quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Prisões de Delcídio e Esteves tornam o clima procelário em Brasília


A prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do Governo no Senado Federal e pertencente ao Partido dos Trabalhadores -PT- pelo Mato Grosso do Sul, inaugura uma nova fase na república brasileira: A da punibilidade dos que exerçam mandato legislativo, senadores e deputados, até aqui quase intocáveis e protegidos pela legislação, que lhes dá foro especial, e por uma série de rituais e artimanhas do procedimento legislativo. O Supremo Tribunal Federal -STF-TF decretou a prisão preventiva de Delcídio por tentativa de obstrução das investigações da Operação Lava Jato.
A Polícia Federal prendeu ,junto com  o senador, o banqueiro dono do Pactual, André Esteves. As duas prisões desencadeiam clima procelário que trava a pauta do Congresso Nacional e estimula a campanha a favor da abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que não consegue resolver o problema das “pedaladas fiscais” e concluir o orçamento para 2016 e nem aprovar reformas fiscais que tirem o País da crise politica e econômica. Há uma percepção de que o País se encontra à deriva.
Outras consequências possíveis dessas prisões dizem respeito ao impacto negativo sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, alvo de várias denúncias e de processo na Comissão de Ética da Câmara, e a revelação de várias cabeças coroadas, mencionadas nas delações premiadas da Operação Lava Jato, em supostas conexões com personagens citadas por Delcídio.
Atenho-me ao noticiário geral. Observe-se que o banqueiro André Esteves é citado como bem relacionado com o ex-presidente Fernando Collor e o senador Aécio Neves. Nestor Cerveró disse que Esteves pagou propina a Collor. Aécio teve sua lua-de-mel em Nova York paga pelo banqueiro. Na operação Lava Jato, o pecuarista José Carlos Bumlai, protegido do ex-presidente Lula e detido pela Polícia Federal, é relacionado com André Esteves,  a quem vendeu uma fazenda, de 110 mil hectares, no Mato Grosso do Sul, em 2012.
Relações entre empresários e políticos são normais, e até inevitáveis para o bom governo, sabendo-se que o poder econômico hoje rege muita coisa da política. A questão que se coloca diz respeito à qualidade  -ou deficiência -dessas relações em função da coisa pública, do bem comum.
A vaidade é um dos pecados capitais e, quando associada à corrupção, leva àquilo que o sábio Lord Acton pronunciou:”O poder pode corromper; o poder absoluto corrompe absolutamente.” Para Delcídio, a vaidade foi mortal e fê-lo cair numa cilada que lhe foi preparada, com requintes de pesca de peixe grande. Deram-lhe bastante corda e uma boa isca, e ele foi fisgado. Está morrendo pela boca...
Chama a atenção de qualquer observador primário dos fatos a absoluta ausência de quem defenda o senador Delcídio do Amaral. E por quê? Porque o senador enfiou a faca no próprio peito insinuando para Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, o ex-dirigente da Petrobrás que está preso, após ser apanhado na Operação Lava Jato, que podia oferecer fuga a seu pai mediante mirabolantes articulações com ministros do Supremo Tribunal Federal, o Vice-Presidente Michel Temer, o presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, e o banqueiro André Esteves. Tudo isto para que Cerveró não fizesse delação premiada.
É óbvio que, além de ser um fato inédito na república, um senador ser preso em pleno exercício do mandato, o ocorrido em si torna o ambiente político brasileiro mais tenso e atinge a credibilidade do Governo Dilma Rousseff, de quem Delcídio era o líder no Senado. Não importa que a direção nacional do Partido dos Trabalhadores, pela nota emitida pelo presidente Ruy Falcão, dê uma de Pôncio Pilatos e lave as mãos entregando o senador às feras.
Dulcídio não era mesmo querido pelo partido, que o acolhera como um auxiliar postiço. O senador tinha trânsito junto à Presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, mas isso não importa ao PT, pois Dilma também não é querida pelo Partido.
Naquela orla do Lago Paranoá, onde lobistas e políticos se curtem mutuamente nos hotéis de luxo, fazendo altas e impublicáveis transações contra a Pátria e o Povo, é muito comum a jactância até de quem não tem o poder real, mas apenas relações de poder. Delcídio do Amaral usou de seu relativo trânsito com os poderosos para se enriquecer, jogando até com o dono do maior banco de investimentos do País, o banco Pactual, propriedade do banqueiro André Esteves, homem de fama internacional.
A prisão do empresário agrava em muito o quadro econômico brasileiro, em face das repercussões imensas que vem gerando no mercado internacional. Joga lenha na crise e na ideia de contaminação do Brasil como um país bom para investidores. Difícil será o banco Pactual se livrar desse impacto e até mesmo de uma fuga de capitais. Sua simples prisão gerou perdas de dois bilhões de dólares ao banco.
Em seu voto pela prisão do senador, a ministra Carmen Lúcia, do STF, proferiu a mais contundente frase contra os corruptos do País, mandando um aviso aos navegantes:
Com tão elevado grau de contaminação da política, torna-se fundamental ressaltar o voto declarado pela ministra Carmen Lúcia, do STF, em favor da prisão de Delcídio:Na história recente da nossa pátria houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois nos deparamos com a ação penal 470 [mensalão] e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes. Não passarão sobre a Constituição do Brasil." 
O Poder Judiciário no Brasil é o único, atualmente, em condições de tomar a iniciativa de moralização da coisa pública, e, se necessário, até mesmo convocando as Forças Armadas a intervirem, nos termos da Constituição.
Os augúrios e os auspícios políticos são observados atentamente pelos militares, que apoiam o STF incondicionalmente, conforme altas patentes já asseguraram ao presidente do órgão, ministro Ricardo Lewandowski. Aliás, o presidente do STF tem-se poupado da imprensa, enquanto, cada vez mais, ganha consistência a sugestão de renúncia coletiva de Dilma, Temer e Cunha, apregoada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF.
Fica a pergunta: E se Nestor Cerveró - o mais temido arquivo vivo da atualidade na Operação Lava Jato -resolver botar a boca no trombone, como temem Delcídio e outras figuras? Certamente, o mar de lama que inunda o Vale do Rio Doce, em Minas Gerais,  tornar-se-á  muito mais emblemático para os brasileiros e o mundo inteiro.

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