Por Márcio C. Coimbra
Garrett Walker, Presidente dos Estados Unidos na série House of Cards, olha para Frank Underwood e diz: "Minha aprovação é de 8%. Mesmo que eu escape de uma condenação, eu não tenho mais um mandato para liderar. É melhor que eu saia de cena com alguma dignidade e a nação inicie seu processo de cura". Walker enfrentava uma série de acusações sobre dinheiro ilícito e estrangeiro em sua campanha presidencial. Fez aquilo que se espera de um estadista: decidiu sair de cena, colocando sua nação em primeiro lugar.
Nenhum Presidente americano na história recente teve índices de popularidade como as sugeridas na ficção. Truman andou no patamar dos 22% e George W. Bush esbarrou nos 25%. Até Nixon, que acabou renunciando, tinha uma popularidade de 24%. Atualmente a de Obama vive em torno de 47% e seu menor patamar foi de 38%.
Tudo isso preocupa quando olhamos para os números do Ibope. Dilma anda disputando com Garrett Walker patamares baixos de aprovação. A Presidente do Brasil tem hoje 9% de avaliação positiva - com apenas 6 meses de mandato cumprido. É uma situação preocupante. Em uma democracia, o apoio popular é fundamental para manutenção do poder. A falta de popularidade afeta a capacidade de liderar e faz com que o mandatário se torne apenas um coadjuvante sem importância na sua relação com as demais instituições. Se o sistema é parlamentarista, cai o governo, mas no presidencialismo a agonia parece eterna.
83% dos brasileiros desaprovam a maneira de governar de Dilma, enquanto 78% afirmam não confiar nela. 82% enxergam seu segundo governo pior do que o primeiro. Em qualquer democracia são números de uma administração moribunda, que respira por aparelhos e espera simplesmente o fim. A questão é que Dilma ainda tem 3 anos e meio de mandato pela frente. Como disse antes, é uma agonia interminável.
Isto joga o Brasil diante de um problema institucional. Diante do vácuo de poder criado pela própria Dilma, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal assumiram o protagonismo no País, impondo sua agenda para um Planalto acuado e atrapalhado. As surras tomadas pelo governo no parlamento são vexatórias, intensas e em série. Pode parecer incrível, mas não se enxerga mais legitimidade de uma administração que foi reeleita menos de um ano atrás.
Os problemas vêm de todas frentes. O cardápio é variado, passando por corrupção, inflação, economia deteriorada, desemprego, falta de crédito, derrotas no Congresso, inoperância e fraqueza. Falta capacidade de liderança para a Presidente e reconhecimento institucional ao seu governo. A gravidade é tamanha que há rumores até de que Lula estaria disposto a entregar a cabeça de Dilma com vistas a preservar a sua. Na Câmara fala-se em aprovar o sistema parlamentarista. A palavra impeachment circula livremente pela capital.
A solução encontrada por Garrett Walker foi a renúncia. As saídas encontradas para situações de crise são várias, entretanto, durante uma convulsão política aguda, as opções diminuem muito. No caso de Dilma, os números ainda não se transformaram, por mais incrível que possa parecer, em pressão real para que deixe o cargo – o que não quer dizer que não possa acontecer. Apesar de perdido e fraco o governo ainda se mantém, entretanto, com o crescimento das pressões, tudo pode mudar rapidamente. Já chegou o momento da Presidente olhar com atenção para todo seu leque de opções ao invés de ser tragada pelo processo de dilaceramento de sua liderança. Muitas vezes é melhor manter a dignidade e abrir caminho para o processo de cura.
*Consultor Político. Mestre em Ciência Política, Universidad Rey Juan Carlos, Espanha.
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