Em processo eleitoral, o
importante é o produto final líquido. A Presidenta Dilma Rousseff, do Partido
dos Trabalhadores-PT-, é favorita para vencer as eleições e garantir mais um
mandato, no próximo domingo, contra o seu desafiante, Aécio Neves, do Partido
da Social Democracia Brasileira - PSDB-. Dilma tem 52% das intenções de voto e
Aécio 48%, segundo as últimas pesquisas.
São as seguintes as causas do
favoritismo da Presidenta Dilma Rousseff:
1) Não
houve um discurso de oposição suficiente para convencer o eleitorado a
substituir o PT/PMDB no controle do poder governamental, apesar dos handicaps apresentados por Dilma no
primeiro turno, tais como protestos de rua em junho, perda humilhante da Copa
do Mundo, denúncias de corrupção do Mensalão e da Petrobrás, atraso nas obras
do Programa de Aceleração do Crescimento- PAC- e oscilações para baixo nas
pesquisas de intenções de votos;
2) A
Presidenta Dilma Rousseff tem nas mãos a caneta que nomeia e demite, prende e
solta, e ainda libera as verbas que abastecem os programas assistencialistas (bolsas-família,
educação, etc.,), o programa habitacional Minha
Casa, Minha Vida, o programa
de saúde SAMU, todos visando às populações
mais necessitadas do País e beneficiando, direta e indiretamente, cerca de 50%
da população brasileira, em especial no Nordeste e Norte e áreas da periferia
das grandes capitais do Sul e Sudeste. Em termos de votos, somariam cerca de
quase 30% do eleitorado, cerca de 43 milhões de votos;
3) Presidenta Dilma tem o maquiavélico marqueteiro João Santana do seu lado: Marketing
faz 30% dos votos, em termos científicos, pois consiste no convencimento do
eleitorado indeciso, mas Santana é construtor e desconstrutor de imagens de
políticos, sendo considerado hoje o maior especialista mundial nessa matéria. É mestre em disputa de segundo turno, onde cada passo faz a diferença, como numa corrida de 100 metros rasos;
4) Santana
fez Dilma explorar nos debates a derrota de Aécio Neves em seu principal reduto
eleitoral, o estado de Minas Gerais, onde o PT elegeu seu candidato a
governador Fernando Pimentel, contra a máquina política de Aécio. Essa derrota
pode ser considerada como o calcanhar-de-Aquiles de Aécio, na disputa final com
Dilma, pois, se os mineiros reprovaram Aécio, o resto do país é menos
credenciado para aprová-lo, conforme a intrincada psicologia do eleitorado;
5) O
aborto da candidatura de Marina, derrotada em primeiro turno, em substituição
ao falecido Eduardo Campos, como candidata do Partido Socialista Brasileiro -
PSB-, foi o aborto do próprio Sinistrismo
(o fenômeno apontado por Duverger, que consiste no surgimento imediato de um
partido de esquerda, em condições de disputa real do poder, pela tendência à
caracterização do partido no poder como de direita). O PSB seria (ou talvez possa ainda ser) o partido tendente
à sucessão do PT/PMDB.
6) O
discurso mudancista de Aécio tem a retórica neoliberal utilizada pelo governo
Fernando Henrique Cardoso, cujo período foi marcado pelo programa de
privatizações e contenção de gastos com a máquina administrativa, culminando
com a adoção do Plano Real preparado pelo governo Itamar Franco. Apoiado nas ideias
do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que seria o próximo ministro
da Fazenda, o discurso de Aécio amedronta a nova classe média brasileira ( 54%
da população) com cerca de 32 milhões de brasileiros incorporados na última
década, dos quais 19,3 saídos da pobreza.
7) O
carisma pessoal de Dilma funciona, embora seus adversários e críticos pelas
redes sociais procurem ridicularizar a “Presidenta”. Dilma apresenta
considerável resiliência junto ao eleitorado, mesmo quando escorrega em seus
discursos e debates. Contra Aécio, um profissional da política, neto de Tancredo
Neves, Dilma usou o truque simples do gato, subindo na árvore com suas
estatísticas, para fugir dos cães de caça treinados, deixando à raposa o
emprego de seu inútil arsenal de truques, como na fábula de Esopo;
8) Dilma
conta com mais simpatia do “partido silencioso” dos militares do que Aécio e o
próprio Fernando Henrique Cardoso, que inventou em seu governo o Ministério da
Defesa e reduziu o poder dos militares na formulação e execução da política de
Defesa Nacional. Subestimar a influência das Forças Armadas nas eleições é um
suicídio, pois a capacidade de influência eleitoral dos militares, nos mais
distantes rincões, é inquestionável. Dilma tem tido o devido cuidado de não
afrontar a classe, garantindo-lhe recursos para modernização, através de
parcerias empresariais com as construtoras, sob o guarda-chuva da Embraer, em
grandes projetos no exterior.O caso da Comissão da Verdade, discurso interno
para as esquerdas, está sob controle político, e Dilma tem tido a prudência suficiente
para não sentar-se sobre a baioneta... Comunização do País, com a participação
do PMDB e leniência das Forças Armadas? Só se for no reino da Utopia...
9) O
PMDB continua atuando como um partido de sustentação da coalizão governamental
com o PT, através de sua expressiva participação no Congresso Nacional, garantindo
muitos votos para a chapa Dilma Rousseff/Michel Temer nas regiões Sul e
Sudeste, onde tem robusto apoio das empreiteiras;
10) O ex-presidente Lula continua participando
ativamente da campanha de Dilma, e seu poder de influência é enorme, juntamente
com o da conhecida militância petista;
11) A
assustadora falta de água nos estados de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores
contingentes eleitorais do País, governados por tucanos, vem gerando estilhaços
eleitorais contra o PSDB, por mais que
se tente imputar o problema às intempéries naturais.
12) A
Presidenta Dilma adquiriu autonomia política, apesar da presença marcante do
ex-presidente Lula ao seu lado. Vale dizer, Dilma ganhou mais legitimidade e
consentimento das massas. Fato notável e magnificamente sintetizado pelo cantor
Chico Buarque de Holanda, em seu declarado voto a Dilma, no qual afirma que, na
primeira vez, votou em Dilma por causa do Lula; agora, votará em Dilma, por
causa de Dilma...
Eleição e mineração, só na apuração, como diz o provérbio. Mas, só um fato muito extraordinário poderá impedir a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff.
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