Adriano
Benayon * - 23.06.2014
Objetividade
1.
Ao nos ocuparmos das questões nacionais, não devemos nos precipitar, pois há
pressa, e não se deve desperdiçar tempo em assuntos e discussões de importância
secundária. A situação é grave demais
para que se tire o foco do que interessa.
2.
Um tema que não deveria merecer gasto de nossa energia são as eleições
presidenciais. Em artigo recente,
“Eleições e Modelo Dependente”, escrevi: “O real sistema de poder manobra
sempre para que todos os candidatos com chance de chegar ao 2º turno estejam
comprometidos com a realização destes objetivos: ampliar e aprofundar a
desnacionalização da economia, desindustrializá-la, servir a dívida - inflada pela composição de juros absurdos –
e propiciar ganhos desmedidos às grandes
empresas transnacionais.”
3.
Portanto, com qualquer “eleito”, a
vitória será do sistema imperial e de
saqueio, comandado pela oligarquia financeira angloamericana, através de
carteis transnacionais e coadjuvada por concentradores locais.
4. Sessenta anos de atraso tecnológico aumentando
e crescente perda de autodeterminação política e econômica geraram condições deterioradas
de vida no País.
5.
Essa deterioração tem sido acompanhada por doses maciças de desinformação,
sendo a natural revolta popular manipulada por opositores diretamente
vinculados àquela oligarquia financeira e principalmente por entidades
controladas por esta, que agem para desestabilizar a presente gerência petista.
6.
Esta, na verdade, atende ao sistema de poder da oligarquia, contra o qual a
revolta deveria se dirigir. É como
culpar só o gerente do restaurante que manda servir alimentos estragados e que,
se não o fizer, será sumariamente demitido.
7. De qualquer forma, não é tolerável a lesividade das políticas do atual governo, como: 1) os
leilões do petróleo; 2) o agravamento da situação do setor de energia elétrica
no quadro de um sistema predador, que se diz “de mercado”; 3) as parcerias
público-privadas; 4) novas elevações das
absurdas taxas de juros dos títulos públicos, que sangram o Tesouro, em favor dos
concentradores financeiros.
8.
Há que denunciar também a continuidade:
1)
das alienações de terras usadas predatoriamente, em grandes plantations, para exportação; 2) da extrema
desnacionalização da economia; 3) do favorecimento aos carteis transnacionais,
praticantes de preços extorsivos e de transferência; 4) da liberdade de
exportação, com baixa ou nula tributação, de inestimáveis recursos minerais,
preciosos e estratégicos, inclusive o
nióbio, em que o pouco caso com os interesses nacionais recebe o aval da CODEMIG, estadual de Minas Gerais.
9.
Entre os crimes mais graves das gerências petistas estão como os decretos e
medidas para liberar as sementes
transgênicas e os agrotóxicos a elas associados. A urgente proibição dessas sementes tem de
ser exigida nas mobilizações populares sem as quais o processo de desintegração
do País não terá solução de continuidade.
10.
Mais de 800 cientistas de 82 países assinaram carta aberta, na qual pedem a
suspensão imediata das licenças ambientais para cultivos transgênicos e
produtos derivados, tanto comercialmente como em testes em campo aberto,
durante ao menos cinco anos.
11.
Eles proclamam: “as patentes dos organismos vivos, dos processos, das sementes,
das linhas de células e genes devem ser revogadas e proibidas.”
12. Apontam agrônomos e biólogos: "Se as
abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro
anos de existência. Sem abelhas não há polinização, nem reprodução da flora;
sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana."
13.
Isso não é pouco, e há mais que isso. Os cientistas confirmam que
os cultivos transgênicos prejudicam os agricultores, inclusive por envolver
o aumento do uso de herbicidas e o
empobrecimento do solo. Ademais, intensificam o monopólio das grandes empresas
sobre os alimentos, o que está levando os agricultores familiares à miséria e
impedindo a segurança alimentar e a
saúde no mundo.
14.
Até mesmo nos EUA e no Reino Unido, fontes do próprio Estado reconhecem o perigo dos transgênicos para a
biodiversidade e a saúde humana e animal. A transferência horizontal de genes
acarreta a difusão de genes que tornam incuráveis as doenças infecciosas e criam vírus e bactérias causadores de doenças
e mutações capazes de provocar o câncer.
Liberalismo
ou imperialismo?
15.
A oligarquia financeira mundial tem investido no Brasil – durante mais de um
século, de forma crescente - na
(de)formação de opiniões e na deseducação, gerando confusão mental e
animosidade entre grupos sociais e indivíduos, associadas a doutrinas e
ideologias.
16.
Os saqueadores e seus adeptos -
remunerados ou não - encobrem a
verdadeira natureza das políticas que
realizam o saqueio imperial, fazendo que até mesmo os críticos delas as
qualifiquem de liberais e neoliberais.
17.
Esses nomes não costumam causar repulsa geral e até exercem atração sobre as pessoas que os
associam a termos da mesma raiz, como “livre” , libertário”, “liberdade”. Palavras
bonitas e antigos ideários das revoluções francesa e norte-americana,
que passaram a ser evocados por mentores
das políticas de escravização através da economia.
18.
Do mesmo modo que as oligarquias nos países centrais, os defensores, no
Brasil, dos privilégios aos carteis
transnacionais e de seus contatos coloniais ou semicoloniais também se dizem e
são chamados de (neo)liberais.
19.
Então, o que, na realidade, não passa de mera apropriação dos recursos naturais
e dos frutos do trabalho de um país, fica sendo discutido como se fosse questão
doutrinária.
20.
O engodo é ainda maior, porque se atribui aos liberais ser contrários à
intervenção do Estado, e porque a grande maioria das pessoas ignora que
atualmente, na maioria dos países, o Estado é controlado pela oligarquia e que
ele intervém, em favor desta, nas finanças e na economia.
21.
Por causa disso - mas sem que o público perceba que é por isso - o
Estado comporta-se como insaciável coletor de impostos e taxas, sem
prestar serviços, nem investir bem, nem assegurar direitos sociais básicos.
22.
A própria incompetência adrede instalada no Estado, serviu para fazer aumentar
ainda mais a concentração predadora, através das privatizações.
23.
Essas estão sendo desfeitas em alguns países como Rússia e França, enquanto
no Brasil o Estado só aumenta de tamanho
como repassador de recursos a concentradores estrangeiros e locais.
24.
Antes, tivemos excelentes avanços tecnológicos em estatais, mas elas foram
sendo minadas para “justificar” as privatizações. Tudo em nome da “livre”
iniciativa, na qual carteis e monopólios
sufocam a iniciativa, impedem a concorrência e apropriam-se das poucas tecnologias
não impedidas de surgir.
25. Entretanto, nenhum país se desenvolveu sem a
liderança do Estado, o único instrumento de a sociedade organizar-se para
evoluir e defender-se, papel que ainda desempenha em alguns países, ainda que
nem sempre a contento geral.
26.
Sem o Estado a seu serviço, a sociedade
transforma-se em massa amorfa, composta por indivíduos sem personalidade
e sem liberdade alguma, como ocorre no grande número de países dominados pela
oligarquia financeira mundial, inclusive em suas sedes - EUA, Reino Unido.
27. Assim, as instituições formalmente
democráticas, mesmo quando não violadas por desestabilizações e golpes de
Estado, ficam sob controle daquela oligarquia. Os “governantes” são prepostos
ou acuados.
28.
De fato, não existe democracia sob regimes que não estabelecem limite à
concentração econômico-financeira. A
falsa que temos aqui leva à convulsão, com chance de o que vier depois, levar à
guerra civil, à desintegração e a ainda maior submissão ao império mundial.
29. Portanto, nossa sobrevivência depende de os
brasileiros não mais se deixarem pautar pela
agenda e pelos conceitos do império. Só começará a ser viabilizada,
quando a consciência dos fatos deixar de ser obscurecida por ideologias, e quando os brasileiros deixarem de
repelir-se entre si por divergências de opinião, inclusive esquerda ou direita.
*
- Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário