O discurso feito pela Presidente Dilma Rousseff, na semana passada, reconhecendo a energia positiva das manifestações em quase todo o Brasil em favor de transformações sociais, éticas e morais, teve alguns toques de cinismo oficial, como a proposta de se importarem cinco mil médicos do exterior para se resolver o problema da saúde no País, e a confirmação de gastos da ordem de 31 bilhões de reais com a Copa do Mundo.
A Presidente falou na elaboração de um Plano de Mobilidade Urbana (algo um tanto difuso para as massas) e acenou com a possibilidade de que as Forças Armadas venham a ser empregadas para garantirem a segurança durante a realização da Copa - essa, sim, uma ameaça significativa aos que insistirem nas manifestações.
Senti, vendo-a discursar pela televisão, o dedo do ex-Presidente José Sarney em vários trechos do pronunciamento. Ele, e mais o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, e do Senado Federal, Renan Calheiros, estiveram reunidos com Dilma na preparação do discurso.
Obviamente, o ex-Presidente Lula também deu sugestões a Dilma, mas penso que os ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor não foram consultados, pelo menos diretamente. Aliás, é sintomática a ausência dos ex-presidentes, em especial Lula, que não mostram o rosto às multidões. Assim como continuam enigmáticos os silêncios da Igreja, dos chefes militares, dos sindicatos, dos empresários, da Associação Brasileira de Imprensa -ABI-, da Ordem dos Advogados do Brasil -OAB- e dos principais chefes dos governos de países com os quais o Brasil mantem relações de amizade e cooperação.
A palavra do Presidente da Federação Internacional de Futebol -FIFA-, Joseph Blatter, que defendeu a Presidente Dilma Rousseff, quando foi vaiada na abertura da Copa das Confederações, em Brasília, pode resumir o pensamento de alguns governantes estrangeiros, mas não supre o silêncio de líderes como Obama, o Papa Francisco e presidentes de países vizinhos, da linha "bolivariana". No mundo atual, qualquer assunto é susceptível aos comentários internacionais. Por que não este momento brasileiro?
Voltando ao aspecto ameaçador do discurso de Dilma - o emprego das Forças Armadas-, fica uma indagação: Ela é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, mas os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica concordam?
É da cultura e da tradição militar brasileira não se voltar contra o Povo, e, sim, defendê-lo contra qualquer tentativa de imposição de valores contrários à civilização ocidental cristã ou desvirtuamento dos objetivos nacionais permanentes, entre os quais a democracia.
A preservação dos poderes constituídos, da lei e da ordem é a missão constitucional das Forças Armadas e o limite da sua obediência ao Presidente da República, não importando se o epicentro das manifestações é de esquerda ou de direita, de dentro ou de fora do País.
São várias as interpretações da origem das manifestações, que devem atingir seu ápice nesta semana, quando a Presidente Dilma poderá saber se as ruas confirmarão a sua expectativa de contar com as Forças Armadas mais à frente. O dado importante é se a classe média está presente majoritariamente nas massas manifestantes. Ela é a tributária principal das três forças e contra ela os chefes não se posicionam.
Grupos de esquerda, entre os quais os petistas ligados ao ex-ministro José Dirceu, e movimentos operantes nas redes sociais, apartidários, são apontados como articuladores e insufladores das manifestações, mas, esse é o primeiro movimento de massas significativo no Brasil pós-advento da internet, e suas ligações internacionais são evidentes.
A nova classe média brasileira, que inclui os ascendentes verticais dos últimos governos, ainda está em fase de estratificação e reclama sua permanência em seu novo nicho conquistado, enquanto a "velha" classe média, composta em sua maioria pelas pessoas da maturidade, enfrenta agruras inesperadas, em especial os aposentados do serviço público e da previdência privada, cujo poder não pode e nem deve ser subestimado - como tem ocorrido desde o governo Fernando Henrique Cardoso.
Desprezo: Essa é a melhor palavra para definir o tratamento dado aos aposentados e pensionistas brasileiros, dentro da concepção de que tais categorias constituem um "entulho" para qualquer governo disposto a investir na juventude. Pelo que tenho observado, emais que recebo e leituras sistemáticas,os idosos vêm repondo a lenha dessa fogueira que arde nas ruas brasileiras... Na Grécia e Roma antigas, ou em qualquer país civilizado de hoje, idade é tesouro nacional...No Brasil, é estorvo.
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