O
presidente do Clube Naval, vice-almirante reformado Paulo Frederico Soriano
Dobbin, enviou carta ao presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu
Marinho, criticando o arrependimento manifestado recentemente pela empresa por ter apoiado o
regime militar de 1964.
Segundo o
militar, “trata-se, portanto, de um mea
culpa decepcionante para a memória
dos que acompanharam aqueles dramáticos episódios da vida nacional. Em vez de
erro, seria mais aceitável assumir eventuais divergências com os rumos que o
movimento de 64 tomou, segundo o entendimento do jornal”.
Na
íntegra, eis a nota do Presidente do Clube Naval:
No início de 1964 o Brasil estava
à beira do abismo. Uma inflação galopante e um governo fraco, em sua maioria,
composto de radicais de esquerda que estimulavam e instigavam a indisciplina
nas Forças Armadas para, assim, tentar vergar sua coluna vertebral, sempre
apoiada no binômio hierarquia e disciplina, pilares constitucionais de sua base
organizacional.
Caminhávamos, celeremente para
nos tornar uma república sindical.
Todo esse processo de deliberada
instalação do caos no país, debilitando seu Poder Militar e as instituições
civis, certamente se encontram nos arquivos desse jornal, como de toda a
imprensa da época. São inúmeros os registros dos episódios protagonizados pelo
governo e que antecedem a março de 1964, como a Revolta dos Sargentos de Brasília,
a reunião do presidente da República com praças das Forças Armadas e Auxiliares
no Automóvel Clube, a amotinação de cabos e marinheiros no Sindicato dos
Metalúrgicos e muitos outros graves episódios.
Havia, sim, uma revolução em
marcha. Aquela que, em pleno panorama bipolar e irracional “Leste-Oeste”,
queria fazer triunfar, no Brasil, como já ocorrera em outros países, o regime
do partido único, da única verdade, da imprensa única. Enfim, do obscurantismo,
também único.
Em contrapartida a essa situação,
nascida no seio da sociedade civil, também se pôs em marcha uma
contrarrevolução, imediatamente apoiada pelos militares. Heroicamente comandada
pelas mulheres brasileiras, a sociedade, aos milhares, fez-se às ruas em defesa
da democracia.
Os homens de bem deste país não
podiam ficar alheios ao clamor. Toda a grande Imprensa, a Igreja, a OAB, a ABI,
políticos e outras significantes instituições aderiram, na primeira hora, ao
contragolpe brasileiro.
Cumpre-me registrar, orgulhoso,
que naqueles dias de mares encapelados, este clube foi sede da resistência, um
quartel-general onde destemidos oficiais se uniram para manter erguida a
bandeira da liberdade.
Tudo isso, senhor presidente,
está fartamente documentado no novo sítio eletrônico dessa portentosa organização.
E, passado quase meio século
daqueles dias, vem agora o jornal confessar que cometeu um erro. Essa nova
postura editorial nos leva a refletir, perplexos, que a pena de Roberto Marinho
deveria, pois, ter apoiado o estado de coisas de então. Inimaginável.
Trata-se, portanto, de um mea
culpa decepcionante para a memória dos que acompanharam aqueles dramáticos
episódios da vida nacional. Em vez de erro, seria mais aceitável assumir
eventuais divergências com os rumos que o movimento de 64 tomou, segundo o
entendimento do jornal.
Ledo engano acreditar que, assim
procedendo, estão as Organizações Globo seguindo a vontade da Nação. Esta, por
certo, nunca renegou seus valores morais e sua tradição cultural. Jamais correu
atrás de grupos minoritários, escandalosamente estrepitosos e detentores de
sub-filosofias de alta rotatividade, sempre ao sabor dos eventuais donos do
poder. Longe disso, a esmagadora maioria da sociedade deseja ordem, decência,
prosperidade e coerência.
E é por isso, senhor Presidente,
que as Forças Armadas da nação brasileira, cujo nascimento coincide com o
alvorecer da própria Pátria, continuam, desde sempre, a liderar pesquisas de
opinião sobre a credibilidade das instituições nacionais. Não têm do que se
arrepender.
Sabemos ser possível mudar de
nome, de nacionalidade, de clube, até de sexo.
Mas, é impossível mudar a
História.
Paulo Frederico Soriano Dobbin
Vice-Almirante (Ref-FN)
Presidente
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