segunda-feira, 23 de abril de 2012

O binômio do poder global


Fiz enquete sobre as possibilidades da Argentina  resolver seu problema de atendimento às suas necessidades de petróleo e derivados após a sua decisão de nacionalizar a YPF,mas poucos leitores votaram,o que impossibilita um resultado significativo.

Na minha opinião,a Argentina não tem condições financeiras e tecnológicas de produzir  e comercializar por sua conta o petróleo e o gás  em seu subsolo,principalmente as reservas situadas na Patagônia.Ela já conta com a participação da Petrobrás e terá que recorrer a outras empresas de grande porte.É uma questão de urgência. Resta saber qual empresa substituirá a espanhola Repsol, que vai muito bem no Brasil e outros países latino-americanos.

Meu colega Gélio Fregapani,que tem dado preciosas contribuições para este blog, lembra oportunamente uma frase lapidar do ex-secretário de Estado dos Estados Unidos,Henry Kissinger, segundo a qual  com o petróleo se domina um país e com alimentos o seu povo,razões que determinam uma política agressiva norte-americana em busca da garantia desses dois itens.

Curioso é que o petróleo se mantenha na vanguarda das ambições do mundo inteiro e como ítem principal das matrizes energéticas, quando as demais fontes de energia, entre as quais a nuclear e hidrelétrica, são relegadas à segunda posição,embora sejam as que mais trabalho e polêmica geram para as diplomacias.

O Brasil,por exemplo, tem petróleo e alimentos e foi pressionado a assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares –o TNP-, de Tlatelolco.Testemunhei pessoalmente as pressões feitas pelo Governo Carter contra a assinatura do acordo de cooperação nuclear entre o Brasil e a Alemanha,no Governo Geisel.Era um dos poucos jornalistas brasileiros convidados para cobrir a cerimônia, em  Bohn, e senti o clima adverso criado pela imprensa de Washington.

Temem os Estados Unidos que o Brasil e a Argentina desenvolvam armas nucleares,mas o Presidente Fernando Henrique Cardoso,no tocante ao Brasil, aceitou mansamente as pressões de Washington, e ,hoje, até o submarino nuclear que a Marinha vem desenvolvendo em Iperó, no litoral paulista,enfrenta dificuldades, e o acordo com a Alemanha parece que foi relegado ao balaio das mucamas,como diria Machado de Assis. Não sei como se encontram as pesquisas argentinas em Atucha.

A conquista do petróleo iraniano é uma obsessão dos Estados Unidos, mas o argumento que usam,como pretexto invasivo, é o de que o regime de Teerã vem desenvolvendo (e fala-se até em apoio brasileiro) pesquisas para armas nucleares, o mesmo argumento que foi usado em relação ao Iraque. E a Síria tem conexões estratégicas com a exploração e comercialização do petróleo iraniano... Também a Coréia do Norte é mais um país na alça de mira dos Estados Unidos,no controle da tecnologia nuclear.

Países com a energia hidrelétrica liderando suas matrizes, como é o caso do Brasil, enfrentam hoje forte campanha para instalação de novas usinas.Os movimentos ambientalistas internacionais,estimulados pelas maiores potências, procuram travar quase todos projetos mundias, em destaque os planejados pelos países da Amazônia.

Resumo dessa ópera inspirada no pensamento de Kissinger: Usa-se o petróleo,comercialmente significativo e estratégico,com seus dois mil produtos derivados, como base de uma política externa invasiva para controle da independência energética dos países em desenvolvimento, sem a qual até a produção de alimentos fica comprometida.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos, e só consegue essa proeza porque o mundo necessita de alimentos e as terras férteis brasileiras são imensas,com água abundante e subsolo rico em minerais utilizados na produção de insumos,mas o preço que paga é a presença controladora das grandes empresas detentoras de tecnologia nesse setor.

É nesse contexto, de poder global estratégico, que a própria associação entre energia e alimentos se faz na produção de cana para o açúcar e o álcool etílico  e  até na de café, do qual se pode extrair,além do sabor e cafeína,outro  elemento químico utilizável na fabricação de explosivo.Bizarrice química só comparável à do emprego do pueril algodão, que nos veste e aquece – e que tanto produzimos e exportamos  -,na fabricação da pólvora que aquece os canhões, de cujas bocas emergem todo poder, como dizia Mao-tsé-Tung.
Para coroar essa aliança entre petróleo e alimentos, pesquisas de laboratórios químicos revelam o potencial do petróleo como alimento futuro para a humanidade,quando,então, para dominar um país e seu povo, bastará controlar o petróleo...

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