Com os olhos de quase o mundo
inteiro voltados, nos próximos dias, para os jogos da Copa do Mundo, o Brasil,
pentacampeão de futebol, é um país à beira do divã da psicanálise, tantas são
as suas contradições e suas crises existenciais nessa modalidade de esporte que ajuda na projeção do poder nacional.
Em ano de eleições presidenciais
e parlamentares, quando a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel
Temer tentarão se reeleger para o Palácio do Planalto, o fracasso da seleção
brasileira será o estopim para revolta geral do povo brasileiro contra os
gastos de quase 30 bilhões de reais na preparação de estádios e infraestrutura
para o evento, quando faltam escolas, hospitais, transportes e segurança
pública suficientes para atendimento da população. Só um milagre de proporções inimagináveis livraria o atual governo da
derrota nas urnas.
Em caso de vitória do Brasil, não
se garante que a alegria de alguns milhões de aficionados do futebol venha a se
converter em votos para Dilma, porque o futebol tem o poder de mobilizar
multidões, fazendo “a Pátria de Chuteiras”- como diria Nelson Rodrigues - mas
não tem o condão mágico de justificar o desencanto dos eleitores, em especial os
da classe média, com a inflação e outras mazelas políticas e sociais. Durante o regime militar, em 1970, o Governo do General Médici conseguiu transformar a conquista da Copa em fator de contabilidade política.
Mas, os tempos mudaram...O Brasil, na atualidade, ostenta o título de pentacampeão mundial de
futebol, mas apresenta algumas contradições desconcertantes para um observador atento:
Não tinha estádios à altura de um
certame como a Copa do Mundo; tem competições nacionais de qualidade duvidosa,
seja em termos de organização ou em termos de jogadores; os treinadores
brasileiros vivem tentando imitar seus colegas europeus, impondo aqui esquemas
táticos e treinamentos como se os pentacampeões fossem eles, e não os
brasileiros, numa visível tentativa de ampliar mercados para exportação de
atletas; um goleiro como Rogério Ceni, do São Paulo Futebol Clube, com recordes
fantásticos no clube e na posição, reconhecidos no mundo inteiro, não joga na
Seleção; o estado de São Paulo tem o mercado de futebol mais caro do Brasil, mas
não tem nenhum jogador convocado pelo técnico Felipão, nem mesmo o estilista de
meio-campo, o jogador Ganso, pretendido por clubes do mundo inteiro; Pelé, o “Rei
do Futebol”, que garantiu seu estrelato parando de jogar na hora certa e
promovendo o “soccer” nos Estados Unidos, jogando pelo Cosmos, não conta com a
simpatia dos brasileiros (estranha dicotomia entre o ídolo e a massa), embora
seja admirado no mundo inteiro; ainda prevalece a mentalidade colonialista,
segundo a qual o jogador brasileiro para a seleção de hoje tem que jogar no
exterior; e, finalmente, a indiferença da imprensa e das elites do País a João Havelange,
o brasileiro, ainda vivo, que revolucionou o Brasil no futebol e transformou a
Federação Internacional de Futebol Associado –FIFA- na potência que é hoje, tão
ou mais influente do que a Organização das Nações Unidas –ONU-.
A associação do esporte com a
política é uma prática antiga no Brasil. Ser presidente de federação estadual de futebol proporciona
um maná de votos para o titular ou candidatos a mandatos eletivos que contam com o seu
apoio. O presidente é um grande eleitor, ainda que as torcidas dos clubes filiados à entidade não percebam
seu trabalho de bastidor. Não só o futebol, mas todas as demais modalidades
desportivas ajudam a conquistar votos. Isto já vem das antigas olimpíadas da
Grécia e das próprias arenas de gladiadores em Roma, que tinham importância
esportiva e, principalmente, política, conforme o “panis et circenses.” Algumas empresas privadas aplicam verbas em esportes como artifício de contabilidade política.
Estima-se que haja 30 milhões de
praticantes de futebol no Brasil, 800 clubes profissionais, 13 mil times amadores
e 11 mil atletas federados (dados da Wikipédia). A modalidade de futebol feminino se desenvolve timidamente, pois há
falta de vontade política para sua promoção.
Qualquer que seja o resultado desta Copa do Mundo, há um estiolamento do Brasil em focos de descontentamento com o Governo e com a Copa, especialmente em cidades como São Paulo e Brasília, nichos populacionais de eleitores do governo e de torcedores fanáticos por futebol, independentemente da política. Os três segmentos , naturalmente emulados pelas redes sociais, ditarão os rumos das eleições vindouras.
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