Francisco das Chagas Leite Filho
A mídia se compraz em alardear os movimentos do vice-presidente da República, Michel Temer, que se tornaram nitidamente conspirativos, desde que ele tentou, no início do mês, se postular como a única liderança política capaz de unificar o país. O propósito evidente do poder midiático é de alimentar o noticiário desfavorável ao governo, no momento em que a tese do impeachment sofre nova inflexão.
A mídia se compraz em alardear os movimentos do vice-presidente da República, Michel Temer, que se tornaram nitidamente conspirativos, desde que ele tentou, no início do mês, se postular como a única liderança política capaz de unificar o país. O propósito evidente do poder midiático é de alimentar o noticiário desfavorável ao governo, no momento em que a tese do impeachment sofre nova inflexão.
E Temer presta-se muito bem à manobra. No início da crise, chegou a manter uma postura discreta e mesmo colaborativa com a governabilidade, como compete institucionalmente sua função, mas depois se engajou em ações cada vez mais desabridas de esvaziamento e discreta contestação da presidenta. Hoje, no portal da Veja, lá ele fazendo coro com o alarmismo dominante: “É extremamente preocupante que o governo envie ao congresso uma proposta de orçamento ao Congreso com previsão de déficit”.
Numa escalada de desafios à presidenta, Temer, nos últimos dias, recebeu empresários insatisfeitos com a política de governo no Jaburu, o palácio oficial da vice-presidência; insurgiu-se contra a volta da CPMF, o imposto sobre o cheque, cogitado para reequilibrar a contabilidade do país; renunciou à articulação da base governista no Congresso; falou quase como futuro presidente numa reunião de 20 grandes empresários na FIESP e agora se empoleira a respaldar um programa em rede nacional do PMDB, de ataques à presidenta e a seu programa de governo.
Note-se que o PMDB, partido de que Temer é presidente nacional, faz parte formalmente da básica política do governo e indicou o nome do mesmo Michel Temer para compor, como candidato a vice-presidente, a chapa vitoriosa de Dilma nas eleições, tanto de 2010, como na de 2014. Seu lugar, portanto, deveria estar do lado da legalidade e não da conspiração.
De todas maneiras, cumpre-se uma velha maldição do cargo de vice-presidente: a de seu ocupante aproveitar-se de situações de desgaste de de vulnerabilidade do Chefe da Nação para solapar e depois usurpar-lhe o poder, mesmo que, no caso presente, Michel Temer não tenha obtido, um só dos 54.499.901 votos concedidos a Dilma Rousseff.
Outros antecessores do atual vice, como o marechal Floriano Peixoto, vice do primeiro presidente e proclamador da República, o também marechal, Deodoro da Fonseca, em 1891 (eleição indireta), e, mais recentemente, Itamar Franco, vice de Fernando Colllor, 1992 (eleição direta), conseguiram seu intento, derrubando os titulares e completando o mandato presidencial.
Houve outros que perderam o rumo e, ainda que assumissem o poder por breve período, como Café Filho, vice de Getúlio , em 1954 (eleição direta, com votações diferentes para titular e vice), foram depostos e ainda passaram à história como grandes traidores.
No caso atual, a situação se complica, por que Temer, ao contrário de Floriano e de Itamar, não consolidou uma liderança nem sequer um prestígio em termos nacionais, capaz de assegurar-lhe sustentação na chefia da alta magistratura do país. Será um presidente fraco, se conseguir seu intento, e totalmente controlado pela elite econômica, cuja pauta, sabemos todos, é a de liquidar o restante de nossas estatais e de aplicar o arrocho para a população
Floriano era um líder nacionalista de tradição e respeito, tanto no Exército como em toda a Nação, a ponto de ter passado à história como o Consolidador da República. Por sua vez, Itamar Franco, ex-governador de Minas e senador, defrutava de prestígio nacional e de uma vida pessoal ilibada.
Já Temer, além de ter uma dependência absoluta às cúpulas políticas e econômicas e continuar um desconhecido da maioria, apesar das últimas capas de revista e manchetes dos jornalões, tem um passado vinculado a suspeitas que rondaram sua última eleição como deputado federal pelo PMDB de São Paulo, no pleito de 2006. Igualmente, em abril de 2011, um despacho do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, excluiu Michel Temer, então, em primeiro mandato de vice-presidente (2010-2014), de um processo em que era investigado por suposta participação em um esquema de corrupção e fraudes em licitações no porto de Santos (SP). tendo o caso voltado à primeira instância de São Paulo, onde se iniciou.
Enquanto isso, a boataria corre solta. Na edição desta semana, a revista Veja afirma que “as divergências entre Dilma e Temer são mais profundas do que parecem”. Segundo a revista, “Dilma acredita que Temer conspira contra ela” e que “Temer acredita que Dilma conspira contra ele”, e conclui: “Os dois mal se falavam desde que o vice-presidente concedeu uma entrevista em que reconheceu a gravidade da crise instaladano governo e, ao que parecia, desincumbia a presidente da tarefa conciliadora”.
O fato relevante, porém, é que o Vice, como articulador político, tentou, com seu grupo de operadores peemedebistas, controlar o poder, deixando Dilma e o PT numa posição de figura decorativa. Tal manobra acabou sendo abortada pela própria presidenta, em nome de sua autoridade, legitimamente conquistada nas urnas. Tudo agora fica mais claro e os conspiradores terão de mostrar a própria cara.
O fato relevante, porém, é que o Vice, como articulador político, tentou, com seu grupo de operadores peemedebistas, controlar o poder, deixando Dilma e o PT numa posição de figura decorativa. Tal manobra acabou sendo abortada pela própria presidenta, em nome de sua autoridade, legitimamente conquistada nas urnas. Tudo agora fica mais claro e os conspiradores terão de mostrar a própria cara.
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