Vejo como apropriadas as
declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal-STF-, ministro Joaquim
Barbosa, sobre o que considera má qualidade dos partidos políticos brasileiros
no desempenho de sua missão representativa. Afinal, quem preside o Tribunal
Superior Eleitoral é um ministro do STF, em rodízio com seus pares na Corte.
Disse o ministro à revista
“Veja”: “Nós temos partidos de mentirinha. Nós não nos
identificamos com os partidos que nos representam no Congresso, a não ser em
casos excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência
ideológica e programática em nenhum dos partidos... Querem o poder pelo poder”.
Não só é da
competência do STF zelar pela constitucionalidade – e os sistemas eleitoral e
partidário nela são ínsitos -, como também o presidente Joaquim Barbosa tem obrigação
e autoridade suficiente para avaliar o quadro da representação política, seus
altos e baixos, como relator do “Mensalão”, processo de compra de votos
parlamentares durante o Governo Lula, que resultou na condenação de vários membros
do Congresso Nacional, pertencentes a vários partidos.
Durante o
julgamento dos acusados, o relator e seus pares puderam esmiuçar as entranhas do sistema
eleitoral-partidário brasileiro, a destinação dos fundos partidários,
o financiamento de candidatos e as artimanhas políticas para divisão do espólio eleitoral fora e dentro do
Congresso.
Afirmar que
os partidos brasileiros não têm consistência ideológica e nem programática é
algo recorrente na crônica e literatura política do País; dizer que os
políticos guiam-se pelos interesses pessoais pelo dinheiro, voto e poder,
elementos imbricados com a “ética de resultados” imperante em qualquer
política, tem lógica, não obstante a corrupção situar-se no patamar da cultura
política de cada país. Há muitas entidades que se dedicam aqui e alhures à
fixação e divulgação de índices de transparência política e de corrupção em
vários países.
Generalizações
em relação à classe política devem ser evitadas, por mais que se dissemine a
impressão de que todos os políticos são corruptos. Isto, sim, e não é o caso do
ministro Joaquim Barbosa, constituiria um desserviço à democracia e ao próprio
instituto da representação política, pois o povo escolhe seus representantes,
em tese, por seu livre arbítrio, e ainda não se experimentou outro modelo que
não seja o representativo no Brasil – a democracia direta ou plebiscitária-,
que as próprias elites dominantes repudiam, porque coloca o povo com poder decisório terminativo.
No mais,
restam os regimes autocráticos mistos – a ditadura, modelo que o Brasil já
experimentou, e o despotismo- e os puros, totalitarismo - nos moldes do
Nazismo, Fascismo e Stalinismo- e a tirania, típica de algumas monarquias
registradas pela História.
Uma questão
que se depreende das considerações de Barbosa: Qual a contribuição dos partidos
políticos para o desenvolvimento do País?
Durante o Império,
liberais e conservadores ajudaram no
processo de institucionalização e consolidação da integridade territorial,
diante de ameaças externas e de inúmeras insurreições, que projetaram a figura
de Luiz Alves de Lima e Silva –Duque de Caxias -, o Pacificador. Durante a República
Velha, da política do “café-com-leite”, republicanos mineiros e paulistas se
destacaram no pluripartidarismo criado, consolidando o regime republicano. A
partir da década dos 20, com outras agremiações que tiveram impulso na década
dos 30, entre os quais se inseriram os
comunistas e integralistas, o País pode se adaptar aos ventos políticos da
Europa e ao fluxo de imigrantes advindos daquele continente. Com a sístole
getulista, houve a tripolarização no PSD, partido dos senhores rurais, UDN,
partido das elites urbanas, e PTB, partido dos trabalhadores, que contiveram o
processo de exacerbação ideológica entre direita e esquerda.
O
bipartidarismo, ARENA e MDB, instituído a partir de 1964, aglomerou as
correntes diversas de esquerda, centro e direita, garantindo o processo
revolucionário, e a volta do pluripartidarismo, em 1979, reconfigurou as agremiações
em seus leitos ideológicos naturais, com transformações e adequações diversas, principalmente
dentro do espectro esquerdista, após a
queda do Muro de Berlim.
Os mais de
trinta partidos hoje, com pedidos de registro no Superior Tribunal Eleitoral, são
a demonstração cabal da efervescência partidária brasileira e, por conseguinte,
da própria sociedade, pois o sistema eleitoral-partidário nunca se situa além
ou aquém da sociedade ou dos interesses, aspirações, idéias, reivindicações
e necessidades do Povo.
Uma das obras
que me inspiram a dizer que os partidos têm sido importantes para o desenvolvimento
do País é a “História dos Partidos Políticos Brasileiros”, de autoria de
Vamireh Chacon, lançada em 1998, mas há ampla bibliografia sobre as agremiações,
que atestam o quanto os partidos têm contribuído para a vida nacional.
As
considerações do ministro e presidente do STF, Joaquim Barbosa, são importantes
para o fortalecimento do sistema eleitoral-partidário, à medida em que estimulam
os debates, principalmente no meio acadêmico, onde se critica muito a falta de
consistência ideológica e programática dos partidos, criando-se precioso caldo
de cultura do humanismo crítico das instituições políticas brasileiras. Mais
uma vez, o lúcido e corajoso jurista presta relevante serviço ao País. Continue falando, Joaquim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário