quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mistério é trunfo para sucessão no poder



A lendária figura de Rodrigo Diaz de Bivar, o militar castelhano “El Cid”, que viveu no século XI e que teve seu corpo amarrado à sela de um cavalo para liderar o exército valenciano em vitória contra os mouros, tem inspirado transições governamentais nos tempos modernos.

No cinema, em 1961,“El Cid” foi interpretado por Charlton Heston, e sua mulher, Ximena, teve por intérprete Sofia Loren, que ordena aos valencianos que o corpo do marido, falecido em sua cama, em sua residência, em Valência, fosse usado para amedrontar os adversários.

No Brasil, o presidente eleito Tancredo Neves, que não chegou a tomar posse, teve sua imagem moribunda transmitida diretamente do hospital pela televisão, em 14 de março de 1985, deixando o País em transe, enquanto, nos bastidores políticos, se desencadeava disputa pelo poder entre o deputado Ulysses Guimarães, que queria nova eleição, e o vice de Tancredo, José Sarney, que teve sua posse assegurada pelos militares.

Em 2011, na Coréia do Norte, o férreo regime, imposto pelo líder e ditador Kim Jong-il ,protelou para o mundo, pelo  tempo que pode, o real estado de saúde terminal do ditador, e mesmo o ditador cubano Fidel Castro, por diversas vezes  dado como morto, em 2012, teve sua sucessão administrada pelo grupo palaciano, liderado por seu irmão Raul Castro, atual dirigente de fato.

E o presidente da Venezuela, Hugo Chàvez, eleito, mas ainda não empossado  constitucionalmente, por se encontrar ausente do País e em tratamento contra um câncer mortal, há vários meses, em Havana, começa a despertar suspeitas sobre sua morte, nos meios políticos, diplomáticos, militares e jornalísticos.

O vice-presidente Nicolás Maduro nega veementemente, mas o mínimo que se diz de Chàvez é que estaria em coma induzido. Os chavistas administram febrilmente a imagem do líder na disputa interna pela sua sucessão, enquanto o Itamaraty, inteiramente a par da verdadeira situação, mantém-se calado e agindo na surdina para que a sucessão não venha a desestabilizar as relações entre Brasília e Caracas.

O mistério é o artifício para se ganhar tempo no jogo das sucessões de poder, e até a “resignação” do Papa Bento XVI é revestida desse elemento fundamental da política, não importa se em dimensão micro ou macro.

 

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