A
prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do Governo no Senado Federal e pertencente ao Partido dos Trabalhadores -PT- pelo
Mato Grosso do Sul, inaugura uma nova fase na república brasileira: A da punibilidade
dos que exerçam mandato legislativo, senadores e deputados, até aqui quase
intocáveis e protegidos pela legislação, que lhes dá foro especial, e por uma
série de rituais e artimanhas do procedimento legislativo. O Supremo Tribunal Federal -STF-TF decretou a prisão preventiva de Delcídio por tentativa de obstrução das investigações da Operação Lava Jato.
A Polícia Federal prendeu ,junto com o senador, o banqueiro dono do Pactual, André Esteves. As duas prisões desencadeiam
clima procelário que trava a pauta do Congresso Nacional e estimula a campanha a favor da
abertura de processo de impeachment
da presidente Dilma Rousseff, que não consegue resolver o problema das
“pedaladas fiscais” e concluir o orçamento para 2016 e nem aprovar reformas
fiscais que tirem o País da crise politica e econômica. Há uma percepção de que o País se encontra à deriva.
Outras
consequências possíveis dessas prisões dizem respeito ao impacto negativo sobre o
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, alvo de várias denúncias e
de processo na Comissão de Ética da Câmara, e a revelação de várias cabeças
coroadas, mencionadas nas delações premiadas da Operação Lava Jato, em supostas
conexões com personagens citadas por Delcídio.
Atenho-me
ao noticiário geral. Observe-se que o banqueiro André Esteves é citado como bem
relacionado com o ex-presidente Fernando Collor e o senador Aécio Neves. Nestor
Cerveró disse que Esteves pagou propina a Collor. Aécio teve sua lua-de-mel em
Nova York paga pelo banqueiro. Na operação Lava Jato, o pecuarista José Carlos
Bumlai, protegido do ex-presidente Lula e detido pela Polícia Federal, é
relacionado com André Esteves, a quem
vendeu uma fazenda, de 110 mil hectares, no Mato Grosso do Sul, em 2012.
Relações entre empresários e políticos são normais, e até inevitáveis para o bom governo, sabendo-se que o poder econômico hoje rege muita coisa da política. A questão que se coloca diz respeito à qualidade -ou deficiência -dessas relações em função da coisa pública, do bem comum.
A
vaidade é um dos pecados capitais e, quando associada à corrupção, leva àquilo
que o sábio Lord Acton pronunciou:”O poder
pode corromper; o poder absoluto corrompe absolutamente.” Para Delcídio, a
vaidade foi mortal e fê-lo cair numa cilada que lhe foi preparada, com
requintes de pesca de peixe grande. Deram-lhe bastante corda e uma boa isca, e
ele foi fisgado. Está morrendo pela boca...
Chama
a atenção de qualquer observador primário dos fatos a absoluta ausência de quem
defenda o senador Delcídio do Amaral. E por quê? Porque o senador
enfiou a faca no próprio peito insinuando para Bernardo Cerveró, filho de
Nestor Cerveró, o ex-dirigente da Petrobrás que está preso, após ser apanhado
na Operação Lava Jato, que podia oferecer fuga a seu pai mediante mirabolantes
articulações com ministros do Supremo Tribunal Federal, o Vice-Presidente
Michel Temer, o presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, e o
banqueiro André Esteves. Tudo isto para que Cerveró não fizesse delação premiada.
É
óbvio que, além de ser um fato inédito na república, um senador ser preso em
pleno exercício do mandato, o ocorrido em si torna o ambiente político
brasileiro mais tenso e atinge a credibilidade do Governo Dilma Rousseff, de
quem Delcídio era o líder no Senado. Não importa que a direção nacional do
Partido dos Trabalhadores, pela nota emitida pelo presidente Ruy Falcão, dê uma
de Pôncio Pilatos e lave as mãos entregando o senador às feras.
Dulcídio
não era mesmo querido pelo partido, que o acolhera como um auxiliar postiço. O
senador tinha trânsito junto à Presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel
Temer, mas isso não importa ao PT, pois Dilma também não é querida pelo
Partido.
Naquela
orla do Lago Paranoá, onde lobistas e políticos se curtem mutuamente nos hotéis
de luxo, fazendo altas e impublicáveis transações contra a Pátria e o Povo, é
muito comum a jactância até de quem não tem o poder real, mas apenas relações
de poder. Delcídio do Amaral usou de seu relativo trânsito com os poderosos para
se enriquecer, jogando até com o dono do maior banco de investimentos do País,
o banco Pactual, propriedade do banqueiro André Esteves, homem de fama
internacional.
A
prisão do empresário agrava em muito o quadro econômico brasileiro, em face das
repercussões imensas que vem gerando no mercado internacional. Joga lenha na
crise e na ideia de contaminação do Brasil como um país bom para investidores.
Difícil será o banco Pactual se livrar desse impacto e até mesmo de uma fuga de
capitais. Sua simples prisão gerou perdas de dois bilhões de dólares ao banco.
Em
seu voto pela prisão do senador, a ministra Carmen Lúcia, do STF, proferiu a
mais contundente frase contra os corruptos do País, mandando um aviso aos
navegantes:
Com
tão elevado grau de contaminação da política, torna-se fundamental ressaltar o
voto declarado pela ministra Carmen Lúcia, do STF, em favor da prisão de
Delcídio:Na história recente da nossa pátria houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois nos deparamos com a ação penal 470 [mensalão] e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes. Não passarão sobre a Constituição do Brasil."
O
Poder Judiciário no Brasil é o único, atualmente, em condições de tomar a
iniciativa de moralização da coisa pública, e, se necessário, até mesmo
convocando as Forças Armadas a intervirem, nos termos da Constituição.
Os
augúrios e os auspícios políticos são observados atentamente pelos militares,
que apoiam o STF incondicionalmente, conforme altas patentes já asseguraram ao
presidente do órgão, ministro Ricardo Lewandowski. Aliás, o presidente do STF tem-se poupado da imprensa, enquanto, cada vez mais, ganha
consistência a sugestão de renúncia coletiva de Dilma, Temer e Cunha, apregoada
pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF.
Fica
a pergunta: E se Nestor Cerveró - o mais temido arquivo vivo da atualidade na Operação Lava Jato -resolver botar a boca no trombone, como temem
Delcídio e outras figuras? Certamente, o mar de lama que inunda o Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, tornar-se-á muito mais emblemático para os brasileiros e o mundo inteiro.
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