A morte de Bin Laden, em Abbottabad, perto de Islamabad, capital
do Paquistão, cujo aniversário é lembrado no primeiro de maio, se
transformou num emblema do Governo Barack Obama contra o terrorismo mundial e
para sua própria campanha de reeleição.
Assisti pelo “History Channel” a reconstituição do
planejamento e da execução dessa
operação e a divulgação do seu resultado
final,com pompa e circunstância, em cadeia televisiva mundial, pelo Presidente
Obama e seus principais assessores da Casa Branca que tinham acompanhado por vídeo cada movimento das tropas de elite da Marinha
dos Estados Unidos.
Em termos militares, foi um duro golpe contra a organização Al-
Qaeda, mas, eleitoralmente, essa façanha agora é explorada pelo presidente Barack Obama como uma operação de
resgate ancorada na idéia de que a morte de Bin Laden resgatou a honra do povo,
da nação e dos milhares de vítimas dos ataques às Tôrres Gêmeas, em Nova
Iorque, em 11 de setembro de 2001.
Mais uma vez, os Estados Unidos se vingam dos que ousam
atacar seu território, como haviam feito anteriormente com o Japão, depois de ousado
ataque deste à base naval de Pearl Harbor, no Havaí,em 1941, que resultou na
morte de 2.469 pessoas. Quatro anos depois, lançaram bombas atômicas sobre as cidades
de Hiroshima e Nagasaki, causando 220.000 mortos, sem inclusão nessa
estatística das vítimas posteriores dos efeitos da radiação.
A exibição do “History Channel”, com base em depoimentos do
Presidente Obama e versões da imprensa e de especialistas da área de
inteligência, destacou as dificuldades e o alto risco oferecido pela operação,
desde a própria decisão solitária do Presidente contra 50% de chance de que Bin
Laden, o "Jerônimo", não estivesse no local.
Obama, um democrata,
corria o risco de repetir o fiasco de seu antecessor democrata na Casa Branca,
Bill Clinton, na operação Mogadíscio, com a agravante de ter entre seus
conselheiros a secretaria de Estado Hilary Clinton, mulher de Bill Clinton,
classificou aqueles momentos como os mais longos de sua vida, desde quando teve
sua filha gravemente doente.
Desastrosa foi a “Operação Serpente Gótica” ou primeira
batalha de Mogadíscio, capital da Somália, em 1993, quando os Estados Unidos
enviaram tropas de elite (as “Task Force Ranger”), com apoio de forças
militares da ONU, contra milicianos somalis ligados ao chefe tribal Farrah Aidid.
Teriam morrido 700 somalis e 19 norte-americanos, segundo estatísticas da
época, mas, politicamente, a operação causou prejuízos ao país e marcou
negativamente a gestão de Bill Clinton.
Em sua caminhada para a reeleição, um novo fracasso dos
democratas em operações dessa natureza, com tropas especiais, proporcionaria
aos republicanos uma munição formidável em termos eleitorais. Sem falar nas
repercussões políticas e diplomáticas junto aos países islâmicos aliados do Paquistão,
ainda mais se considerada a inspiração norte-americana nesse tipo de ataque que
tem por protótipo a “operação Entebbe”, de Israel.
Em julho de 1976, tropas de elite de Israel libertaram cerca
de 200 pessoas seqüestradas num avião comercial e levadas para a base de Entebbe,
perto de Kampala, capital da Uganda, país africano, à época submetido ao guante
ditatorial de Idi Amin Dada.
Naquela operação, morreu o comandante do grupo-tarefa,
tenente-coronel Yonatan Netanyahu, irmão do ex-premier Benjamin Netanyahu, mas,
mesmo assim, é considerada a missão de resgate mais complexa e perfeita de
todos os tempos, realizada pela unidade Sayeret Matkal, que se transformou numa
espécie de modelo para treinamento de forças especiais de vários países.
A operação de eliminação de Osama Bin Laden foi mantida em
segredo até o seu desencadeamento, o que impressionou Obama, sabendo que cerca
de 100 pessoas tinham conhecimento de sua realização. A queda de um dos dois
helicópteros com as tropas nas imediações do refúgio de Laden tirou o
elemento-surpresa e quase inviabilizou o êxito da missão. O resto é narrado
pela crônica: Morto, Bin Laden teria sido identificado por exame de DNA e fotos
e seu corpo lançado ao mar, num ritual islâmico.
De tudo que se vê, lê e ouve sobre a história da execução de
Bin Laden, fica uma pergunta: O Paquistão não sabia? Com seu serviço secreto,
seus radares aéreos e seus aviões de combate sofisticados, não perceberam nada
do que iria acontecer ou estava acontecendo, quando até moradores de Abbottabad
acorreram ao local e testemunharam a ação das tropas de elite e sua fuga aérea
para a fronteira do Afeganistão?
Como adverte um provérbio árabe: لا أوكوبيس المنزل قبل اجتماعه مع جيرانكم (“Não ocupes a casa, antes de examinares seus vizinhos).
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