quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Situação penosa da imprensa



A situação da imprensa no Brasil não é confortável, em termos de liberdade, pois  ela se encontra submetida à censura política pela via  econômica e sob controle do governo, sem capacidade de exercer seu papel tradicional de informar o cidadão, fiscalizar  as instituições e denunciar as mazelas do País.


Os poucos órgãos com influência nacional dependem da publicidade oficial direta e indireta, para se manterem a duras penas, além de sofrerem a forte concorrência da internet em seu próprio conteúdo divulgado.


Há crescente número de jornalistas desempregados, nos grupos privados de comunicação, e as estatísticas, sob controle sindical, são pouco confiáveis, mas estima-se que haja 50 mil profissionais ativos no Brasil, dos quais cerca de 30 mil sindicalizados, segundo dados revelados pela Federação Nacional dos Jornalistas –FENAJ.


Uma rápida avaliação indica, com base nos dados do Instituto Verificador de Circulação –IVC- que a tiragem diária dos 10 maiores jornais brasileiros não ultrapassa dois milhões e meio de exemplares. Ainda que se somem esses dados com os referentes à circulação de jornais regionais e menores, imprensa alternativa e revistas, são números ridículos em relação ao tamanho da população, 194 milhões de pessoas.


Não é apenas a imprensa, mas órgãos como Polícia Federal, Secretaria da Receita Federal e Ministério das Relações Exteriores - ligados às carreiras de estado – estão sendo silenciosamente monitorados, para não cumprirem com muita eficiência as suas atribuições, ainda mais nesses preparativos da Copa do Mundo, onde os gastos e desvios reais de verbas são mantidos fora do conhecimento popular.


Não é de se estranhar, diante desse quadro, que a direção do jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, tenha publicado recente declaração abjurando seu apoio à Revolução de 31 de Março de 1964.


Um ato de oportunismo das Organizações Globo, segundo o general reformado e articulista Valmir Fonseca Azevedo Pereira, para quem “a Rede Globo é conivente e deseja que o Brasil seja dominado por uma nomenclatura que a torne o seu porta-voz”.


Para o general Clóvis Purper Bandeira, assessor da presidência do Clube Militar, “trata-se de revisionismo, adesismo e covardia do último grande jornal carioca.” É a seguinte a íntegra de seu artigo:


“Numa mudança de posição drástica, o jornal O Globo acaba de denunciar seu apoio histórico à Revolução de 1964”. Alega, como justificativa para renegar sua posição de décadas, que se tratou de um “equívoco redacional”.


“Os grandes jornais existentes à época, o único sobrevivente carioca como mídia diária impressa é O Globo. Depositário de artigos que relatam a história da cidade, do país e do mundo por mais de oitenta anos, acaba de lançar um portal na Internet com todas as edições digitalizadas, o que facilita sobremaneira a pesquisa de sua visão da história.


Pouca gente tinha paciência e tempo para buscar nas coleções das bibliotecas, muitas vezes incompletas, os artigos do passado. Agora, porém, com a facilidade de poder pesquisar em casa ou no trabalho, por meio do portal eletrônico, muitos puderam ler o que foi publicado na década de 60 pelo jornalão, e por certo ficaram surpresos pelo apoio irrestrito e entusiasta que o mesmo prestou à derrubada do governo Goulart e aos governos dos militares. Nisso, aliás, era acompanhado pela grande maioria da população e dos órgãos de imprensa.


Pressionado pelo poder político e econômico do governo, sob a constante ameaça do “controle social da mídia” – no jargão politicamente correto que encobre as diversas tentativas petistas de censurar a imprensa – o periódico sucumbiu e renega, hoje, o que defendeu ardorosamente ontem.


Alega, assim, que sua posição naqueles dias difíceis foi resultado de um equívoco da redação, talvez desorientada pela rapidez dos acontecimentos e pela variedade de versões que corriam sobre a situação do país.


Dupla mentira: em primeiro lugar, o apoio ao Movimento de 64 ocorreu antes, durante e por muito tempo depois da deposição de Jango; em segundo lugar, não se trata de posição equivocada “da redação”, mas de posicionamento político firmemente defendido por seu proprietário, diretor e redator chefe, Roberto Marinho, como comprovam as edições da época; em segundo lugar, não foi, também, como fica insinuado, uma posição passageira revista depois de curto período de engano, pois dez anos depois da revolução, na edição de 31 de março de 1974, em editorial de primeira página, o jornal publica derramados elogios ao Movimento; e em 7 de abril de 1984, vinte anos passados, Roberto Marinho publicou editorial assinado, na primeira página, intitulado “Julgamento da Revolução”, cuja leitura não deixa dúvida sobre a adesão e firme participação do jornal nos acontecimentos de 1964 e nas décadas seguintes.


Declarar agora que se tratou de um “equívoco da redação” é mentira deslavada. Equívoco, uma ova! Trata-se de revisionismo, adesismo e covardia do último grande jornal carioca.


Nossos pêsames aos “leitores.”

 

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