sábado, 30 de agosto de 2014

À sombra da maioria silenciosa ou Sob o signo da espiral do silêncio

 
 
Aylê-Salassié (Jornalista e Professor)

Cidadãos apegados  aos cálculos numéricos ou, outros, confiantes na sua iluminação prospectiva  diriam que  as previsões de RUPTURAS – livro lançado em abril deste ano – estavam equivocadas: “em torno de 75 milhões de eleitores não tinham candidato”.  Até àquele momento, um grupo da ordem de 20 a 25 milhões de jovens, entre 16 e 25 anos,  conectados em redes digitais não podia ser identificado como eleitores de nenhum dos pré-candidatos tanto ao governo federal quanto ao distrital; e um número oscilante entre 45 a 50 milhões pessoas encontrava-se na mesma condição.         
 
Entre os jovens galácticos (gamers e internautas) salvavam-se os  militantes digitais contratados pelos partidos para liderar mobilizações nas redes sociais e propagar virtualmente o nome dos seus candidatos. Só o PT tinha um bloco com cerca de 100 mil  internautas para fazer isso; o PSDB 60 mil; Eduardo/Marinha 15/20 mil.         
Nada se perde por recordar que essas gerações em rede, representados, em Brasília,   por pelo menos 300 mil eleitores, recusaram conviver, nas manifestações de rua, com partidos ou candidatos a cargos políticos, e que apenas 25% dos jovens de 16 e 17 anos  (TSE,   ) tiraram o título eleitoral.  Não deve surpreender, portanto, que entre  jovens de 16 a 24 anos a preferência por Dilma tenha apresentado uma queda de 38% das intenções de voto para 29%. Nesse espaço foi justamente onde Marina mais cresceu: chegou a 31%  . Preocupado desde o ano passado, o Planalto detectou nas manifestações de junho/julho, o desejo amplo de uma reforma política, mas faltou-lhe credibilidade para conduzi-la.

O segundo grupo sem candidatos, até aquele momento, era, em abril, o chamados por aqui de “indecisos”. Situam-se, entretanto, na esfera da espiral do silêncio  ( Noelle Neumann, 1972  ), contexto que envolve  pessoas inibidas pelo discurso dominante e que, por isso,  evitam  manifestar sua opinião . O pesquisador francês Jean Baudrillard (1985), chamou esse grupamento de “maiorias silenciosas”,  pessoas, segundo ele, no exercício pleno de suas faculdades e que representam sempre o perigo de abandonarem a mudez e tomarem a palavra .   Até o final de primeiro trimestre deste ano quase 50 milhões de  pessoas  no Brasil e perto de 600 mil no Distrito Federal  podiam ser incluídas nessas categorias.       

Nas pesquisas eleitorais brasileiras , embora não se ignore essa espiral do silêncio –  “não têm opinião”, “não têm candidato”  -  , os números  parecem também mais modestos, próximo de 25 % do eleitorado (Ibope/Voz Populi), o que corresponderia a aproximadamente 30 a 35 milhões de eleitores( de um total possível de 50 a 60 milhões de pessoas). É preciso prestar a atenção porque  com essa grandeza o , grupo aparentemente omisso, que  desconfia das pesquisas, dos partidos e  dos candidatos,  pode decidir as eleições, no primeiro ou no segundo turno.  

O maior conforto para quem teme a sombra dessa espiral  de opiniões contidas  é trazida pela própria Neumann, ao confirmar a sua hipótese, tirada das eleições de 1965 e 1972, na Alemanha, constatando que grande parte desses eleitores, os indecisos, terminam tendendo para os candidatos  que apresentam chances claras de vitória. Este povo detesta jogar voto fora, e até votar em quem, prematuramente, já se sabe que vai perder.
 
Assim,  os números do Ibope que colocam Marina na vanguarda das eleições presidenciais podem ser retratados num quadro ainda impreciso: candidata com o recall das eleições de 2010 (19 milhões de votos), canalizadora da comoção coletiva pela morte de Eduardo Campos (8/12 milhões de votos na campanha), messianismo que ajudou Lula (? votos)  e a simpatia dos “descontentes” de 2013. Quem e quantos  são, de fato,  esses dois últimos? Infere-se  que paira sobre setembro – agosto é passado -, o último mês da campanha  para as eleições de 2014, a sombra das maiorias silenciosa.
 

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