados e numerosos focos de corrupção incrustados
na estrutura estatal.
Há algum
tempo a imprensa tem dado destaque a algumas revelações verdadeiramente
escandalosas sobre o envolvimento de políticos e autoridades governamentais em
atos desairosos e denunciado o enriquecimento ilícito de maus patriotas no
exercício da função pública.
Dentre os
casos mais recentes e mais retumbantes, destacam-se os escândalos envolvendo
políticos de diversos níveis, mancomunados com empresários inescrupulosos.
Se
adicionarmos a estes lamentáveis casos as denúncias e investigações que envolvem,
em diferentes oportunidades, funcionários do setor administrativo, inclusive
colaboradores diretos da Presidência da República, chega-se à conclusão de que
a maré de anomalias, torpezas e suspeitas está profundamente enraizada nos Três
Poderes do Estado.
É correto
que muitos desses deploráveis acontecimentos estão sendo investigados pela
Justiça, numa pálida tentativa de dar conta à opinião pública do que tem sido
realizado para coibir atos desta natureza. Entretanto, é importante salientar o
efeito desmoralizador que tal acúmulo de irregularidades e canalhices produzem
no ânimo coletivo.
É muito
difícil para a opinião pública assimilar o caudal de informações deprimentes
que golpeiam, diariamente, a sensibilidade dos cidadãos, sem que seja
experimentado um profundo desalento moral e observado, com um fundo de
incredulidade, o funcionamento das instituições sobre as quais repousa a ordem
republicana.
Ante esta
dura realidade é imprescindível criar-se, o quanto antes, as condições que
permitam reconstruir o prestígio da Organização Estatal, hoje fortemente
afetado pela sordidez desses maus brasileiros.
Uma
sociedade que não confia em suas instituições dificilmente poderá caminhar com
passo firme na direção de metas perduráveis de progresso, justiça e bem-estar.
A honorabilidade dos homens públicos, qualquer que seja o nível e a natureza de
sua função, é um oxigênio insubstituível para o desenvolvimento da capacidade
criativa do corpo social, que dificilmente mobilizará, com profundidade, suas
energias espirituais e materiais, se considerar que o fruto de seu esforço será
aproveitado, desavergonhadamente, pela voracidade, ambição, vileza e falta de
escrúpulos de uns poucos.
À
imprensa lhe corresponde uma missão fundamental nesta empreitada de
reconstrução nacional. Na maioria das vezes tem sido a mídia o instrumento de
denúncia de manejos ilícitos por quem exerce o poder (seja de quem tenha
chegado à função pública pelo voto popular ou de quem desempenha cargo de
confiança em virtude de nomeação). É alarmante imaginar quantos focos de
corrupção teriam permanecido ocultos se os profissionais de imprensa não lhes
houvesse focado a luz. Daí ressalta-se o valor estratégico da liberdade de
expressão como pilar da ordem constitucional.
Frente à
onda de seguidos fatos e focos de corrupção que ameaçam erodir os alicerces do
Estado, toda a sociedade brasileira deve pôr-se de pé, para exigir que os atos
ilícitos identificados e denunciados pela imprensa – desde que devidamente
comprovados –, sejam punidos exemplarmente, e que os controles do sistema
democrático funcionem com eficácia e em plenitude, na salvaguarda da
transparência moral, que é a virtude suprema da República.
* O autor é Coronel-Aviador Reformado da Força Aérea
Brasileira; membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do
Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, conselheiro
do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica e conferencista especial da
Escola Superior de Guerra.
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