Francisco das Chagas Leite Filho
O governo da Argentina anunciou que vai solicitar
às universidades e instituições jornalísticas que analisem se o jornal La
Nación e o noticiário Telenoche do Canal 13, pertencente ao grupo Clarín,
incorreram em “falta grave de ética e do exercício da profissão de jornalismo”.
Em comunicado oficial, assinado pelo
secretário-geral da Presidência da Nação, Oscar Parrilli, e depois de vários
assédios midiáticos contra a presidenta Cristina Kirchner, o vice-presidente
Amado Boudou, e seus ministros, inclusive o comandante-em-chefe das
Forças Armadas, general César Milani, o governo acusa esses veículos da
imprensa de “mentir e difamar, com a intenção de provocar animosidade contra o
governo” e “desacreditar as obras realizadas na Casa Rosada” (sede do governo).
O comunicado, expedido logo depois de um despacho
do secretário-geral com a presidenta Cristina na tarde desta quinta-feira,
9/01/145, o que indica seu imprimatur, foi motivado por aquela reportagem
do La Nación e reproduzida pela TV do Clarín (os dois jornais se dizem empresas
independentes, mas se realimentam numa campanha ensandecida para desestabilizar
o governo), intitulada “A Casa Rosada estará protegida dos cortes” (de
eletricidade), numa alusão à crise gerada pelos cortes de luz no calor de novembro,
que afetou alguns bairros de Buenos Aires e cidades vizinhas (Conurbano).
Segundo Raul Parrilli, na terça-feira, sete de
janeiro de 2014, às 4.49 da tarde, uma das jornalistas (reportagem de Iván Ruiz y Maia Jastreblansky )
que escreveram a matéria solicitou por email informações da obra”, mas, ” no
dia seguinte, sem esperar a resposta, a matéria era publicada e, à noite,
reproduzida pelo Canal 13″. Isto demonstra, segundo o secretário, que “o pedido
de informação foi uma mera farsa, não lhe importando nem a resposta nem a
verdade” e que “seu conteúdo tinha sido decidido com antecedência”.
Com efeito, a investida desses dois maiores
aparatos de mídia, que dominam 90% da informação naquele país vizinho,
vem se intensificando com insistentes notícias manipuladas, que vão, desde
estas “denúncias” contra a Casa Rosada à indicação do novo comandante em chefe
das Forças Armadas, um tenente general (maior patente do Exército),
recentemente promovido pela presidenta.
Tais notícias são depois repetidas e multiplicadas
ad infinitum nas centenas de canais de rádio, TVs e jornais ainda mantidas por
Nación e Clarín. c, que também sustentam poderosas ramificações nas redes
sociais da internet, sempre estimulando o ódio e a intolerância contra a
mandatária, seus auxiliares e as realizações governamentais.
As medidas legais, como a nova lei da mídia,
editada em 2008 e referendada pela Suprema Corte, em novembro de 2013, e os
recursos judiciais adotados pelo governo revelaram-se impotentes até aqui para
conter o abuso midiático, devido ao envolvimento do poder judiciário na
conspiração. Exemplo disso é que uma liminar desobriga há 10 anos o jornal La
Nación de pagar uma dívida com o fisco federal de 330 milhões de pesos.
Outro dado flagrantemente ilegal é o de que quatro
dos sete ministros da Suprema Corte já terem ultrapassado a idade máxima de 75
anos para continuar no cargo, sendo que um dos quais, Carlos Fayt,
vai completar 96 anos, agora no dia primeiro de fevereiro. Por se tratar de uma
instância terminal, contra a qual não cabe recurso e por desfrutar d proteção
mafiosa da mídia e do poder econômico, uma disposição “interna” da Corte,
assinada pelos sete ministros, assegura esta anomalia.
O governo vê-se assim impelido a recorrer à opinião
pública, através de suas entidades mais credenciadas, como as universidades e
as associações jornalísticas, para varar o cerco midiático, contra o qual tem
ganhado algumas vitórias históricas, como a lei de mídia, os triunfos
eleitorais da presidenta Cristina Fernández, que se reelegeu com 54% dos votos
contra 17% do segundo colocado, em 2011, e sua atual aprovação popular de mais
de 50%, além de ter conseguido emplacar, aos trancos e barrancos, seu projeto
estratégico nacional e contra os monopólios, nos últimos dez anos (período que
inclui os quatro anos de seu finado marido e antecesor Néstor Kirchner).
O simples fato de o governo manter-se de pé, em
meio a todo este tiroteio, que ainda inclui ataque especulativo contra a moeda,
incitamento a greves e tentativas contra a ordem econômica, com as mesmas
técnicas que derrubaram Salvador Allende, no Chile, em 1973, e fracassaram na
deposição de Hugo Chávez, na Venezuela, em 2002.
Mobilizando as universidades e as entidades
jornalísticas para examinar e se posicionar contra o golpismo da mídia, o
governo espera, juntamente com o apoio de que já dispõe dentro dos movimentos
sociais, estudantes, juventude e o velho mais ainda robusto aparato peronista,
o governo espera se contrapor mais uma vez ao golpe, como o fez na crise com os
ruralistas, em 2008, também incentivada por La Nación e Clarín, quando houve
até ameaça de desabastecimento e paralisação da economia econômica.
Esta crise, que ocorreu por causa da taxação das
exportações para estimular o mercado interno, redundo na derrota nas eleições
parciais para o Congresso, em 2009, na qual foi abatido o ex-presidente Néstor
Kirchner, que disputava o primeiro lugar na corrida para uma cadeira na Câmara
dos Deputados. Mais recentemente, em outubro de 2013, a presidenta sofreu novo
revés eleitoral, embora seus partidários tenham mantido a maioria em ambas as
casas do Parlamento.
Casa Rosada – Junto com o comunicado, o
governo divulgou um informe técnico “que seria entregue à jornalista que enviou
o email, com a verdade sobre as obras que se vêm realizando na Casa Rosada há
sete anos, tanto no interior como no exterior da mesma, por expressa
determinação da Presidenta, com o fim de manter, conservar, restaurar e
modernizar todas as instalações, dependências, lugares históricos, serviços e
anexos”.
Uma das principais atrações turísticas e monumento
ícone da história argentina, a Casa Rosada, como frisa o estudo, foi visitada
de 2009 a 2014 por 2.679.783 pessoas, das quais 979.783 são estrangeiras.
Explica finalmente o comunicado: “Os jornalistas
que cobrem a Casa se deram conta disso em várias matérias e reportagens, salvo
obviamente La Nacióon e o Clarín, que parecem irritados com o fato de a
República Argentina ter uma sede do Governo Nacional digna e conservada,
resgatando sua história e onde todos os argentinos nos possamos sentir
orgulhosos”.
O comunicado também relata as obras eléctricas
na Rosada desde 2008, entre as quais se encontra um projeto para aumentar
a confiabilidad eléctrica, com a substituição de um gerador”. Por fim, o
governo adverte que “mentir e difamar por parte destes veículos de
comunicação não é “novo”, daí que a responsabilidade ética e política não recai
sobre os jrnalistas… e sim, pura e exclusivamente, sobre o Sr. Bartolomé Mitre,
editor responsável do jornal La Nación e sobre o Sr. Héctor Magneto, CEO do
grupo de multimídia Clarín, Canal 13 y TN (canal Todo Noíticias)”
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