Enquanto
o Vaticano se prepara para eleger o novo Papa, dentro de um clima de
perplexidade residual pela renúncia de Bento XVI - o cardeal Joseph Ratzinger
-, a Igreja Católica no Brasil perde uma importante trincheira das pastorais
sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB-, a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, conquistada numa verdadeira “blitzkrieg”
pela representação política das correntes evangélicas brasileiras.
Com 18
membros, dos quais 13 são pastores evangélicos, a Comissão elegeu, em
concorrida sessão realizada ontem, o deputado Marco Feliciano, do Partido
Socialista Cristão–PSC-, representante do Estado de São Paulo, ficando
demonstrada a capacidade de articulação da bancada das confissões evangélicas, cujo
número de adeptos no Brasil vem aumentando a cada ano, gerando preocupações
para a Igreja Católica. Cerca de 87% da população brasileira é cristã, sendo 65%
composta por católicos, mas os evangélicos já somam mais de 22%.
Houve
choro e ranger de dentes de deputados contrários à indicação de Feliciano e de
representantes de entidades detentoras tradicionais da bandeira dos direitos
humanos na Câmara, entre as quais o Movimento Nacional de Direitos Humanos, que
fez campanha nacional acusando Feliciano da prática de homofobia e de oposição
aos direitos das minorias. Foi necessária a presença da polícia legislativa para
garantir a sessão, fato raro no âmbito das comissões técnicas da Casa.
Conversei
com diversos parlamentares sobre o fato, os quais consideraram que a conquista
daquela Comissão pelos evangélicos é resultado do desprezo manifestado pelos
partidos da base parlamentar do Governo, em especial o Partido dos Trabalhadores
–PT- e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro –PMDB- por essa comissão
temática, com a priorização dos comandos das comissões que decidem sobre questões
jurídicas, econômicas, financeiras e orçamentárias.
Em
última análise, a questão dos direitos humanos incomoda o Governo, já às voltas
com a insatisfação de setores das Forças Armadas com o funcionamento da
denominada Comissão da Verdade, que apura crimes ocorridos durante a vigência
do regime militar instaurado em 1964.
A
figura de Dom Paulo Evaristo Arns, na época cardeal-arcebispo de São Paulo,
nomeado por Paulo VI e contemporâneo de Joseph Ratzinger, ganhou notoriedade
internacional pela sua luta na defesa dos direitos humanos,no período de 1964 a
1985. Sua atuação garantiu verdadeiro monopólio dessa bandeira para os
católicos no Congresso Nacional, nas últimas décadas.
Atualmente com 91 anos de
idade e vivendo num convento em Taboão da Serra, no interior do Estado de São
Paulo, Dom Evaristo, que completou 40 anos de cardinalato, no último dia 5, não
tem outra alternativa além de amargar
esse revés da Igreja Católica.
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