Reproduzido do blog de Nei Duclós
http://outubro.blogspot.com.Oposição é a lucidez em luta diária contra o obscurantismo. Lucidez é enxergar e expressar com clareza os eventos e processos que infelicitam a nação. Um país é a instituição reconhecida internacionalmente e criada para que seus habitantes sobrevivam. Oposição, portanto, faz parte da luta pela sobrevivência. Não se trata de encarnar o tucanato quando o petismo está no poder e vice-versa. Nem de bater no Sarney só depois que ele acumula um acervo patrimonial e financeiro para sua descendência até a milésima geração. Mas de denunciar o enriquecimento ilícito e a sucessão de crimes no momento em que eles acontecem ou logo depois que são vistos de maneira nítida.
No Brasil de hoje, e da última década, não há oposição, apenas pose. Faz parte do sistema ficar em frente as câmaras para insurgir-se contra algo. Opor-se virou uma negociata. Vemos isso no Congresso. Para anular a iniciativa de investigar determinada falcatrua, os políticos de uma bancada anunciam que, então, vão entregar os podres dos colegas que poderão prejudicá-los. Isso é conivência, não oposição. Sentir saudades da ditadura também não é oposição, é burrice, já que continuamos nela. E achar que Chávez, Lula ou Morales são de esquerda é pura debilidade mental.
Oposição não é denunciar as porcarias dos programas de televisão quando você ocupa o Palácio do Planalto, como aconteceu recentemente numa das arengas recorrentes do presidente, que usa sempre os mesmos truques histriônicos para defender o butim. Se eu estou na presidência, não vou ficar fazendo denúncias, eu assumo a responsabilidade de promover a mudança. Porque você não pode permitir a criminalização do país de nenhuma forma, principalmente deixando rolar uma sucessão inominável de baixarias. Se alguém, no futuro, desenterrar o que veiculamos hoje, vão achar que no Brasil não existiam escritores, por exemplo, mas moralistas mostrando as coxas ou idiotas disseminando sabedorias-minuto. Ou que as cantoras não cantavam, apenas faziam gestos de dar no palco. E que “olha a faca” era uma expressão falada por toda a população, já que foi reproduzida quinhentos milhões de vezes.
Perguntarão: “Você então faria censura?”! Censura é mais uma palavrinha manipulada pelos arautos da falsa democracia. O sistema de televisão, desde que se declarou que a continuidade da ditadura seria batizada de democracia, faz tudo para desmoralizar a liberdade de expressão. Faz sentido. Como vivemos no arrocho político e financeiro, a verdadeira democracia não pode ter vez num projeto de televisão que é a cara de um país que não distribui renda e dissemina a violência em todos os níveis e lugares. No Planalto, um presidente da República precisa intervir nas concessõe públicas de rádio e TV, desmontar os esquemas de reprodução infinita de baixarias e mediocridade e criar respiros na programação por meio de uma distribuição justa de canais e de incentivo à seriedade e à cultura. E não ficar sacudindo o dedinho para platéias compradas.
Não podemos entregar a sobrevivência nas mãos criminosas dos institutos de pesquisa, que medem a audiência como a cara deles. Oposição é não permitir que todo estrangeiro que aqui aporta seja brindado com algum espetáculo sobre nossa miséria moral e física, como se fôssemos um Pátio dos Milagres sem Paris em torno. Não pode mostrar favelado batendo lata para cabeças coroadas. Não se trata de esconder, mas de selecionar. Você coloca uma orquestra sinfônica, um grande coral, uma equipe estudantil bem nutrida nas fuças do estrangeiro. Você não põe brasileira rebolando na frente de olhos cobiçosos de marmanjos poderosos lúbricos. Você se opõe a isso e chama o Cabo Adão para ter um particular com o sujeito, se for o caso de o descarado lançar um olhar safado para alguma menor brasileira representante da Unicef.
Ou seja, em todas as ocasiões você manifesta soberania. Não se trata de cair na tentação da patriotata (a mentira vestida de verdade histórica), choramingar batendo no peito enrolado na bandeira por qualquer motivo, mas ficar firme na posição de brasileiro fundando na Independência do país.
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