quinta-feira, 7 de março de 2013

Venezuela e o efêmero "Chavismo"


Tantas loas à figura do presidente Hugo Chàvez, da Venezuela, morto por um câncer, significam que o “Chavismo” ainda detém as rédeas do poder e fará o sucessor, não necessariamente o atual vice, Nicolás Maduro, também politicamente escolado em Cuba, porque  há uma ferrenha disputa interna do poder venezuelano.
Chàvez foi um ditador de porte limitado, se comparado com outros ditadores latinos, como o haitiano François Duvalier (“Papa Doc”), o dominicano  Rafael Trujillo, o paraguaio  Alfredo Stroessner, o argentino Peron, o cubano Fidel Castro (ainda presente), o chileno Augusto Pinochet e... o brasileiro Getúlio Vargas - todos hoje relegados a um relativo  esquecimento.
Mesmo Getúlio Vargas, internacionalmente reconhecido como estadista, tende a cair na vala comum da história, onde se encontra a maioria dos próceres políticos mundiais, com exceções de cerca de uma centena de nomes cuja citação não cabe aqui. Chàvez, com “Chavismo” e tudo, não será lembrado por muito tempo.
Mas, o que é o “Chavismo” e qual a herança que Chàvez deixou para os venezuelanos, com sua ditadura que  amordaçou  jornalistas, juízes e opositores ao regime?
O “Chavismo” gira em torno da figura de Hugo Chàvez e de uma proposta socialista baseada nas idéias de personalidades que variam de Simon Bolívar a Che Guevara. O “Chavismo” é mais um logotipo do que uma ideologia, utilizado pela elite venezuelana detentora do poder. A tendência é o logotipo mudar a médio prazo, mas sempre com a fachada democrática
O legado de Chàvez ao altivo povo venezuelano estaria nas suas obras de assistencialismo social, na sua postura  internacional agressiva, nas articulações de projetos de integração  e desenvolvimento econômicos com países vizinhos, no reequipamento das Forças Armadas e na busca de valorização do petróleo venezuelano.
O Presidente Lula, ao contrário do que a mídia divulga, não era tão afinado pessoalmente com Presidente Chàvez, pois ambos transitavam numa faixa concorrencial de liderança populista na América Latina, e seus egos se chocavam... Mas era necessária  a união das esquerdas no continente para a defesa de interesses comuns.
Lula considerava , em declarações à imprensa,a Venezuela muito diferente do Brasil, que, a seu ver, tem instituições tradicionais; os rompantes de Chàvez deixavam Lula ressabiado.O que seria o maior projeto dos governos Lula/Chàvez, a construção da refinaria de petróleo em Ipojuca, no estado de Pernambuco, continua com sua execução lenta. As obras começaram em 2007 e a previsão era de que terminassem em 2011.
A refinaria Abreu e Lima é uma síntese das relações entre os dois países: Carrega o nome do general brasileiro que pertenceu ao estado-maior de Simon Bolívar, que lutou pela independência da Venezuela.
Talvez maior influência tenha sido exercida sobre o “Chavismo”, na sua fase germinal, pelo Governo Fernando Henrique Cardoso, que acompanhou de perto todo o movimento que levou Chàvez ao poder, interagindo com os principais agentes civis e militares do regime em gestação. Conheci pessoalmente dois desses agentes, que propalavam na época (final dos anos 90) as idéias de um coronel venezuelano visando à fundação de uma “república bolivariana”.
Demonstravam convicção quanto ao ideário político de Chàvez e, certamente, compunham a nata do que se tornou o atual stablishment venezuelano, que, há décadas, se reproduz e atua em sintonia com a concorrência no mercado mundial de produção e refino do petróleo...
Bolívar dizia que a América Latina é um viveiro de ditadores e que pregar a democracia na região equivale a “arar no mar”... Falsos democratas continuam proliferando na região, e a Venezuela não escapa dessa realidade.

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