O Parlamento do Brasil comemora 190 anos hoje, dia 3 de maio, dia em
que, em 1823, foi realizada a instalação da Assembléia Geral Constituinte e
Legislativa do Império do Brasil. Estava formalmente criada a Câmara dos Deputados,
como mais tarde veio a se chamar o órgão legislativo de representação do povo brasileiro. O Parlamento brasileiro é hoje um dos mais bem documentados do mundo.
Nos primeiros seis meses de funcionamento, a Constituinte aprovou e sancionou
seis projetos de lei, dos 39 apresentados; além de sete requerimentos, 157
indicações, 237 pareceres, o regimento interno e uma proclamação aos povos do
Brasil.
Estudioso atilado e historiador do Poder Legislativo no Brasil, o
professor Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília, observou, numa das
suas aulas no Curso de Ciência Política ao autor desse blog, que o Brasil foi o
primeiro país a ter uma constituição e representantes legislativos antes de
proclamar sua independência. Mencionou a convocação das Cortes Gerais e
Extraordinárias da Nação Portuguesas, em 1819, uma reação de Lisboa contra a
permanência da Família Real( Dom João VI e Dom Pedro I) e a manutenção do
Brasil na condição de colônia portuguesa.
Colho aqui um trecho do artigo de autoria de Dilma Cabral –“Cortes
Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa”, publicado na Internet:
“Os primeiros
deputados do Brasil, segundo relatos de vários historiadores, tomaram assento
nas Cortes Gerais somente em agosto de 1821, provenientes da província de
Pernambuco e do Rio de Janeiro. Em seguida tomaram posse os representantes das
províncias do Maranhão, Santa Catarina, Alagoas e Bahia.
Apenas em 1822,
chegaram a Lisboa os deputados de São Paulo, Paraíba, Pará, Espírito Santo,
Goiás e Ceará. Não tomaram assento nas Cortes Gerais as representações de Minas
Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, permanecendo no Brasil em
demonstração de apoio ao regente. Também não tomou posse em Lisboa o deputado
eleito pela província Cisplatina, que ficou no Rio de Janeiro como membro do
Conselho de Procuradores, convocado por d. P
Já prenunciando a precariedade histórica da representação política brasileira, alvo de críticas contumazes na atualidade do atual regime bicameral (Câmara dos Deputados representando o Povo e Senado Federal representando os estados da federação), seis meses depois de sua instalação, em 12 de novembro de 1823, a Assembléia foi dissolvida pela primeira vez por ordem do imperador D. Pedro I, depois do acirramento das discussões sobre o projeto de lei sobre a liberdade de imprensa. A passagem foi marcada pelo uso da força e da violência. D. Pedro I chegou a mandar apontar canhões para o Parlamento e prender vários deputados
O Congresso foi fechada pelo menos 15 vezes – 12 delas durante o
Império. Sete dissoluções ocorreram depois de 1868, quando o conflito levou ao
esgotamento do regime monárquico No período republicano, implantado em 1889 e
vigente até hoje, o Congresso foi dissolvido pelo Marechal Deodoro, em 3 de
novembro de 1891, fechado por Getúlio Vargas, no seu golpe em 10 de novembro de
1937, e fechado pelo Presidente-General
Costa e Silva, entre 13 de dezembro de 1968 e 22 de outubro de 1969, no decurso
do processo revolucionário implantado pelo Marechal Castello Branco em 1964,
com o Parlamento aberto.
Nesses 190 anos, a representação política brasileira, ou o regime
democrático, sempre foi submetido ao balanço das instabilidades conjunturais,
que Golbery do Couto e Silva comparava às “sístoles” e “diástoles” do coração: Centralizações
e descentralizações administrativas.
Fatores estruturais e conjunturais dificultam o projeto brasileiro de
reforma política para atender as demandas da sociedade e garantir a
governabilidade. O desequilíbrio entre os três poderes (Legislativo, Executivo
e Judiciário), favorável ao Executivo, tem exacerbado a disputa pelo controle
da constitucionalidade, a ponto de se aprovar na Câmara projeto que submete
decisões do Supremo Tribunal Federal ao referendo do Congresso.
Não há ainda um projeto sistêmico, amplo, de reorganização
político-institucional do Brasil e compatível com o perfil federativo, razão
pela qual alguns esforços vêm sendo empreendidos por lideranças políticas,
entre as quais o ex-Presidente José Sarney ,para a revisão do pacto federativo,
em termos de descentralização, tamanhos são a carência dos governos estaduais e
municipais de recursos financeiros e de autonomia administrativa e o poder centralizador
do governo federal. Há nuvens densas no horizonte da democracia brasileira....
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