No Brasil atual, o sistema eleitoral-partidário
- a representação política em si - registra fenomenal ausência de Oposição que
traduza legítima resistência às ações do governo e que procure disputar o poder
sem compromissos endógenos, éticos ou morais, com a governabilidade e a estabilidade político-institucional.
A máxima segundo a qual o governo
sagaz é o que consegue escolher sua oposição vem sendo aplicada no Brasil desde
o Governo Fernando Henrique Cardoso, depois de confirmada pelo desfecho do Governo
Collor (que não soube ou conseguiu escolher sua oposição). PT e PSDB atuam
consorciados com o PMDB numa coalizão de governo que garante os votos, como
ocorre atualmente, de 461 dos 513 deputados federais e 59 dos 81 senadores.
Isso é rolo compressor, e não base aliada...
O senador Aécio Neves tenta ensaiar,
pelo Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB-, com alguns partidos
menores e aliados, um discurso e uma ação oposicionista à Presidente Dilma Rousseff, cujo governo , hoje, é menos do Partido dos
Trabalhadores –PT – e mais do Partido do Movimento Democrático Brasileiro –PMDB-,
que controla as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
neutralizando qualquer esboço de rebeldia contra o governo no Congresso
Nacional.
Se quase todos os parlamentares
fazem o jogo do governo, pensando sempre na sua sobrevivência imediata, pois
dependem das verbas orçamentárias para manterem com obras e doações seus
redutos eleitorais, não menos submissas ao Palácio do Planalto são as siglas
partidárias, cujos dirigentes disputam , a socos e pontapés, a oportunidade
de um protagonismo maior no processo decisório
político.
Pode-se comparar a Oposição no
Brasil a tênue lâmina da consciência crítica embutida no sistema político, por
origem inata, neutralizada pelos atuais detentores do poder num projeto de
engenharia política dos neoliberais no
qual não há espaço para uma oposição
que ameaçe o status quo ao qual estão
atrelados os interesses das elites e dos grupos internacionais que apoiaram os
últimos governos , incluso o de Dilma Rousseff.
Foucault nas suas análises sobre
o micropoder, ressalta a verdade como a
própria realidade a partir da qual o homem pode empreender ações transformadoras.
Oposição é resistência ao estado vigente
e à ação do governo, algo que está sendo sufocado no Brasil de hoje, desde o
fim do regime militar.
Aprecio muito frase que li na
web, atribuída ao poeta gaúcho e jornalista Nei Duclós: “Oposição é a lucidez em luta diária contra o obscurantismo. Lucidez é
enxergar e expressar com clareza os eventos e processos que infelicitam a
Nação.”.
As manifestações de rua ocorridas
em junho seriam o esboço dessa lucidez ou indignação do povo contra esse estado
geral de desmobilização das forças vivas da nação, no bojo de um processo
crítico desencadeado pelo julgamento do “Mensalão”. Mas, o movimento nasceu,
espontaneamente, pela web e por ali mesmo se recolheu em estado latente ou até
mesmo congelado pelo arsenal de ações que se intentam no mundo inteiro para
censurar as redes sociais e a comunicação em geral.
A Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-, a
Associação Brasileira de Imprensa –ABI- , a União Nacional dos Estudantes –UNE-
os sindicatos e a própria Confederação Nacional dos Bispos do Brasil –CNBB- se mantém em silêncio diante das distorções
do processo político denunciadas diariamente
pela internet e a mídia alternativa. Um verdadeiro pacto de silêncio e
conluio, que contribui para eliminar qualquer oposição transformadora e não-legitimadora
das ações governamentais.
Há alguns sinais de exaustão
desse projeto e redefinição, a partir de 2014, do jogo político com sustentação
ideológica no discurso do PT e amparo logístico no PMDB. Nesse aspecto, a presidente Dilma Rousseff
tende a enfrentar maiores dificuldades para sua reeleição, embora no horizonte
ainda não tenha surgido um nome de peso para fazer oposição. Mas, pode surgir,
desde que esse nome destrua a engenharia de poder montada pelos neoliberais e
liberte a oposição transformadora com um discurso em defesa de um modelo de
Estado forte, indutor da iniciativa privada e garantidor das franquias
democráticas. O "encoberto" pode surgir dessa oposição...
Prezado Feichas Martins: a frase de minha autoria está no meu post O QUE É OPOSIÇÃO? de 2009 no seguinte link: http://outubro.blogspot.com.br/2009/07/o-que-e-oposicao.html Abs.
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