Fiz enquete sobre as possibilidades da Argentina resolver seu problema de atendimento às suas
necessidades de petróleo e derivados após a sua decisão de nacionalizar a YPF,mas
poucos leitores votaram,o que impossibilita um resultado significativo.
Na minha opinião,a Argentina não
tem condições financeiras e tecnológicas de produzir e comercializar por sua conta o petróleo e o
gás em seu subsolo,principalmente as
reservas situadas na Patagônia.Ela já conta com a participação da Petrobrás e
terá que recorrer a outras empresas de grande porte.É uma questão de urgência.
Resta saber qual empresa substituirá a espanhola Repsol, que vai muito bem no
Brasil e outros países latino-americanos.
Meu colega Gélio Fregapani,que
tem dado preciosas contribuições para este blog, lembra oportunamente uma frase
lapidar do ex-secretário de Estado dos Estados Unidos,Henry Kissinger, segundo
a qual com o petróleo se domina um país
e com alimentos o seu povo,razões que determinam uma política agressiva
norte-americana em busca da garantia desses dois itens.
Curioso é que o petróleo se
mantenha na vanguarda das ambições do mundo inteiro e como ítem principal das
matrizes energéticas, quando as demais fontes de energia, entre as quais a
nuclear e hidrelétrica, são relegadas à segunda posição,embora sejam as que
mais trabalho e polêmica geram para as diplomacias.
O Brasil,por exemplo, tem
petróleo e alimentos e foi pressionado a assinar o Tratado de Não-Proliferação
de Armas Nucleares –o TNP-, de Tlatelolco.Testemunhei pessoalmente as pressões
feitas pelo Governo Carter contra a assinatura do acordo de cooperação nuclear
entre o Brasil e a Alemanha,no Governo Geisel.Era um dos poucos jornalistas
brasileiros convidados para cobrir a cerimônia, em Bohn, e senti o clima adverso criado pela
imprensa de Washington.
Temem os Estados Unidos que o
Brasil e a Argentina desenvolvam armas nucleares,mas o Presidente Fernando
Henrique Cardoso,no tocante ao Brasil, aceitou mansamente as pressões de
Washington, e ,hoje, até o submarino nuclear que a Marinha vem desenvolvendo em
Iperó, no litoral paulista,enfrenta dificuldades, e o acordo com a Alemanha
parece que foi relegado ao balaio das mucamas,como diria Machado de Assis. Não
sei como se encontram as pesquisas argentinas em Atucha.
A conquista do petróleo iraniano
é uma obsessão dos Estados Unidos, mas o argumento que usam,como pretexto
invasivo, é o de que o regime de Teerã vem desenvolvendo (e fala-se até em
apoio brasileiro) pesquisas para armas nucleares, o mesmo argumento que foi
usado em relação ao Iraque. E a Síria tem conexões estratégicas com a
exploração e comercialização do petróleo iraniano... Também a Coréia do Norte é
mais um país na alça de mira dos Estados Unidos,no controle da tecnologia
nuclear.
Países com a energia hidrelétrica
liderando suas matrizes, como é o caso do Brasil, enfrentam hoje forte campanha
para instalação de novas usinas.Os movimentos ambientalistas internacionais,estimulados
pelas maiores potências, procuram travar quase todos projetos mundias, em
destaque os planejados pelos países da Amazônia.
Resumo dessa ópera inspirada no
pensamento de Kissinger: Usa-se o petróleo,comercialmente significativo e
estratégico,com seus dois mil produtos derivados, como base de uma política
externa invasiva para controle da independência energética dos países em
desenvolvimento, sem a qual até a produção de alimentos fica comprometida.
O Brasil é um dos maiores
produtores mundiais de alimentos, e só consegue essa proeza porque o mundo
necessita de alimentos e as terras férteis brasileiras são imensas,com água
abundante e subsolo rico em minerais utilizados na produção de insumos,mas o
preço que paga é a presença controladora das grandes empresas detentoras de tecnologia
nesse setor.
É nesse contexto, de poder global
estratégico, que a própria associação entre energia e alimentos se faz na
produção de cana para o açúcar e o álcool etílico e até
na de café, do qual se pode extrair,além do sabor e cafeína,outro elemento químico utilizável na fabricação de
explosivo.Bizarrice química só comparável à do emprego do pueril algodão, que
nos veste e aquece – e que tanto produzimos e exportamos -,na fabricação da pólvora que aquece os
canhões, de cujas bocas emergem todo poder, como dizia Mao-tsé-Tung.
Para coroar essa aliança entre petróleo e alimentos, pesquisas de laboratórios químicos revelam o potencial do petróleo como alimento futuro para a humanidade,quando,então, para dominar um país e seu povo, bastará controlar o petróleo...
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