Por
Marcos Morita*
Era uma
vez um monarca muito ganancioso conhecido como Midas, cujo sonho era ter toda a
riqueza do mundo. Certo dia encontrou nos jardins de seu palácio um fauno
(divindade com o dom da profecia), o qual havia fugido da morada de Dionísio, e
que por este era muito estimado. Ao devolvê-lo, Dionísio concedeu-lhe como
recompensa e gratidão a realização de um único desejo, qualquer que fosse. Sem
pestanejar, pediu para tudo em que tocasse fosse convertido em ouro. Desejo
concedido voltou a seu palácio, transformando os objetos ao seu redor. Após
pouco tempo começou a notar as dificuldades ao realizar tarefas básicas como
comer e beber, transformando em metal um simples pedaço de pão.
Esta
parábola poderia muito bem ser apropriada por Eike Batista, quem há pouco mais
de um ano foi considerado o oitavo homem mais rico do mundo, com patrimônio
estimado em U$ 34,5 bilhões de dólares. Com o poder e ganância (exibidas pelo Mercedes Benz em sua sala de estar e
suas declarações nada modestas), literalmente
tudo o que tocava parecia virar ouro, com suas empresas e ações valorizando-se
dia a dia. Admirado, cobiçado, laureado e elevado à categoria de ícone nacional
do empreendedorismo, foi comparado a personagens históricos como Visconde de
Mauá, que viveu na época de Dom Pedro II.
Apesar do
colapso premente, assim como a incerteza na continuidade das operações de suas
empresas, era brilhante o modelo de negócios arquitetado pelo mega empresário,
o qual visava criar um conglomerado diversificado e único, construindo através
da exploração de seus recursos internos e da integração entre suas unidades,
importantes barreiras de entradas a seus oponentes, em setores já complexos por
natureza. Elegi duas estratégias que melhor se aplicam ao caso, conhecidas na
teoria como integração vertical e modelo VRIO, exploradas a seguir.
Integração
Vertical: esta
estratégia passa pela integração dos diversos elos da cadeia de valor,
considerando cadeia como o conjunto de atividades para levar um produto ou
serviço desde a matéria-prima até o consumidor final. Uma das vantagens em
integrar as várias etapas está na redução das variações de preços devido ao
aumento da demanda, quebras de safra, variações cambiais ou custos de
oportunidade. Esta estratégia pode ser utilizada a jusante ou a montante, à
medida que se avança ou se retrocede nos elos da cadeia.
Vejamos
como isto funcionaria na prática. A petroleira OGX compraria plataformas do
estaleiro OSX; que estaria localizado no porto em construção da LLX; que
escoaria a produção da mineradora MMX; que contrataria a energia da geradora
MPX; que utilizaria o gás explorado pela OGX.
A paródia
com o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade: “João amava Teresa que
amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim”, é mera coincidência, o que
não se pode dizer da integração a jusante e a montante, as quais tornariam o
grupo altamente eficiente e rentável, controlando seus custos através da
manutenção dos preços de seus principais insumos, reduzindo seus custos de
transportes, logística e matéria-prima, assim como revendendo sua capacidade
excedente aos competidores a preços de mercado, utilizando-se do oportunismo
por deter os elos da cadeia produtiva.
VRIO: esta teoria menciona que uma empresa deve possuir
recursos que sejam valiosos, raros, difíceis de imitar e explorados pela
organização. Campos de petróleo, complexos portuários, mineradoras e geradoras
de energia são por si ativos que se enquadram nessa definição. Juntos ou
integrados dariam ao grupo EBX vantagens competitivas sustentáveis e
duradouras. Infelizmente o empresário e seu grupo de executivos não conseguiu
ou não teve tempo para colocar em prática os projetos, falhando na última letra
do acrônimo, a qual trata da capacidade da organização da empresa no suporte à
exploração dos recursos.
A falha
na entrega dos projetos e as previsões superdimensionadas de seus poços de
petróleo fez com que o feitiço se virasse contra o feiticeiro, provocando um
efeito dominó em suas empresas, as quais interligadas começaram a cair como um
castelo de cartas. Enfim, a história do mega empreendedor ainda terá muitos
desdobramentos, servindo de pano de fundo como estudo de caso verdadeiramente
verde e amarelo.
Voltando
à história de Midas, chamou à atenção a queda surpreendente na fortuna de Eike,
apurada pela agência Bloomberg em U$ 220 milhões. Apesar de o valor ser
suficiente, conforme reportagem de Bárbara Ladeia, para realizar
1996 viagens suborbitais, passar três anos e meio bebendo uma garrafa diária do
vinho mais caro do mundo, arrematar a ilha grega de Skorpios ou dar perda total
em 149 Mercedes Benz iguais ao dirigido por seu filho Thor em um acidente, a
corrosão em seu legado é surreal.
Como
efeito de comparação e trazendo os valores ao mundo real, teriam sobrado
míseros seis mil reais, a uma pessoa que tivesse um patrimônio de um milhão,
soma insuficiente para dar entrada em um carro popular. Isto doeria no bolso de
qualquer ser humano, agora imagine em alguém com a cobiça do tamanho de Eike,
para quem talvez tivesse sido melhor morrer de fome, porém rico, muito rico.
Tal qual a fábula de Midas.
Mestre em Administração de
Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ.
Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor
de negócios. Há mais de quinze anos, atua como executivo em empresas multinacionais.
Sobre
Marcos Morita:
professor@marcosmorita.com.br
Prezado Feichas, a análise é muito bem feita, do ponto de vista econômico. Do ponto de vista político, eu entendo que a análise a ser feita é outra. O que observei foi a migração de um processo de financiamento do PT. A "estória" (assim mesmo) do empresário Eike é notória. Esse senhor quebrou todas, repito, todas as empresas que montou. Como empresário sempre foi um grande fracasso. Como show man é dos melhores; O PT viu nele a oportunidade de financiar o partido, sem os inconvenientes do esquema do mensalão. A partir daí o Sr. Eike passou a ter todo tipo de benesse do Governo petista. Desconfio que parte dos recursos "doados" ao Grupo X pelo BNDES esteja hoje nos cofres do PT.
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